domingo, 29 de março de 2009

Metamorfose


Hoje eu acordei inseto
algo assim à toa
que voa a esmo
como uma folha
Acordei uma pessoa não pessoa
talvez um parafuso
um intruso
à procura de uma engrenagem
Hoje eu vesti o terno azul marinho de Kafka
e mergulhei a minha cabeça
num chapéu negro de Pessoa
Depois o tirei
e do meu cérebro caiu
uma chuva de ideias
Hoje eu acordei polvo vindo das profundezas
algo assim repleto de tentáculos
moles e escorregadios braços para abraçar
gasosas e sólidas paisagens
Acordei uma imagem arranhada
pelo recente pesadelo
da noite passada
dos sonhos passados...
em que fui outras pessoas...
outros objetos...e talvez
a minha verdadeira identidade!

VOLUBLE

I discovered that I am voluble
that I am soluble
in another one!
I discovered that you is not the only
the robe red
copper my wishes
I have discovered that I have
other means
for me please
I discovered that I am vulnerable
that I am pleasunt in another one!
You wich illuminated many days
and perfumous oneiric many nights
flid of my charms
the storm of my promises
I discovered that I am voluble
that I am soluble in another one!
I will not be hostage
of the past nobody
I only wish the illusion of this present
and the kiss uncertain of the future!

sábado, 28 de março de 2009

Par Perfeito I

Nós

nós formamos realmente

um par perfeito

como se fôssemos

o jeans com a camiseta

o céu com a estrela

o livro com a imaginação

o coração com a razão

o ponto de fuga com a perspectiva

o encontro com a tentativa



Nós

nós formamos realmente

um par perfeito

como se fôssemos

o armário com a gaveta

o segredo com a revelação

o ordenado com a bagunça

o sonho com a realidade



o impulso com a moderação

o ímpeto com a contenção

o salto com a rede

o bálsamo com a ferida

o par perfeito

que aperfeiçoa o imperfeito

e se afeiçoa

tanto ao que é à toa

peçonhento

quanto ao que é essência

imprescindível alimento



Um par perfeito

o vagão com a locomotiva

o encanto do olhar com a paisagem

o verão com a praia

o outono com a reflexão

o jardim com a primavera

o inverno com a lareira

o grito com a liberdade
o lápis com a folha de papel
o papel e a escrita
o pincel e a tela
o esboço e a tinta
o verso e a verdade
o Sol com a Lua
o pecado e a pureza
o frescor e a ardência
o carinho com a pele
o amor e a paixão

O seu olhar e a minha inspiração
o proibido e a transgressão
o caminho e a encruzilhada

Garoto Arredio

Eu me sinto um garoto arredio
do lado interno do gradil
sonhando a rua do outro lado
o mundo ainda que não se sentiu
Eu me sinto um garoto vazio
que procura o curto pavio
para detonar a bomba
e explodir enfim o gradil
e conseguir seguir o cão vadio
sem destino nas ruas
nas calçadas
nos muros pichados por palavras
sinceras e camufladas
um garoto sonha o mundo exterior
o precoce vulto do mundo adulto
e não importa o afago ou o insulto
o garoto maroto quer viver todas as pedras
cravar todos os gravetos
experimentar todas as pétalas e espinhos
sentir todos os aromas
sair da redoma
flutuar sua alma!

quinta-feira, 26 de março de 2009

Imaginário

O que pode o imaginário
tocar uma imagem projetada
ouvir segredos de alguém que não fala
mas só escreve e prepara
situações e cenários?
O que pode o imaginário
formar um mosaico
com pedras gasosas
cacos incendiários
sem pesos aparentes
arremessados por uma tela plana
sem elásticos
em um céu de mentiras nublado
em um pisca-pisca de estrelas?
O que pode o imaginário
revirar os pensamentos
e fazer manifestarmos os nossos inconscientes
e de repente forçar o espatifar
de um copo de cólera
ou revirar um lençol impregnado
de prazeres adormecidos
o que pode o imaginário
transformar um dia ordinário
em algo extraordinário
capaz de competir com um sonho?
O que pode o imaginário
sentir a seda da pele
com a lembrança de um sabor
escondido no baú da infância?
O que pode...pode...pode...
o que sacode a caixa de surpresas
dos nossos pensamentos
o achado por um feliz acaso
ou pela florada de antigas sementes
entrar no fole de um acordeão
e fugir para uma gare de trens
eternos de Londres?
O que pode o imaginário
concentrar a fumaça que devassa
os nossos recônditos desejos
pode trazer os paradoxos
como o longe para perto
o absurdo para o compreenssível
ou fazer do próximo
o deserto de ontem
o teto reversível de um sonho
que foge pelas janelas?
O que pode o imaginário
se não apenas ser mais um passageiro
clandestino do tempo
que não recusa
fuligens e ventos
folhas secas
e pétalas desmanchadas?
O que pode o imaginário
ser enfim um imenso jardim
de probabilidades!

domingo, 8 de março de 2009

Par Perfeito II

Claudia Ariela




Rosseau com Vivaldi,

Escova no cabelo c/ chuva,

sorvete com sucrilhos,

TPM c/ chocolate,

canela com quina de mesa,

dedão com martelo,

decepção c/ ombro,

poesia c/ companhia,

vinho seco e queijo,

feriado e sol !
por Claudia Ariela

PAR IDEAL

Par ideal:
seu corpo e o meu desejo
o seu olhar e a minha inspiração
a sua fantasia e o milagre da mudança da minha realidade
o seu perfume e o meu suspiro
o proibido e a transgressão!


Chet Baker e o trompete,
João e o violão,
Van Gogh e a orelha,
sangue e areia,
Gerry Mulligan e o saxofone,
Billie Holiday e a dor da solidão,
Bob Dylan e as suas extensas e intensas letras,
Vinicius e uma musa sempre refeita,
Kafka e o escaravelho,
cacos e espelhos,
lábios com cerejas,
cérebro e ideias,
sonho e prazer solitário,
pesadelo e dia ordinário!


Bob Dylan com café,
ou com cigarros Camel,
ou com um recente amor,
ou com uma fulminante paixão,
ou apenas com a nua solidão,
ou com a imaginação,
o domínio dos tempos,
a sensação de vijar sempre!
ouvir Bob Dylan e destilar os sentimentos,
experimentar os venenos da revolta,
os licores dos amores embriagantes,
Bob Dylan e a rua deserta
ou o céu encoberto por poemas!

Desencanto

Eleana Pellegrino





Talvez eu esperasse o seu retorno

a réplica

mas eu só me vejo abandono

só me sinto transtorno

um simples adorno

que já não lhe encanta mais!

Talvez eu esperasse a sua volta

a reviravolta que causa alvoroço,

mas eu me vejo apenas caroço

de um fruto que já não lhe apetece mais o paladar!

Eu sou o espinho que não lhe fere mais, baby

Eu sou a pétala que se despreendeu da flor

e virou apenas um detrito

uma vaga lembrança de perfume

um vago som de grito!

sábado, 7 de março de 2009

Conselho

Vá! abra a porta! procure um novo caminho!
Dê um novo rumo à sua vida!
Não hesite! você ainda pode conseguir,
mesmo que pareça que tudo
conspire contra você
Põe o pé prá fora
Não importa o tempo lá fora!
Se estiver chovendo aproveite
e refresque os seus pensamentos!
Se estiver um Sol de rachar
frite os seus miolos
Quem sabe alguma ideia
ainda sobreviva ardente!
Eu sei...eu sei...
você anda perturbado
com tudo que anda lhe acontecendo...
as portas se fechando e rangendo remorsos
as janelas cada vez mais desobedientes
o colchão que já não atura mais o seu esqueleto
a cama que parece ser um gelado túmulo
a escrivaninha que já não suporta mais o peso dos cadernos de poemas
e dos livros amarelecidos,
pálidos pelo tempo!

TABERNA

Eu adoro me refugiar na taberna
esta caverna tão acessível
de portas róseas
imitando a cor do vinho.
Esta caverna escura de paredes úmidas,
imitando as uvas brilhantes e delicadas.
Esta caverna escura
que tem o dom divino de projetar
os desejos mais iluminados!
Eu sento sobre a cadeira
e encosto os meus cotovelos sobre a redonda mesa
e espero a tua inebriante presença!
Será que tú viras pela porta principal
ou pelos fundos
ou mesmo dentro da velha garrafa
de uma generosa safra
que agora vou abrir?

Salve