sábado, 8 de março de 2008

Realejo

Há quanto tempo...
eu não vejo mais um realejo.
Há quanto tempo..
eu não ouço o seu som envolvente
que vem do encanto
do manejo da mão
sobre a singela manivela
de alguém que leva a sorte
para os outros...
com o seu periquito guardião
dos bilhetes coloridos
tão esperados...
que destravam portinholas,
janelas e corações.
Há quanto tempo...
eu não vejo mais um realejo
percorrer as ruas,
distribuindo esperanças
aos velhos, moços e crianças,
prometendo realizar todos os seus desejos.
Hoje o tempo é tão corrido...
o espaço tão perversamente estreito...
os passos são tão rápidos...
os medos tão transparentes...
os atos violentos tão flagrantes
que até assustam
os periquitos sempre inocentes
e, supostamente, falantes.
Eles não podem mais pousar
sobre as caixas de bilhetes,
simetricamente, dispostos,
picotando-os,docilmente,
com os seus bicos tão sensíveis.
O realejo
virou apenas um molejo
desgastado na memória
e só aparece...
em fugazes relâmpagos
em breves lampejos
de saudades de outrora.

Um comentário:

Unknown disse...

lindo
=D

adorei... vou add no meu blog
Beijo

Salve