quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Old Times


Fiquei a ver navios!                                           Montagem
                                                                    Orlando Junior
                                                     http://www.jovem-guarda.com/


são curtos os pavios!
antes de florir os fogos de artifício no céu
ferem as minhas mãos
Fiquei a ver navios!
com tantos arrepios
para lhe encontrar
toda vestida de branco
e ficar mais alva ainda
com a espuma generosa da champanha
derramada sobre a sua pele
que me assanha
Fiquei a ver navios!
Feliz Ano Velho
ele serviu
me existiu!


Carlos Gutierrez

Possibilidades

EU POSSO FICAR CEGO
IGUAL UM CARA APAIXONADO
EU POSSO FICAR ESPERTO
MAIS DO QUE UM OPORTUNISTA MISSIONÁRIO
EU POSSO FICAR BOBO
MAIS DO QUE O BOZO
E ACREDITAR EM DIAS MELHORES
EU POSSO SER CRIANÇA
SEGUIR FORMIGAS E INVENTAR BRINQUEDOS
EU POSSO SER ADOLESCENTE
ALIMENTAR IDEAIS E VOMITAR PESSOAS DITAS NORMAIS
EU POSSO SER ADULTO
VESTIR A CAPA DA RESPONSABILIDADE DA IDADE
E SER O VULTO SEM VONTADE
DE OLHAR A METADE FINAL
EU POSSO SER TANTAS COISAS
TROCAR TANTAS ROUPAS E MÁSCARAS
MAS ÀS VEZES ME SINTO COMPLETAMENTE DESPIDO
ESPRIMIDO NA MASSA QUE PASSA SEM SENTIDO
EU POSSO SER DOCE
IGUAL A VOZ DE PATRICIA MARX
EU POSSO SER AMARGO
TAL QUAL UM UM COPO DE CAMPARI
EU POSSO SER ALEGRE
MAIS QUE O PALHAÇO ARRELIA
EU POSSO SER TRISTE
MAIS DO QUE OS OLHOS DE UM CÃO ABANDONADO
EU POSSO SER TANTAS COISAS
MAS TEM HORAS QUE EU ACHO
QUE EU NÃO SOU NADA
TEM HORAS QUE DÁ UM BRANCO
MAIS DO QUE O TALCO JOHNSON
E EU NESTE NEVOEIRO PERFUMADO
NÃO VEJO NADA...


Carlos Gutierrez

domingo, 27 de dezembro de 2009

Don't Wait

Don't Wait ( tradução livre)

Não espere
nem se desespere
ao abrir a janela do seu quarto
e ver do alto
a paisagem da metrópole
que fere os seus ohos
que adoram ver todas as pessoas e objetos
calmamente
sem a pressa demente da multidão
lá fora
o seu olhar é claro que sempre explora
todos os detalhes
entalhes arquitetônicos
e os recônditos das almas
leves e inocentes
e das penadas e condenadas
irremediavelmente
Não espere
mas não se desesprere
vista a sua jardineira
vá ao encontro das suas amigas borboletas
e perfumadas flores
antes que o beija-flor
não deixe uma sequer para a sua colheita

Carlos Gutierrez

Longe

Poemas Concretos
de
Arnaldo Antunes
Longe
Arnaldo Antunes / Betão Aguiar / Marcelo Jeneci

onde é que eu fui parar?
aonde é esse aqui?
não dá mais pra voltar
por que eu fiquei tão longe?
longe...

onde é esse lugar?
aonde está você?
não pega celular
e a terra está tão longe
longe...

não passa um carro sequer
todo comércio fechou
não tem satélite algum transmitindo notícias de onde eu estou

nenhum email chegou
nem o correio virá
e eu entre quatro paredes sem porta ou janela pro tempo passar

dizem que a vida é assim
cinco sentidos em mim
dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim

aonde está você?
por que é que você foi?
não quero te esquecer
mas já fiquei tão longe
longe...

não dá mais pra voltar
e eu nem me despedi
onde é que eu vim parar?
por que eu fiquei tão longe?
longe...


© Rosa Celeste Editora (Universal) / Zapipa Edições / Setembro Ed. (DC.Consultoria

Confesso que GIBI

Confesso que GIBI
gibi muito
atravessei em claro noites e noites...
confesso que eu gibi
e ainda os procuro em todos os cantos...
ordenados e revirados
bagunçados como o quarto do Zozó
Procuro-os
em bancas de jornais
sebos de verdade
sebos virtuais
e mais onde eu puder procurar...
Quantos deles passaram em minhas mãos?
Quantos deles meus olhos namoraram/
Quantos heróis
vilões
e heroínas fatais
os meus olhos desejaram
Confesso que eu gibi
um jeito que escolhi
para suprir a minha fragilidade...
me espelhar em tiras
em preto e branco
delineadas no fico bico de pena
carregado de negro nanquim
ou ricamente coloridas
como arcos-íris sem fim
Amava e ainda amo
os traços suaves e vigorosos
os contornos delicados de Jane
Patty Pippermint e Diana Palmer
as expressões marcantes
dos heróis e vilões mascarados
os anéis de caveira
as armas de prata
o tropel de cavalos selvagens
Confesso que eu gibi
bebi muito dessas fontes gráficas
dos balões de estórias sem graça
e outras tão profundas e enigmáticas
Confesso que ueu gibi
Já fui o Príncipe Valente
um herói medieval
com toda armadura e metal
Já fui Mandraque
colei um estúpido bigode
e um ridículo cavanhaque
comprei um manual de magia
de araque
na adolescência a gente pensa que consegue o amor
apenas colocando as nossas mãos as cegas
dentro de uma cartola ou fraque que talvez
um escorpião se escondeu...
Confesso que eu gibi
nasci...morri...sobrevivi...
tantas vezes...
com o corpo fechado de um Fantasma
e o coração aberto de Charlie Brown
Confesso que eu me permiti
gastar tanto tempo em gibis...
encher as estantes
de personagens errantes...
trocar alguns doces
para colecionar todos os seus caminhos...


Carlos Gutierrez

sábado, 26 de dezembro de 2009

Pela Rua

Pela rua







Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
solto ao fumo da gasolina queimada.



Ferreira Gullar

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

? ( ou como definir o amor )

Um belo dia, desses que se vê quando o céu não cai, um ser que perdi o nome em meio as memórias me pediu pra definir o amor... eu gargalhei loucamente. "Que tarefa impossível!"
Mas resolvi, então definí-lo, com minhas singelas palavras:

Amor é quando
Quebra,
É quando cai no chão
E a gente cola com super bonder.
É o caminhão de mudança,
Com os armários e camisas.
Com vestidos, a louça chinesa
Cheia de jornal.
É o chuveiro, no verão
Em pleno inverno.
É peixe-vivo, que vive fora
D’água fria, feito carne louca
Em pão francês...
Se servido à mesa, feliz em morte pura.
É cigarro queimando,
Em frente ao ventilador.
É navalha em liqüidificador,
Limão em ensáio de metais e madeiras.
É o giz gritando
Na mão do aluno
À lousa.
É corte de faca no dedo
Que inflama e deixa marca
Pra sempre rever.
É começo de fim...
É alegria de palhaço
No circo que pega fogo
Pra quem gosta
De ver.


Bruna Moraes

Poetry is Risk

Poetry is risk!
verses lines
broad or narrow letters
timid or bold
fluctuating
crawls
dirty sheets of ink
and confessions
Poetry is risk!
is short-circuít
Cris ... cris ... cris ...
causing friction
screams of panic
Hugs strangers
darkness
in light of the flames
cold in the spine
in the heat resounding
Poetry is risk!
terrifies me on ruffler paper
Jewelry by shame
that does not feel pity
of seeping all truths!
Cris ... cris ... cris ...
narrowly
not crashed Crystal at all the charm
amid the flames
the stares of amazement
prevailed
the strength of its presence
as if it was due to a huge
refreshing day warm!
Poetry is risk!
then i venture a poem
record be emblem
and meeting the dilemma
never be able to end!
Poetry is also range!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mochila

O mundo
um dia...
já foi variado!
poderia ir se ao fundo
dele encantado
e ainda assim parecer
ser raso
para os nossos mergulhos
intrépidos e sem prazos.
o mundo
já foi um leque
sedas de paisagens
sólido arco-íris
de terras areias
espumas
flocos de neve
pétalas e espinhos
tecidos
peles lisas e rústicas
carinhosas e selvagens
pedras brutas e buriladas
folhagens
flores rápidas e cáctus.
o mundo um dia...
já foi pitoresco!
deixava os meus olhos surpresos
sob o peso de impactantes imagens
e deixava os meus ouvidos atordoados
pelos sons desvendados pelas palavras.
Eu sonhava acordado
embebido de promessas
e descobertas
mas o tempo...o tempo...
desgasta os olhos
pedem lentes óculos
e voluntários acessos de cegueira
e vertem sólidas lágrimas.
A minha mochila
repousa presa
em prego fincado na parede
enquanto o meu ser cochila
e já não sonha tantas viagens.
O que ficou de mim acordado
é apenas a sombra clandestina
que procura ficar ao seu lado!
A mochila cochila
no prego pendurada
e para o meu assombro
já nem se lembra mais do amparo
dos meus ombros
das nossas jornadas alternadas
em paradas e disparos,
Dentro dessa mochila
couberam tantas aventuras
aromas se misturarram
roupas sujas e lavadas
asas de borboletas
que flagraram nossos beijos
lascas de madeira que gravamos nossos desejos
fotos de lugares emergentes
fotos remorsos de locais decadentes
postais sem mais endereços para viajar.
A mochila vive a agonia de ficar parada
como uma alegoria
cavando as memórias do seu subsolo
A alça já não parece ser mais segura
o ziper emperra
e os botões de pressão
já não tem mais convicção
dos seus beijos metálicos.
Guarda ainda um farolete
cujas pilhas já derreteram
lágrimas enferrujadas
um sabonete que perdeu o seu perfume
um pacote de caramelos
que perdeu a sua doçura e validade.
A mochila cochila
e não sabe se vai despertar!

Carlos Gutierrez

Fulgaz

Você passa rapidamente
como um olhar de relance
Fulgaz
Mas basta só um instante
para acabar com meu gás
Você passa tão depressa
como um out door
mas é capaz
de deixar marcas em minha memória
você é veloz
como um conto
mas nem
lhe conto
como você tem o sabor
de um longo romance!


Carlos Gutierrez

Aflição


Cacos espalhados
De espelhos quebrados
e aqueles retratos
retratos passados
todos ao meu redor
trazendo as mais tristes
e dolorosas lembranças
de quem já perdeu as esperanças
Daqueles retratos
saíam monótonos ruídos
soando em meus ouvidos:
Que tudo estava acabado
- um caso mal resolvido -
Coração magoado
E os mais ousados desejos perdidos
Ironicamente os espelhos refletem
o meu formoso e pálido rosto
A perca pelo gosto do que vejo no oposto
uma pele tão alva selada e marcada
por esta transparente lagrima
que escorre pela face
de uma expressao fascinante
Leve ardente e cicatrizante
como se fosse um sinal
de um coração aflito
penetrando no infinito... da alma!!!


Keila Lorrainy

E...s..f...a...r...e...l...a...r...

ME ESFARELO EM SUAS PÁGINAS
FAÇO DECLARAÇÕES ÁS CLARAS
DEPOIS EU AS APAGO
COM O AFAGO DA BORRACHA
SOBRAM RESÍDUOS
VESTÍGIOS ASSÍDUOS
DE SENTIMENTOS QUE SE PROPAGAM
ME ESFARELO NAS PÁGINAS
DO SEU LIVRO FASCINANTE
QUE PERMITE TANTAS E TANTAS
RELEITURAS
ME ESFARELO
E O MEU SER SE FRAGMENTA
EM ENCANTO OU EM TORMENTA
TUDO EU ABSORVO
COM A FOME DE UM RATO DE SEBO
E NÃO ME CONCEBO
FICAR LONGE DO SEBO
ONDE LHE ENCONTRO E A PERCEBO
COMO O MEU LIVRO DE CABECEIRA
QUE ME ORIENTA
ME FRAGMENTA
E ME UNE
SALVA E PUNE O MEU DESTINO


Carlos Gutierrez

OS OUTROS

OS OUTROS---OS OUTROS...
QUEM SÃO OS OUTROS?
QUE IMPORTA OS OUTROS...
OS ALHEIOS
OS OLHOS NEVOEIROS
OS PENSAMENTOS PREDATÓRIOS...
OS OUTROS...
ESPÚRIOS PURGATÓRIOS
SÓ NÓS DOIS SOMOS OBRIGATÓRIOS
PARA PREENCHEMOS OS NOSSOS SONHOS
SOMOS PROTAGONISTAS
COADJUVANTES
DUBLÊS
FIGURANTES
CENÁRIOS
IMAGENS E DIÁLOGOS
DO NOSSO AMOR...
OS OUTROS QUE FAÇAM FILAS
QUE INVENTEM OS SEUS PRÓPRIOS ROTEIROS


Carlos Gutierrez

domingo, 20 de dezembro de 2009

É Esse Cara!

É esse cara, aquele ali no espelho
tão doce de olhar
cantarolando
Olhe o passo apressado
como ziguezague perdido
Nesse momento segue
ao tapete felpudo dos sonhos
O cara da leveza na voz
entôa cantos de sereia as avessas
o oceano parece ser seu cárcere
é do tamanho de suas baladas de amor
É esse cara!
da pele irresistível
pulando ladrilhos
que arranca com seu conversível
Ele leva na mala pedaços das últimas viagens
É nesse cara!
e só nele que o moleton
tem ar de camurça, uma estampa felina
usada de truque pra florescer o deserto
É esse cara!
que a linguagem ainda não se sabe
e o nome é andarilho.
_ How can i tell you?
Nada se sabe!
esse cara é de um clarão
sem fim,
que mergulha em olhares
enfim.


Desirée Gomes

Sem Você

Eu sem você
sou qual uma estante sem livros
livros sem lombadas
sem orelhas
sem páginas
sem letras
sem conteúdo
sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas página virada
uma frase interrompida
uma emoção contida
um desejo frustrado
um ponto perdido
num parágrafo desviado
Sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas uma tentativa de romance
uma personagem abortada
uma novela sem trama
um conto sem surpresa
um poema sem sentido
um ensaio sobre o fracasso
nada mais
sem você.

Carlos Gutierrez

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Até Mais Ver

Vim te visitar de mãos abanando,
sem um mísero vintém de frase feita,
nenhum tostão poético
mas não pude deixar de bater à sua porta,
pisar na grama verde do seu jardim,
abrir o portão pesado,
ruído pelo tempo
- foi intensamente irresistível,
dizer da noite quente,
do dia cheio,
do prato na mesa.
Não vim trazendo novidades
tão pouco a medida do bonfim,
sei lá, só queria vir
ver de canto, seu canto - cantar.
Foi de súbito, visita breve.
Foi olhar no seu muro,
reprimir a vontade, em vão,
abrir portões,
cheirar as flores,
atravessar suas roupas
e invadir sua alma épica
pra dizer boa noite, noite boa.
Sem cálculos ou demoras.
Farei agora o inverso do caminho.
Até mais ver!


Desirée Gomes

Colcha de Retalhos II

Sabes que eu não posso partir

que eu não posso viver sem ti

que eu sempre te procuro

e, às vezes, me perco no desespero de te encontrar

Esbarro

Atropelo em outras pessoas

me agarro em frágeis galhos prá não cair

Costuro versos aqui e acolá

procuro sonhos diversos

prá mostrar o quanto eu te quero

o quanto eu te espero...

sabes que eu não posso partir!Prefiro o teu silencio

a todos os gritos e sussurros

que possam eclodir sobre os meus caminhos...

às vezes vejo alguém e me confundo

vejo um vulto e me afundo no mar sómbrio...

eu só queria que tú não esquecesses

que eu a amo cada vez mais

que eu não posso viver sem ti jamais

sejam por apelos sentimentais

como um bolero que recupero

dentro de um tango que flerta com o jazz

ou por sentimentos complexos

que espargem reflexos e fantásticas visões

Não quero perder o teu sonho!

Tu és imprescindível ao tempo que eu ainda disponho

como um dedal é vital prá proteger o dedo

na hora da costura

como a linha é essencial para a agulha

que fagulha e se orgulha

quando une a colcha de retalhos

da tua encantadora lembrança!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PORRE

REVERTER O DESTINO
RASGAR AS CORTINAS
ESPATIFAR OS VIDROS
OS CORPOS EMBAÇADOS DA JANELA
TOMADA POR UMA REPENTINA CHUVA
ALCANÇAR O BEIRAL DA VARANDA
COM UM COPO DE WHISKY
REPLETO DE PEDRAS DE GELO
GIRANDO NUMA CIRANDA FRENÉTICA
INVERTER O TEMPO
TORNAR O LAMENTO EM EUFORIA
CAIR NA ALEGRIA DA RUA
ESCAPAR DOS BUEIROS DA MELANCOLIA
BEBER TODOS OS MISTÉRIOS DA NOITE


Carlos Gutierrez

domingo, 13 de dezembro de 2009

Colcha de Retalhos


Sem Assuntos


Sem assuntos sem assuntos
morremos abraçados juntos
Já lemos tantos livros
já vimos tantos filmes
e ouvimos tantas músicas
muitas trocas e pontos de vistas e de fugas
mas parece que agora estamos cansados
um do outro
ou de nós mesmos
e levamos nossos silencios aos extremos
ficamos sem assuntos sem assuntos
esgotou-se a fonte
das águas límpidas
e dos pingos ressentidos de murmúrios
acabaram-se as pedras para lançarmos
no lago dos nossos desejos
que não são tão fortes e hoje pouco claros
perdemos o faro de novos aromas
e a paciência de criarmos novos jardins
Sem assuntos sem assuntos
todas as estórias têm os seus fins
uns trágicos outros mágicos
alguns imprevisíveis
outros tão banais...
e a vida prossegue tão estranha...


Carlos Gutierrez

NUVENS



Nuvens escorrem no céu
limpam estrelas
despem todos os deuses
abrem-se
a todos os olhares
puros ou sórdidos
súlimes ou mórbidos
profundos ou fugazes
Nuvens escorrem do céu
vem refrescar a terra
e esfriar as cabeças quentes
de insanidades


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Passo Rápido

Olho a garota
que flutua pela rua com a bolsa a tiracolo
e penso que é você!
Atravesso
mudo o meu caminho
atropelo sombras postes poses pacotes
e recortes de rostos rápidos
não posso lhe perder
vou ao teu encalço
um passo em falso
pode me jogar ao labirinto
sinto que é a ultima chance
para o amor que eu respiro
enquanto vejo derreter
o asfalto em seu ultimo suspiro
Abre -se um buraco no meio da rua
mas eu pulo o obstáculo
e faço do meu braço
um tentáculo prá agarrar a oportunidade
de declarar a minha paixão
à garota que veio em minha contra-mão
e sigo a minha intuição:Tem que ser você!
Tem que ser você!
prá ordenar a minha multidão!


Carlos Gutierrez

Trajeto


E foram dias,
meses,
rasgando lembranças
e guardando
meticulosamente
o anseio pelo regresso!
sã, reencontro, reencantamento.
Esperava até o momento crítico,
o mais efusivo de todos
para lhe remeter afeições,
seriam poemas, contos, prosa, cartas,
um livro quem sabe feito de papel reciclado
todo escrito em vermelho,
dizendo até onde caminhei passos tétricos,
com trechos de canções censuráveis,
um retrato em branco e preto,
uma gota d'água da última chuva,
um olhar de Dylan.
Livre! Se queres ir,
nada farei,
sem esse silêncio trovador buscarei seu sol,
direi que senti a sua saudade.
Que já não seja tarde demais!


Desirée Gomes

domingo, 6 de dezembro de 2009

Hey Você!


As Sombras

AS SOMBRAS
QUE ASSOMBRAM
AS NUAS LUZES
OS CENÁRIOS DA CIDADE
QUE RECORTAM AO CHÃO
PESSOAS ANIMAIS E ARVORES
AS SOMBRAS
QUE NOS PERSEGUEM
POR TODOS OS LADOS
AS SOMBRAS
QUE PERMANECEM DO PASSADO
E QUE NOS SEGUEM INSISTENTES
NO PRESENTE
E SE PROJETAM NO FUTURO
AS SOMBRAS
ESSES CORREDORES ESCUROS
A SOMBRA DE NÓS MESMOS
A SOMBRA DOS OUTROS
QUE ADORAMOS
QUE ODIAMOS
OU NEM MESMO VEMOS
AS SOMBRAS DOS NOSSOS MEDOS
AS SOMBRAS DA MORTE INEVITÁVEL
QUE NÃO QUEREMOS
MAS TEMOS
QUE NELA NOS RECOLHER
AS SOMBRAS
AS SOBRAS DO QUE PODEMOS AINDA SER
VASCULHO NO BARULHO A SUA VOZ
O TIMBRE CLARO
DISPARO NO ESCURO
OS MEUS OLHOS FALHOS
ME VALHO DAS POUCAS LUZES
QUE ESCAPAM DO BARALHO DAS SOMBRAS
E BLEFO COM O MEU PRÓPRIO DESTINO


Carlos Gutierrez

PERFIL


Perfil
que emerge do rio
ou do lago
como um doce afago
ou uma proposta de suícidio
Perfil
humano chamariz
no espelho d'água
faz refletir
sobre a vida
e a morte!
Nós estamos sempre por um triz
entre elas
debruçados sobre as janelas
líquidas e sólidas!


Carlos Gutierrez

CorrreDOR



Talvez você nunca me veja
nunca me perceba
jamais me cogite
eu serei uma folha ao vento
ou um guardanapo arremessado
sobre o corredor
que um dia os seus passos apressados
por ele hão de passar
sem notar que nele está gravado

um poema já borrado
fragmentado
nas mãos carentes de alguém
talvez...talvez...
o corredor sente horror
de bruscas paradas...


Carlos Gutierrez

Doce Fuga

Há uma possibilidade...
mesmo com toda a velocidade do tempo...
há uma possibilidade...
de lhe encontrar...
mesmo contra toda a fúria do vento...
vou lhe encontrar de algum jeito!
no amargor de um lamento...
na insensatez de um tormento,,,
não importa!
é um encontro...
ou a mais doce fuga!


Carlos Gutierrez

GRITO

GRITO
IRRITO AS CORDAS VOCAIS
MISTURO CONSOANTES
E VOGAIS
PALAVRAS
GRUNHIDOS
GEMIDOS
RUÍDOS
GRITO
O PRAZER
E O AFLITO
O CAOS DA METRÓPOLE
E OS BICHOS RURAIS
GRITO
ATÉ ENCONTRAR
O PERFEITO
SILENCIO
AQUELE QUE PERMITE
QUE A ALMA MEDITE
E DEIXE O CORAÇÃO
BATER EM PAZ!


Carlos Gutierrez

Salve