Esta mini-série resgata o sentimento da amizade: revela a força e, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade de um grupo de seres humanos tão heterogêneos, que têm, em comum, o sonho de conseguirem o êxito pleno em suas vidas, o mais urgente possível porque somos, irremediavelmente, efêmeros e, nem mesmo sabemos, por quanto tempo seremos contemplados com a vida terrena.
O tempo não pára...o tempo não pára(já dizia a letra de uma canção de Cazuza) e sempre nos dispara surpresas!
Queridos amigos,
entre mortos e feridos,
estamos aqui novamente reunidos,
após forçados exílios ou auto-exílios consentidos.
Estamos aqui novamente reunidos
por nossa livre vontade,
prestando contas dos nossos destinos,
dos nossos fantasmas covardes ou heróicos
que atravessaram as paredes do Tempo,
distantes e desencontrados,
quase sempre clandestinos,
tentando viajar
por lugares desconhecidos.
Vamos brindar!
a nossa eterna juventude
que mora em cada um de nossos corações
junto com as arraigadas inquietudes.
Vamos, enfim, revelar todos os nossos segredos:
os frutos podres dos poderes
que um dia pensamos ter em nossas mãos,
em nossos pretenciosos dedos
e os raros frutos tenros
que nós realmente colhemos e provamos,
desde as cascas até as sementes.
Vamos mostrar nossos atos covardes, heróicos,
líricos, súblimes, mesquinhos, obcenos, violentos,
pacíficos e abismados.
Vamos!
lúcidos ou embriagados
destilar os nossos venenos e bálsamos.
Vamos, enfim, revelar
as nossas cartas ridículas,
repletas de súplicas de amor;
cartas escritas até à exaustão
até que a caneta ficasse carente de tinta
e a sua pena brilhante
ficasse empalidecida
e, tombasse adormecida,
após o mergulho suícida no tinteiro,
sobre a folha de papel tão fina,
saturada de palavras e segredos do coração,
que mal conseguia o seu peso segurar
e não dispunha de nenhum mata-borrão
para absorver e sufocar os respingos dos ressentimentos.
Vamos jogar as nossas cartas sobre a mesa,
esparramar todas as nossas ansiosas fichas,
todos os os nossos presunçosos blefes,
todos os nossos ilusórios trunfos
e todas as nossas cartas escondidas
nas mangas já encolhidas do tempo.
Assim devemos fazer!
lavar toda a roupa suja:
aquelas primeiras camisas de fio escocês,
aqueles echarpes de seda,
aquelas calças coloridas saint-tropez,
os primeiros jeans desbotados,
aquela blusa de cashemire enxarcada
de pinho silvestre italiano.
Aquelas camisas caras da boutique Candelabro
que jamais sentiram o afago desejado,
o echarpe de seda que ela nunca tirou
com os seus dentes perfeitos do meu pescoço
que tantos torcicolos a sua beleza provocou.
O lindo vidro verde esmeralda
que guardava a essência das florestas,
onde eu escondia os meus primeiros desejos de amor,
gravado em letras douradas teve um fim inesperado:
um dia o atirei com toda a força da minha frustração
contra a parede
e ele todo se despedaçou.
Estilhaços de um jovem e rebelde desabafo.
Vamos revelar!
os nossos atos adolescentes, inúteis e
inconseqüentes.
A raiva, um dia, se apoderou do meu quarto
e o silêncio concentrado
gritou e ecoou em todas os corredores e ambientes,
mas, exausto, sentei sobre a minha cama, adormeci,
sonhei e mais uma vez...
a sua doce lembrança...
me salvou...
e eu despertei como se desperta uma esperança!
( cada dia que passa esta garota
se torna mais linda em minha vida)
quem sabe, um dia, ela sinta
o aroma do meu verdadeiro amor
e que ele, enquanto secreto,
jamais se contamine pela acidez e corrosão do tempo,
Vamos brindar!
a nossa eterna juventude
de cara suja e alma limpa,
vestidos com os nossos velhos jeans,
esfregados em tantas aventuras
e camisas surradas por tantas jornadas
de sol, chuva, suor, risos e lágrimas;
Vamos brindar!
calçados sobre os nossos velhos All Star's
desgastados pelos caminhos
que conseguiram furar
até as suas próprias estrelas,
sem piedade, como se furam os olhos de um pássaro.
Vamos brindar!
queridos amigos
a nossa eterna juventude,
ou melhor, o que dela sobrou;
a juventude que areja as nossas mentes,
que fareja as nossas sementes
lançadas ao sabor dos ventos.
Onde foram parar os ossos sonhos?
Vamos brindar!
queridos amigos
apesar dos perigos eminentes,
do represar das mágoas impertinentes,
do possível estremecimento das relações
já tão ausentes.
Vamos brindar!
a eterna juventude
que mora em nossos corações
e, que mesmo sofrendo o revés,
tantos avisos de despejos,
recorreu à todas as instâncias
e persistentes desejos
para se conservar intacta
e a mais pura possível,mesmo sendo,
aparecendo em rápidos lampejos,
afinal, somos humanos!
não temos sangue de barata
correndo em nossas veias.
Queridos amigos
vamos brindar!
enquanto sentirmos a vida
pulsar e vibrar em nossos peitos,
enquanto tivermos o direito
de contemplar a natureza,
absorver a luz e o calor do Sol;
sentir o mistério e a paz da noite,
enquanto sentirmos a pele de outra pessoa
num abraço sufocado de paixão
ou num simples aperto terno de mão
ou mesmo num aceno
que nada poder prometer.
Queridos amigos!
entre mortos e feridos,
entre flores, pedras e espinhosvamos caminhar juntos,enquanto podemos acompanhar, mesmo entorpecidos,
a direção de nossos próprios destinos
e o paradoxo de nossos extremos.