Na metrópole
contar passos e compassos
salto alto em equilibrio no beco escuro
esperar o enlace na cintura
pisar no impisável.
A ausência tem efeito contrário
não dorme!
olha da janela os ventos altos
mastigando silêncios
costura rajadas de lembranças
ao delírio de quem conta carneiros
Trânsito com contagem regressiva
lastimando um alfabeto esquecido
contudo, organizado ao som de tamancos
e badalos vorazes
estopim marcando a letra da construção
luzes de automóveis riscam a paisagem
e buzinas em repouso
Na varanda um tilintar total que seduz,
um jazz que não é mudez
apresentada com açúcar e morangos
a face descoberta ao anoitecer
recua da trama passional
tomando a cidade as duas mãos,
contrafluxo.
Cortinas fechadas,
o assobio cantarola:
amo a ti em tantas outras faces!
Desirée Gomes
domingo, 29 de novembro de 2009
O POEMA
O POEMA...STIGA AS PALAVRAS
O POEMA...STURBA VERSOS
O POEMA...RTELA O CÉREBRO
O POEMA...CHUCA O CORAÇÃO
O POEMA...NIVELA O PROJETOR DE NOSSOS FILMES
O POEMA...NIFESTA NOSSOS MEDOS E CIÚMES
O POEMA...NIPULA OS NOSSOS DESEJOS
O POEMA...SSACRA AS PALAVRAS NA BIGORNA DA SÍNTESE
O POEMA...LEÓVOLO
O POEMA...CIO DA TERRA
O POEMA...LEÁVEL
O POEMA...PÕE...E...TIRA
POETIZA
Carlos Gutierrez
O POEMA...STURBA VERSOS
O POEMA...RTELA O CÉREBRO
O POEMA...CHUCA O CORAÇÃO
O POEMA...NIVELA O PROJETOR DE NOSSOS FILMES
O POEMA...NIFESTA NOSSOS MEDOS E CIÚMES
O POEMA...NIPULA OS NOSSOS DESEJOS
O POEMA...SSACRA AS PALAVRAS NA BIGORNA DA SÍNTESE
O POEMA...LEÓVOLO
O POEMA...CIO DA TERRA
O POEMA...LEÁVEL
O POEMA...PÕE...E...TIRA
POETIZA
Carlos Gutierrez
Raízes
Raizes
sólidas cicatrizes
encravadas na terra
Raizes
sempre resignadas
sobre a terra seca ou molhada
cumprem silenciosas a sua nobre missão
sustentar uma árvore
fazê-la crescer
florecer
frutificar
primeiro o tronco
o caule
depois as folhas que flutuam nos galhos
para beijá-las após ventos e tempestades
depois os frutos
saborosos e prestimosos
por fim a paisagem
e a coragem de pedir emprestado
os olhos de quem eventualmente a contempla
Carlos Gutierrez
sólidas cicatrizes
encravadas na terra
Raizes
sempre resignadas
sobre a terra seca ou molhada
cumprem silenciosas a sua nobre missão
sustentar uma árvore
fazê-la crescer
florecer
frutificar
primeiro o tronco
o caule
depois as folhas que flutuam nos galhos
para beijá-las após ventos e tempestades
depois os frutos
saborosos e prestimosos
por fim a paisagem
e a coragem de pedir emprestado
os olhos de quem eventualmente a contempla
Carlos Gutierrez
Poetas Cegos
Poetas Cegos
E eram cegos os poetas John Milton e Homero
Poetas cegos!desprovidos
do convencional sentido da visão
Mas mesmo assim fizeram jorrar versos das trevas
Eles só podiam olhar para dentro
na luminosidade de suas almas
Não podiam ver paisagens
árvores flores montanhas riachos
só podiam sentir o vento
o farfalhar das folhas
a pele delicada das pétalas
as protuberâncias das pedras
a água sobre o corpo
ou entornada na garganta para matar a sede
Poetas cegos!
Eles não podiam ver as letras
a caligrafia refinada que oscila
e alivia o peso da alma sobre o papel
Eles desprovidos desse prazer
e do outro consecutivoo produtivo e emotivo ato de ler
podiam apenas deter na memória
o som e o impacto das palavras
que cada frase devora
Eram cegos os poetas John Milton e Homero!
Uma Ilíada conquistada às cegas
na saga de encontrar a luminosidade
nas trevas
Carlos Gutierrez
E eram cegos os poetas John Milton e Homero
Poetas cegos!desprovidos
do convencional sentido da visão
Mas mesmo assim fizeram jorrar versos das trevas
Eles só podiam olhar para dentro
na luminosidade de suas almas
Não podiam ver paisagens
árvores flores montanhas riachos
só podiam sentir o vento
o farfalhar das folhas
a pele delicada das pétalas
as protuberâncias das pedras
a água sobre o corpo
ou entornada na garganta para matar a sede
Poetas cegos!
Eles não podiam ver as letras
a caligrafia refinada que oscila
e alivia o peso da alma sobre o papel
Eles desprovidos desse prazer
e do outro consecutivoo produtivo e emotivo ato de ler
podiam apenas deter na memória
o som e o impacto das palavras
que cada frase devora
Eram cegos os poetas John Milton e Homero!
Uma Ilíada conquistada às cegas
na saga de encontrar a luminosidade
nas trevas
Carlos Gutierrez
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Presságio
Lanna Erthal
enquanto isso não se esqueça
guarde na sua distraída cabeça
a recente lembrança!
Maldito sinal vermelho!
o teatro está longe
o porteiro é obediente
não é como o ator e a atriz
que improvisa o texto
quando dele se esquece
ou mente que esqueceu
como pretexto quando a personagem
não a convenceu
subverte o roteiro
reage ao autor!
daqui a menos de 10 minutos talvez eu enlouqueça
misture todas as coisas em minha cabeça
e perca o sentido das palavras
e passe a achar que a rua é calçada
que a calçada é um poço
e o poço uma fonte de desejos
talvez eu perca a crença
no amor e suas afinidades
e creia piamente que as diferenças
sejam as verdadeiras evidências de fidelidade
mas antes que isto aconteça
apareça no palco Lanna Erthal
com seu poder teatral
com a sua máscara derretida
com sua lágrimas verbais
com os seus risos sarcasticamente naturais
e deixe boquiaberto de queixo caído
esse cara aqui de ar concentrado
de olhar encantado
porque daqui a menos de 10 minutos pode ser que ele enlouqueça
e esqueça que você é uma atriz
e pule cadeiras e cabeças
e lhe ofereça rosas vermelhas
que ele furtou de um jardim...
antes que ele não mais saiba a diferença
entre uma pétala e um espinho...
e pense que o caminho seja um sofá macio
onde possa trafegar os seus pensamentos...
daqui a menos de um minuto você vai se esquecer
enquanto ele estará para sempre na rede
da sua máscara tão sincera!
Carlos Gutierrez
Urbanóides Cruzam o Meu Caminho
Ideia central : Desirée Gomes
Urbanóides cruzam o meu caminho
A cidade cresce
obedece os desígnios da métropole
Abre-se mais uma rua
Quatro esquinas inéditas
a serem disputadas
por prostitutas mendingos
camelôs e pontos de venda de drogas
A cidade cresce
desenfreadamente
e paradoxalmente
o espaço diminui
e mais nos aborrece
com as suas areias movediças
ferros retorcidos
grades vulneráveis
cercas eletricas
cães turbinados
Mais uma rua...nasce já espúria
na fúria do trânsito...
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Eu que sonhava lhe encontrar o mais rápido possível
vejo consternado
que o banco do jardim não mais existe
nem o próprio jardim
nenhuma pétala de lembrança sequer!
Mais uma rua
que se percebe turva
na reta ou na curva
na chuva de lágrimas...
a cidade que prevejo violenta
pelo estampido dos tiros
em seu escuro labirinto
que pressinto agitada
nos acertos de contas
nos desprezos e afrontas
Eu saí de casa há pouco tempo
prá não ficar louco e entediado
só para olhar o teto azul da noite
e contemplar o efeito discreto da opaca lua
e embaralhar as órbitas dos meus olhos
em estrelas
Eu saí de casa...transtornado
nem me lembro se fechei as janelas e as portas
Onde estão as minhas chaves?
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Aguns se vestem sóbrios
com engomados pulsos e colarinhos
outros aparecem maltrapilhos
mostrando os seus rasgos e feridas
Uma pasta negra executiva passa mais depressa
que o seu dono
Um boné renelde foge da cabeça do office boy
um pedaço de lingerie abraça desengonçado uma lata de lixo
um cão cobiça galinhas nuas na máquina de assar frangos
um recorte de notícias superadas
cobrem o corpo de um pedintes
policiais estouram um bingo clandestino
Urbanóides cortam o meu caminho!
Eu saí de casa
calçei o velho tênis
de cadarços largados
línguas de lona seca
estrelas desbotadas
sola quase sem pele de silicone
Onde amor você está?
me responde
Urbanóides cortam o meu caminho!
camuflei o tubo de spray
e procurei o muro possível
mas há tiras por todos os lados
assim como extorsões
de emoções e bens materiais
Bico calado! bico calado!
quero ao menos pichar o seu nome
Estou com fome!
vou entrar aqui mesmo
nesse bar ordinário
Será que há algo para comer
para forrar o estomâgo?
se não tiver
recorro ao meu âmago
amargo e experimento
o fermento cruel do fel do tormento
da selva de pedra
com os seus urbanóides!
Carlos Gutierrez
Tema Original
Urbanóides Cortam Sempre o Meu Caminho
da poetiza Desirée Gomes
Urbanóides cruzam o meu caminho
A cidade cresce
obedece os desígnios da métropole
Abre-se mais uma rua
Quatro esquinas inéditas
a serem disputadas
por prostitutas mendingos
camelôs e pontos de venda de drogas
A cidade cresce
desenfreadamente
e paradoxalmente
o espaço diminui
e mais nos aborrece
com as suas areias movediças
ferros retorcidos
grades vulneráveis
cercas eletricas
cães turbinados
Mais uma rua...nasce já espúria
na fúria do trânsito...
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Eu que sonhava lhe encontrar o mais rápido possível
vejo consternado
que o banco do jardim não mais existe
nem o próprio jardim
nenhuma pétala de lembrança sequer!
Mais uma rua
que se percebe turva
na reta ou na curva
na chuva de lágrimas...
a cidade que prevejo violenta
pelo estampido dos tiros
em seu escuro labirinto
que pressinto agitada
nos acertos de contas
nos desprezos e afrontas
Eu saí de casa há pouco tempo
prá não ficar louco e entediado
só para olhar o teto azul da noite
e contemplar o efeito discreto da opaca lua
e embaralhar as órbitas dos meus olhos
em estrelas
Eu saí de casa...transtornado
nem me lembro se fechei as janelas e as portas
Onde estão as minhas chaves?
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Aguns se vestem sóbrios
com engomados pulsos e colarinhos
outros aparecem maltrapilhos
mostrando os seus rasgos e feridas
Uma pasta negra executiva passa mais depressa
que o seu dono
Um boné renelde foge da cabeça do office boy
um pedaço de lingerie abraça desengonçado uma lata de lixo
um cão cobiça galinhas nuas na máquina de assar frangos
um recorte de notícias superadas
cobrem o corpo de um pedintes
policiais estouram um bingo clandestino
Urbanóides cortam o meu caminho!
Eu saí de casa
calçei o velho tênis
de cadarços largados
línguas de lona seca
estrelas desbotadas
sola quase sem pele de silicone
Onde amor você está?
me responde
Urbanóides cortam o meu caminho!
camuflei o tubo de spray
e procurei o muro possível
mas há tiras por todos os lados
assim como extorsões
de emoções e bens materiais
Bico calado! bico calado!
quero ao menos pichar o seu nome
Estou com fome!
vou entrar aqui mesmo
nesse bar ordinário
Será que há algo para comer
para forrar o estomâgo?
se não tiver
recorro ao meu âmago
amargo e experimento
o fermento cruel do fel do tormento
da selva de pedra
com os seus urbanóides!
Carlos Gutierrez
Tema Original
Urbanóides Cortam Sempre o Meu Caminho
da poetiza Desirée Gomes
sábado, 21 de novembro de 2009
Nuvem
O seu cheiro na minha carne...
Como é grande.
De longe, és menor,
Mas de perto,
És uma nuvem.
É belo, a escala de cinza
No enorme azul.
O movimento das palavras
Parece céu;
Muito claro
Nosso amor inventado...
Remoer as frases soltas
No sofá vermelho.
A clave de sol na janela.
A sinfonia da chuva,
A orquestra da rua
E seus carros, suas ondas.
E você, o maestro majestoso.
Detalhar seu rosto, seus ossos.
Nosso horror, nossos risos.
És uma fonte infinita.
Uma nuvem.
Bruna Moraes
Como é grande.
De longe, és menor,
Mas de perto,
És uma nuvem.
É belo, a escala de cinza
No enorme azul.
O movimento das palavras
Parece céu;
Muito claro
Nosso amor inventado...
Remoer as frases soltas
No sofá vermelho.
A clave de sol na janela.
A sinfonia da chuva,
A orquestra da rua
E seus carros, suas ondas.
E você, o maestro majestoso.
Detalhar seu rosto, seus ossos.
Nosso horror, nossos risos.
És uma fonte infinita.
Uma nuvem.
Bruna Moraes
Depois da Tempestade
Galhos destroçados
folhas recortadas
dispersas
flores amarrotadas
gotas sólidas de pólen espalhadas
do que foram árvores
línguas de sapatos
separados de suas solas
asas descoladas de borboletas e pássaros
pêlos de cães flutuando no ar...
silencio de cigarras
consternadas pelos ventos insensíveis
Depois do temporal
da tempestade
todos os detritos
e gritos de pânico
e os aparelhos elétricos e eletrônicos
comprometidos
e a lembrança dos raios e trovões
ainda gritando em meus ouvidos...
Depois da tempestade
as ruas após lavarem as suas almas
estão prontas novamente
para receber mais detritos
toda sorte de fumaça
gases de veículos apressados
outras folhas outras pétalas
que se perderam das flores
se desgarraram das árvores
depois da tempestade
o tempo volta á normalidade
morno e sem remorsos na claridade
e a cidade quase seca
enxuga as últimas lágrimas
depois da tempestade!
Carlos Gutierrez
folhas recortadas
dispersas
flores amarrotadas
gotas sólidas de pólen espalhadas
do que foram árvores
línguas de sapatos
separados de suas solas
asas descoladas de borboletas e pássaros
pêlos de cães flutuando no ar...
silencio de cigarras
consternadas pelos ventos insensíveis
Depois do temporal
da tempestade
todos os detritos
e gritos de pânico
e os aparelhos elétricos e eletrônicos
comprometidos
e a lembrança dos raios e trovões
ainda gritando em meus ouvidos...
Depois da tempestade
as ruas após lavarem as suas almas
estão prontas novamente
para receber mais detritos
toda sorte de fumaça
gases de veículos apressados
outras folhas outras pétalas
que se perderam das flores
se desgarraram das árvores
depois da tempestade
o tempo volta á normalidade
morno e sem remorsos na claridade
e a cidade quase seca
enxuga as últimas lágrimas
depois da tempestade!
Carlos Gutierrez
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
BEIJOSEMÂNTICOS
Sejam brandos ou efusivos,
beijos apenas
aportoados em seus lábios,
cereja ou azeviche?
No asfalto macio correm os segredos
à soprarem aos ouvidos
os temores tentadores
arrematando fusíveis noturnos
Liberta os olhos do aro e lentes escuras,
a imagem nitidamente embaçada
ofusca as matizes da corrente inebriante,
choque, rosa-choque
Mais um drink e cinzeiro!
Restam palavras a serem digeridas.
A noite continua a balbuciar
vermelho a cada passo
um Old Fashion se expõe
ao rastro postulado por dizeres
De fato! De modo!
De forma ao corpo transceder
a moldura repreensora
supondo infiltrar muros cativos.
Não precisa de muito para rir,
junto a bagagem
estão também os beijos efusivos
O andarilho guarda-os ao lado
dos segredos apressados,
caminha no asfalto sórdido,
tão longe em sua saudade
ancora em seus lábios multi-tonalizados
e deleita
brando ou efusivo,
beijo apenas
entre todos beijosemânticos!
Desirée Gomes
beijos apenas
aportoados em seus lábios,
cereja ou azeviche?
No asfalto macio correm os segredos
à soprarem aos ouvidos
os temores tentadores
arrematando fusíveis noturnos
Liberta os olhos do aro e lentes escuras,
a imagem nitidamente embaçada
ofusca as matizes da corrente inebriante,
choque, rosa-choque
Mais um drink e cinzeiro!
Restam palavras a serem digeridas.
A noite continua a balbuciar
vermelho a cada passo
um Old Fashion se expõe
ao rastro postulado por dizeres
De fato! De modo!
De forma ao corpo transceder
a moldura repreensora
supondo infiltrar muros cativos.
Não precisa de muito para rir,
junto a bagagem
estão também os beijos efusivos
O andarilho guarda-os ao lado
dos segredos apressados,
caminha no asfalto sórdido,
tão longe em sua saudade
ancora em seus lábios multi-tonalizados
e deleita
brando ou efusivo,
beijo apenas
entre todos beijosemânticos!
Desirée Gomes
Desencontro
Eu não posso ser seu
você não pode ser minha
mas e esse frio na espinha
que nos acometeu
e que adivinha o que nos faz tremer?
Cruel é saber
que não podemos viver
o mesmo tempo
e que nossos pensamentos
apesar de serem os mesmos
flutuam em ventos diferentes
eu não posso ser seu
você não pode ser minha
entre a pipa e o carretel
existe a linha partida
o cerol de sol
que corta as nossas noites
de vigílias.
Eu não posso ser seu
você não pode ser minha
quando eu sou verso
você já é poesia!
Carlos Gutierrez
você não pode ser minha
mas e esse frio na espinha
que nos acometeu
e que adivinha o que nos faz tremer?
Cruel é saber
que não podemos viver
o mesmo tempo
e que nossos pensamentos
apesar de serem os mesmos
flutuam em ventos diferentes
eu não posso ser seu
você não pode ser minha
entre a pipa e o carretel
existe a linha partida
o cerol de sol
que corta as nossas noites
de vigílias.
Eu não posso ser seu
você não pode ser minha
quando eu sou verso
você já é poesia!
Carlos Gutierrez
Prego Parafuso
A saudade é prego parafuso
Estou confuso!
com essa engrenagem do tempo!
O tumulto das horas pacientes e inquietas
Eu giro o parafuso no sentido horário
para caminhar ao lado do seu presente
depois giro ao contrário
para saber o que restou do passado
Eu prego a sua imagem na parede
vermelha gelatinosa do meu coração
Eu prego com o martelo e esfacelo os meus dedos
amassados pelo medo de não cometerem
os devidos carinhos
A saudade é prego parafuso
Finca!Corrói!
e se torna infusão
regeneração
platina nos ossos
paixão no sangue
ternura que se expande
por todos sentidos
que respondem
aos apelos de vida
lá fora!
Carlos Gutierrez
Estou confuso!
com essa engrenagem do tempo!
O tumulto das horas pacientes e inquietas
Eu giro o parafuso no sentido horário
para caminhar ao lado do seu presente
depois giro ao contrário
para saber o que restou do passado
Eu prego a sua imagem na parede
vermelha gelatinosa do meu coração
Eu prego com o martelo e esfacelo os meus dedos
amassados pelo medo de não cometerem
os devidos carinhos
A saudade é prego parafuso
Finca!Corrói!
e se torna infusão
regeneração
platina nos ossos
paixão no sangue
ternura que se expande
por todos sentidos
que respondem
aos apelos de vida
lá fora!
Carlos Gutierrez
O OUTRO
Eu sou o outro
o inesperado
o tapa-buraco
posso ser chamado de acaso
de atraso
o outro
com mínimo prazo de validade
o outro...o outro...o que não é verdade
doce mentira
porre preparado
nas horas sóbrias
nas sobras de loucos desejos
eu sou o outro...o outro...o outro...
o que não foi líquido beijo
apenas gasoso desejo
que evaporou na solidez do seu desprezo!
Carlos Gutierrez
o inesperado
o tapa-buraco
posso ser chamado de acaso
de atraso
o outro
com mínimo prazo de validade
o outro...o outro...o que não é verdade
doce mentira
porre preparado
nas horas sóbrias
nas sobras de loucos desejos
eu sou o outro...o outro...o outro...
o que não foi líquido beijo
apenas gasoso desejo
que evaporou na solidez do seu desprezo!
Carlos Gutierrez
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
ADAPTÁVEIS
ESTOU CANSADO HOJE
VAMOS NOS SENTAR
NESSA CADEIRA SEM PERNAS
NESSA ALMOFADA DE PEDRA
NESSE TAPETE REPLETO DE ALFINETES
AFINAL SOMOS ADAPTÁVEIS
MAIS DO QUE A PILHA DE COPOS DESCARTÁVEIS
DO COPO DE TRISTES IGUAIS COTONETES
VAMOS ROLAR NO TOBOGÃ CRAVADO DE GILETES
VAMOS DEIXAR QUE O DESTINO
ESCOLHA AS NOSSAS TATUAGENS
UM TRABALHO A MENOS
PARA FAZERMOS MAIS BOBAGENS
ESTOU CANSADO HOJE
ENTÃO TROQUE A MAQUIAGEM
VIRE O DISCO !
SOPRE O CISCO DO MEU OLHO
PRÁ EU LHE VER MELHOR!
Carlos Gutierrez
VAMOS NOS SENTAR
NESSA CADEIRA SEM PERNAS
NESSA ALMOFADA DE PEDRA
NESSE TAPETE REPLETO DE ALFINETES
AFINAL SOMOS ADAPTÁVEIS
MAIS DO QUE A PILHA DE COPOS DESCARTÁVEIS
DO COPO DE TRISTES IGUAIS COTONETES
VAMOS ROLAR NO TOBOGÃ CRAVADO DE GILETES
VAMOS DEIXAR QUE O DESTINO
ESCOLHA AS NOSSAS TATUAGENS
UM TRABALHO A MENOS
PARA FAZERMOS MAIS BOBAGENS
ESTOU CANSADO HOJE
ENTÃO TROQUE A MAQUIAGEM
VIRE O DISCO !
SOPRE O CISCO DO MEU OLHO
PRÁ EU LHE VER MELHOR!
Carlos Gutierrez
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
VICITUDES
Gosto dos seus vícios
e virtudes
Tudo que até hoje
eu pude
absorver de você
Seu jeito natural de ser
seu jeito Pagu e pagão
frenesi e paixão de viver
Seu cabelo solto e revolto
ou preso num chapéu coco
O seu coração de maçã
e todas as nuances do seu humor
nem sempre rude
nem sempre sarcástico
nem sempre ácido
às vezes pateta
às vezes singelo
às vezes plácido
humor com rumor
de lágrima infantil
hostil
a quem tem pressa
de apagar as velas
e devorar o bolo da festa
Gosto de você
de qualquer forma
com ou sem norma
sem bulas
e com todos os efeitos
colaterais
Gosto porque gosto de você
fora ou dentro da moda
com gim ou com soda
simples ou excêntrica
fugitiva ou excessiva
você não peca
por ser única
você é múltipla
muitas
todas
intelecta
sapeca
sofisticada
fada
bruxinha
sensível
poetiza
profeta
sonhadora
cientista
estrela
roteirista
mágica
trapezista
anarquista
domadora de feras
partner corajosa
protagonista
sem arrogâncias
Gosto da sua pele
que se viciou em um perfume
escondido no bistrô
Gosto dos seus lábios
dominados
pelo licor de framboezas
e pelo turco tabaco
Gosto dos seus olhos!
neles eu estou viciado
Gosto de acordar assustado
com o empurrão
na claraboia do sonho
que eu tive ao seu lado!
Carlos Gutierrez
e virtudes
Tudo que até hoje
eu pude
absorver de você
Seu jeito natural de ser
seu jeito Pagu e pagão
frenesi e paixão de viver
Seu cabelo solto e revolto
ou preso num chapéu coco
O seu coração de maçã
e todas as nuances do seu humor
nem sempre rude
nem sempre sarcástico
nem sempre ácido
às vezes pateta
às vezes singelo
às vezes plácido
humor com rumor
de lágrima infantil
hostil
a quem tem pressa
de apagar as velas
e devorar o bolo da festa
Gosto de você
de qualquer forma
com ou sem norma
sem bulas
e com todos os efeitos
colaterais
Gosto porque gosto de você
fora ou dentro da moda
com gim ou com soda
simples ou excêntrica
fugitiva ou excessiva
você não peca
por ser única
você é múltipla
muitas
todas
intelecta
sapeca
sofisticada
fada
bruxinha
sensível
poetiza
profeta
sonhadora
cientista
estrela
roteirista
mágica
trapezista
anarquista
domadora de feras
partner corajosa
protagonista
sem arrogâncias
Gosto da sua pele
que se viciou em um perfume
escondido no bistrô
Gosto dos seus lábios
dominados
pelo licor de framboezas
e pelo turco tabaco
Gosto dos seus olhos!
neles eu estou viciado
Gosto de acordar assustado
com o empurrão
na claraboia do sonho
que eu tive ao seu lado!
Carlos Gutierrez
domingo, 15 de novembro de 2009
Lágrimas de Crocodilo
Giorgio De Chirico
Arrigo Barnabé
ele dissecou a metrópole
as ruas nuas
as ruas repletas
as ruas
que são as veias cinzas de cidade
Ele libertou feras
empurrou sarjetas
contemplou bebâdos
respeitou prostitutas
olhou com carinho
os olhos vermelhos da cidade
em chamas de desejos
e enxugou as lágrimas de crocodilo
Eu estava só
com medo
e de repente
me senti com toda a coragem do mundo
e saí tresloucadamente
à sua procura
só você é capaz de entender a minha lucidez
e a minha loucura
é porisso que eu lhe amo tanto
nas ruas claras
ou nos becos escuros
então um pardal
abandona o seu grupo
e sonha rouxinol
e a cidade já não é mais oculta!
como é bom lhe reencontrar
cortar quarteirões
pular os muros
e chegar mais rápido
em seus braços!
Carlos Gutierrez
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Roteiro poético
Evelyn ( "Penny")
Acorda de manhãProcura o que vestir
Já sabe aonde ir
(aonde eu nunca quis te levar)
O inverno está aí
Ele vem te buscar
Ele te faz sorrir
Mas veste algo quente que o frio vai chegar
Desligue o rádio e a TV
Porque em teu Domingo eu vou aparecer
Vai ser melhor assim
o seu poder sobre mim
Ostenta ser feliz
Tudo que eu sempre quis
Mas melhor se cuidar
Com toda a tristeza que eu posso te levar
E é só pra te devolver
Lembres que é caro me esquecer
Barato pra ti
Não tente me esquecer, porque eu não vou deixar
Volte pra casa, vai chover
Porque eu fiz teu Domingo desaparecer
E, nem querendo, vais viver longe de mim
Se eu te disser que eu não vou mais voltar
(Você irá me procurar?)
Se eu te disser que eu não vou acordar
(Com quem tu irás sonhar?)
Se eu te disser que eu não vou mais mentir
Não vá acreditar...
Decore o roteiro poético
mas se não conseguir
improvise um beijo apaixonado!
Evelyn ("Penny")
Contemplo o Tempo
Fátima Queiroz
tenho todo o tempo
para isto e nisto
insisto sinistro
em deixar passar as horas
Olhar o amplo relógio
feito de luzes e sombras
o relógio que devora todas as cores
o relógio onde fogem amores impossíveis
o relógio que explora a paciência
que desperta com carícias ou gestos rudes
que fica obediente no criado mudo
ou se revolta estridente
e é arremessado sem piedade em uma parede
Contemplo o tempo
Esqueço a minha idade
indiferente à minha pressa
e aos meus lamentos...
O tempo...o tempo...
o vento suícida do momento!
tic tac tic tac tic tac tic tac
até o fatal ataque dos nervos
tic tac tic tac tic tac toc tac
ataque cardíaco
atac tic tac tic tac tic tac tic
Carlos Gutierrez
sábado, 7 de novembro de 2009
Enxertos
Marc Chagall
estão espalhadas em todos os cômodos
em toda mobília
em todas as janelas que flertam
a sua imagem
As suas impressões virtuais
estão impregnadas sobre toda a tela
com as suas múltiplas janelas azuis
As suas impressões estão disseminadas
dentro de mim
em visões sem fim
que percorrem a minha alma
estão enxertadas enfim
cada gota de tinta que respinga
da minha caneta forma a sua imagem
cada gota de sangue
no desleixo de atos simples
como descascar uma fruta
ou fazer a barba
forma a sua imagem
Não é loucura
Não é bobagem
É procura
É viagem
E encontro!
É um enxerto de encantos!
Carlos Gutierrez
´
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
HILDA HILST
Paulistana de Jaú, nascida no dia 21 de abril de 1930 e falecida a 4 de fevereiro de 2004, Hilda Hilst é reconhecida, quase pela unanimidade da crítica brasileira, como uma das nossas principais autoras, sendo consideradas uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa do século XX. Segundo o crítico Anatol Rosenfeld, “Hilda pertence ao raro grupo de artistas que conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários que se propôs - poesia, teatro e ficção”.
Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade
III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer
IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.
DA NOITE
III
Vem dos vales a voz. Do poço.
Dos penhascos. Vem funda e fria
Amolecida e terna, anêmonas que vi:
Corfu. No mar Egeu. Em Creta.
Vem revestida às vezes de aspereza
Vem com brilhos de dor e madrepérola
Mas ressoa cruel e abjeta
Se me proponho ouvir. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.
IV
Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.
V
Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.
VI
O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.
O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.
Hilda Hilst
Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.
I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade
III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer
IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?
Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.
DA NOITE
III
Vem dos vales a voz. Do poço.
Dos penhascos. Vem funda e fria
Amolecida e terna, anêmonas que vi:
Corfu. No mar Egeu. Em Creta.
Vem revestida às vezes de aspereza
Vem com brilhos de dor e madrepérola
Mas ressoa cruel e abjeta
Se me proponho ouvir. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.
IV
Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.
V
Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.
VI
O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.
O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.
Hilda Hilst
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