quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Old Times


Fiquei a ver navios!                                           Montagem
                                                                    Orlando Junior
                                                     http://www.jovem-guarda.com/


são curtos os pavios!
antes de florir os fogos de artifício no céu
ferem as minhas mãos
Fiquei a ver navios!
com tantos arrepios
para lhe encontrar
toda vestida de branco
e ficar mais alva ainda
com a espuma generosa da champanha
derramada sobre a sua pele
que me assanha
Fiquei a ver navios!
Feliz Ano Velho
ele serviu
me existiu!


Carlos Gutierrez

Possibilidades

EU POSSO FICAR CEGO
IGUAL UM CARA APAIXONADO
EU POSSO FICAR ESPERTO
MAIS DO QUE UM OPORTUNISTA MISSIONÁRIO
EU POSSO FICAR BOBO
MAIS DO QUE O BOZO
E ACREDITAR EM DIAS MELHORES
EU POSSO SER CRIANÇA
SEGUIR FORMIGAS E INVENTAR BRINQUEDOS
EU POSSO SER ADOLESCENTE
ALIMENTAR IDEAIS E VOMITAR PESSOAS DITAS NORMAIS
EU POSSO SER ADULTO
VESTIR A CAPA DA RESPONSABILIDADE DA IDADE
E SER O VULTO SEM VONTADE
DE OLHAR A METADE FINAL
EU POSSO SER TANTAS COISAS
TROCAR TANTAS ROUPAS E MÁSCARAS
MAS ÀS VEZES ME SINTO COMPLETAMENTE DESPIDO
ESPRIMIDO NA MASSA QUE PASSA SEM SENTIDO
EU POSSO SER DOCE
IGUAL A VOZ DE PATRICIA MARX
EU POSSO SER AMARGO
TAL QUAL UM UM COPO DE CAMPARI
EU POSSO SER ALEGRE
MAIS QUE O PALHAÇO ARRELIA
EU POSSO SER TRISTE
MAIS DO QUE OS OLHOS DE UM CÃO ABANDONADO
EU POSSO SER TANTAS COISAS
MAS TEM HORAS QUE EU ACHO
QUE EU NÃO SOU NADA
TEM HORAS QUE DÁ UM BRANCO
MAIS DO QUE O TALCO JOHNSON
E EU NESTE NEVOEIRO PERFUMADO
NÃO VEJO NADA...


Carlos Gutierrez

domingo, 27 de dezembro de 2009

Don't Wait

Don't Wait ( tradução livre)

Não espere
nem se desespere
ao abrir a janela do seu quarto
e ver do alto
a paisagem da metrópole
que fere os seus ohos
que adoram ver todas as pessoas e objetos
calmamente
sem a pressa demente da multidão
lá fora
o seu olhar é claro que sempre explora
todos os detalhes
entalhes arquitetônicos
e os recônditos das almas
leves e inocentes
e das penadas e condenadas
irremediavelmente
Não espere
mas não se desesprere
vista a sua jardineira
vá ao encontro das suas amigas borboletas
e perfumadas flores
antes que o beija-flor
não deixe uma sequer para a sua colheita

Carlos Gutierrez

Longe

Poemas Concretos
de
Arnaldo Antunes
Longe
Arnaldo Antunes / Betão Aguiar / Marcelo Jeneci

onde é que eu fui parar?
aonde é esse aqui?
não dá mais pra voltar
por que eu fiquei tão longe?
longe...

onde é esse lugar?
aonde está você?
não pega celular
e a terra está tão longe
longe...

não passa um carro sequer
todo comércio fechou
não tem satélite algum transmitindo notícias de onde eu estou

nenhum email chegou
nem o correio virá
e eu entre quatro paredes sem porta ou janela pro tempo passar

dizem que a vida é assim
cinco sentidos em mim
dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim

aonde está você?
por que é que você foi?
não quero te esquecer
mas já fiquei tão longe
longe...

não dá mais pra voltar
e eu nem me despedi
onde é que eu vim parar?
por que eu fiquei tão longe?
longe...


© Rosa Celeste Editora (Universal) / Zapipa Edições / Setembro Ed. (DC.Consultoria

Confesso que GIBI

Confesso que GIBI
gibi muito
atravessei em claro noites e noites...
confesso que eu gibi
e ainda os procuro em todos os cantos...
ordenados e revirados
bagunçados como o quarto do Zozó
Procuro-os
em bancas de jornais
sebos de verdade
sebos virtuais
e mais onde eu puder procurar...
Quantos deles passaram em minhas mãos?
Quantos deles meus olhos namoraram/
Quantos heróis
vilões
e heroínas fatais
os meus olhos desejaram
Confesso que eu gibi
um jeito que escolhi
para suprir a minha fragilidade...
me espelhar em tiras
em preto e branco
delineadas no fico bico de pena
carregado de negro nanquim
ou ricamente coloridas
como arcos-íris sem fim
Amava e ainda amo
os traços suaves e vigorosos
os contornos delicados de Jane
Patty Pippermint e Diana Palmer
as expressões marcantes
dos heróis e vilões mascarados
os anéis de caveira
as armas de prata
o tropel de cavalos selvagens
Confesso que eu gibi
bebi muito dessas fontes gráficas
dos balões de estórias sem graça
e outras tão profundas e enigmáticas
Confesso que ueu gibi
Já fui o Príncipe Valente
um herói medieval
com toda armadura e metal
Já fui Mandraque
colei um estúpido bigode
e um ridículo cavanhaque
comprei um manual de magia
de araque
na adolescência a gente pensa que consegue o amor
apenas colocando as nossas mãos as cegas
dentro de uma cartola ou fraque que talvez
um escorpião se escondeu...
Confesso que eu gibi
nasci...morri...sobrevivi...
tantas vezes...
com o corpo fechado de um Fantasma
e o coração aberto de Charlie Brown
Confesso que eu me permiti
gastar tanto tempo em gibis...
encher as estantes
de personagens errantes...
trocar alguns doces
para colecionar todos os seus caminhos...


Carlos Gutierrez

sábado, 26 de dezembro de 2009

Pela Rua

Pela rua







Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
solto ao fumo da gasolina queimada.



Ferreira Gullar

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

? ( ou como definir o amor )

Um belo dia, desses que se vê quando o céu não cai, um ser que perdi o nome em meio as memórias me pediu pra definir o amor... eu gargalhei loucamente. "Que tarefa impossível!"
Mas resolvi, então definí-lo, com minhas singelas palavras:

Amor é quando
Quebra,
É quando cai no chão
E a gente cola com super bonder.
É o caminhão de mudança,
Com os armários e camisas.
Com vestidos, a louça chinesa
Cheia de jornal.
É o chuveiro, no verão
Em pleno inverno.
É peixe-vivo, que vive fora
D’água fria, feito carne louca
Em pão francês...
Se servido à mesa, feliz em morte pura.
É cigarro queimando,
Em frente ao ventilador.
É navalha em liqüidificador,
Limão em ensáio de metais e madeiras.
É o giz gritando
Na mão do aluno
À lousa.
É corte de faca no dedo
Que inflama e deixa marca
Pra sempre rever.
É começo de fim...
É alegria de palhaço
No circo que pega fogo
Pra quem gosta
De ver.


Bruna Moraes

Poetry is Risk

Poetry is risk!
verses lines
broad or narrow letters
timid or bold
fluctuating
crawls
dirty sheets of ink
and confessions
Poetry is risk!
is short-circuít
Cris ... cris ... cris ...
causing friction
screams of panic
Hugs strangers
darkness
in light of the flames
cold in the spine
in the heat resounding
Poetry is risk!
terrifies me on ruffler paper
Jewelry by shame
that does not feel pity
of seeping all truths!
Cris ... cris ... cris ...
narrowly
not crashed Crystal at all the charm
amid the flames
the stares of amazement
prevailed
the strength of its presence
as if it was due to a huge
refreshing day warm!
Poetry is risk!
then i venture a poem
record be emblem
and meeting the dilemma
never be able to end!
Poetry is also range!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mochila

O mundo
um dia...
já foi variado!
poderia ir se ao fundo
dele encantado
e ainda assim parecer
ser raso
para os nossos mergulhos
intrépidos e sem prazos.
o mundo
já foi um leque
sedas de paisagens
sólido arco-íris
de terras areias
espumas
flocos de neve
pétalas e espinhos
tecidos
peles lisas e rústicas
carinhosas e selvagens
pedras brutas e buriladas
folhagens
flores rápidas e cáctus.
o mundo um dia...
já foi pitoresco!
deixava os meus olhos surpresos
sob o peso de impactantes imagens
e deixava os meus ouvidos atordoados
pelos sons desvendados pelas palavras.
Eu sonhava acordado
embebido de promessas
e descobertas
mas o tempo...o tempo...
desgasta os olhos
pedem lentes óculos
e voluntários acessos de cegueira
e vertem sólidas lágrimas.
A minha mochila
repousa presa
em prego fincado na parede
enquanto o meu ser cochila
e já não sonha tantas viagens.
O que ficou de mim acordado
é apenas a sombra clandestina
que procura ficar ao seu lado!
A mochila cochila
no prego pendurada
e para o meu assombro
já nem se lembra mais do amparo
dos meus ombros
das nossas jornadas alternadas
em paradas e disparos,
Dentro dessa mochila
couberam tantas aventuras
aromas se misturarram
roupas sujas e lavadas
asas de borboletas
que flagraram nossos beijos
lascas de madeira que gravamos nossos desejos
fotos de lugares emergentes
fotos remorsos de locais decadentes
postais sem mais endereços para viajar.
A mochila vive a agonia de ficar parada
como uma alegoria
cavando as memórias do seu subsolo
A alça já não parece ser mais segura
o ziper emperra
e os botões de pressão
já não tem mais convicção
dos seus beijos metálicos.
Guarda ainda um farolete
cujas pilhas já derreteram
lágrimas enferrujadas
um sabonete que perdeu o seu perfume
um pacote de caramelos
que perdeu a sua doçura e validade.
A mochila cochila
e não sabe se vai despertar!

Carlos Gutierrez

Fulgaz

Você passa rapidamente
como um olhar de relance
Fulgaz
Mas basta só um instante
para acabar com meu gás
Você passa tão depressa
como um out door
mas é capaz
de deixar marcas em minha memória
você é veloz
como um conto
mas nem
lhe conto
como você tem o sabor
de um longo romance!


Carlos Gutierrez

Aflição


Cacos espalhados
De espelhos quebrados
e aqueles retratos
retratos passados
todos ao meu redor
trazendo as mais tristes
e dolorosas lembranças
de quem já perdeu as esperanças
Daqueles retratos
saíam monótonos ruídos
soando em meus ouvidos:
Que tudo estava acabado
- um caso mal resolvido -
Coração magoado
E os mais ousados desejos perdidos
Ironicamente os espelhos refletem
o meu formoso e pálido rosto
A perca pelo gosto do que vejo no oposto
uma pele tão alva selada e marcada
por esta transparente lagrima
que escorre pela face
de uma expressao fascinante
Leve ardente e cicatrizante
como se fosse um sinal
de um coração aflito
penetrando no infinito... da alma!!!


Keila Lorrainy

E...s..f...a...r...e...l...a...r...

ME ESFARELO EM SUAS PÁGINAS
FAÇO DECLARAÇÕES ÁS CLARAS
DEPOIS EU AS APAGO
COM O AFAGO DA BORRACHA
SOBRAM RESÍDUOS
VESTÍGIOS ASSÍDUOS
DE SENTIMENTOS QUE SE PROPAGAM
ME ESFARELO NAS PÁGINAS
DO SEU LIVRO FASCINANTE
QUE PERMITE TANTAS E TANTAS
RELEITURAS
ME ESFARELO
E O MEU SER SE FRAGMENTA
EM ENCANTO OU EM TORMENTA
TUDO EU ABSORVO
COM A FOME DE UM RATO DE SEBO
E NÃO ME CONCEBO
FICAR LONGE DO SEBO
ONDE LHE ENCONTRO E A PERCEBO
COMO O MEU LIVRO DE CABECEIRA
QUE ME ORIENTA
ME FRAGMENTA
E ME UNE
SALVA E PUNE O MEU DESTINO


Carlos Gutierrez

OS OUTROS

OS OUTROS---OS OUTROS...
QUEM SÃO OS OUTROS?
QUE IMPORTA OS OUTROS...
OS ALHEIOS
OS OLHOS NEVOEIROS
OS PENSAMENTOS PREDATÓRIOS...
OS OUTROS...
ESPÚRIOS PURGATÓRIOS
SÓ NÓS DOIS SOMOS OBRIGATÓRIOS
PARA PREENCHEMOS OS NOSSOS SONHOS
SOMOS PROTAGONISTAS
COADJUVANTES
DUBLÊS
FIGURANTES
CENÁRIOS
IMAGENS E DIÁLOGOS
DO NOSSO AMOR...
OS OUTROS QUE FAÇAM FILAS
QUE INVENTEM OS SEUS PRÓPRIOS ROTEIROS


Carlos Gutierrez

domingo, 20 de dezembro de 2009

É Esse Cara!

É esse cara, aquele ali no espelho
tão doce de olhar
cantarolando
Olhe o passo apressado
como ziguezague perdido
Nesse momento segue
ao tapete felpudo dos sonhos
O cara da leveza na voz
entôa cantos de sereia as avessas
o oceano parece ser seu cárcere
é do tamanho de suas baladas de amor
É esse cara!
da pele irresistível
pulando ladrilhos
que arranca com seu conversível
Ele leva na mala pedaços das últimas viagens
É nesse cara!
e só nele que o moleton
tem ar de camurça, uma estampa felina
usada de truque pra florescer o deserto
É esse cara!
que a linguagem ainda não se sabe
e o nome é andarilho.
_ How can i tell you?
Nada se sabe!
esse cara é de um clarão
sem fim,
que mergulha em olhares
enfim.


Desirée Gomes

Sem Você

Eu sem você
sou qual uma estante sem livros
livros sem lombadas
sem orelhas
sem páginas
sem letras
sem conteúdo
sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas página virada
uma frase interrompida
uma emoção contida
um desejo frustrado
um ponto perdido
num parágrafo desviado
Sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas uma tentativa de romance
uma personagem abortada
uma novela sem trama
um conto sem surpresa
um poema sem sentido
um ensaio sobre o fracasso
nada mais
sem você.

Carlos Gutierrez

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Até Mais Ver

Vim te visitar de mãos abanando,
sem um mísero vintém de frase feita,
nenhum tostão poético
mas não pude deixar de bater à sua porta,
pisar na grama verde do seu jardim,
abrir o portão pesado,
ruído pelo tempo
- foi intensamente irresistível,
dizer da noite quente,
do dia cheio,
do prato na mesa.
Não vim trazendo novidades
tão pouco a medida do bonfim,
sei lá, só queria vir
ver de canto, seu canto - cantar.
Foi de súbito, visita breve.
Foi olhar no seu muro,
reprimir a vontade, em vão,
abrir portões,
cheirar as flores,
atravessar suas roupas
e invadir sua alma épica
pra dizer boa noite, noite boa.
Sem cálculos ou demoras.
Farei agora o inverso do caminho.
Até mais ver!


Desirée Gomes

Colcha de Retalhos II

Sabes que eu não posso partir

que eu não posso viver sem ti

que eu sempre te procuro

e, às vezes, me perco no desespero de te encontrar

Esbarro

Atropelo em outras pessoas

me agarro em frágeis galhos prá não cair

Costuro versos aqui e acolá

procuro sonhos diversos

prá mostrar o quanto eu te quero

o quanto eu te espero...

sabes que eu não posso partir!Prefiro o teu silencio

a todos os gritos e sussurros

que possam eclodir sobre os meus caminhos...

às vezes vejo alguém e me confundo

vejo um vulto e me afundo no mar sómbrio...

eu só queria que tú não esquecesses

que eu a amo cada vez mais

que eu não posso viver sem ti jamais

sejam por apelos sentimentais

como um bolero que recupero

dentro de um tango que flerta com o jazz

ou por sentimentos complexos

que espargem reflexos e fantásticas visões

Não quero perder o teu sonho!

Tu és imprescindível ao tempo que eu ainda disponho

como um dedal é vital prá proteger o dedo

na hora da costura

como a linha é essencial para a agulha

que fagulha e se orgulha

quando une a colcha de retalhos

da tua encantadora lembrança!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

PORRE

REVERTER O DESTINO
RASGAR AS CORTINAS
ESPATIFAR OS VIDROS
OS CORPOS EMBAÇADOS DA JANELA
TOMADA POR UMA REPENTINA CHUVA
ALCANÇAR O BEIRAL DA VARANDA
COM UM COPO DE WHISKY
REPLETO DE PEDRAS DE GELO
GIRANDO NUMA CIRANDA FRENÉTICA
INVERTER O TEMPO
TORNAR O LAMENTO EM EUFORIA
CAIR NA ALEGRIA DA RUA
ESCAPAR DOS BUEIROS DA MELANCOLIA
BEBER TODOS OS MISTÉRIOS DA NOITE


Carlos Gutierrez

domingo, 13 de dezembro de 2009

Colcha de Retalhos


Sem Assuntos


Sem assuntos sem assuntos
morremos abraçados juntos
Já lemos tantos livros
já vimos tantos filmes
e ouvimos tantas músicas
muitas trocas e pontos de vistas e de fugas
mas parece que agora estamos cansados
um do outro
ou de nós mesmos
e levamos nossos silencios aos extremos
ficamos sem assuntos sem assuntos
esgotou-se a fonte
das águas límpidas
e dos pingos ressentidos de murmúrios
acabaram-se as pedras para lançarmos
no lago dos nossos desejos
que não são tão fortes e hoje pouco claros
perdemos o faro de novos aromas
e a paciência de criarmos novos jardins
Sem assuntos sem assuntos
todas as estórias têm os seus fins
uns trágicos outros mágicos
alguns imprevisíveis
outros tão banais...
e a vida prossegue tão estranha...


Carlos Gutierrez

NUVENS



Nuvens escorrem no céu
limpam estrelas
despem todos os deuses
abrem-se
a todos os olhares
puros ou sórdidos
súlimes ou mórbidos
profundos ou fugazes
Nuvens escorrem do céu
vem refrescar a terra
e esfriar as cabeças quentes
de insanidades


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Passo Rápido

Olho a garota
que flutua pela rua com a bolsa a tiracolo
e penso que é você!
Atravesso
mudo o meu caminho
atropelo sombras postes poses pacotes
e recortes de rostos rápidos
não posso lhe perder
vou ao teu encalço
um passo em falso
pode me jogar ao labirinto
sinto que é a ultima chance
para o amor que eu respiro
enquanto vejo derreter
o asfalto em seu ultimo suspiro
Abre -se um buraco no meio da rua
mas eu pulo o obstáculo
e faço do meu braço
um tentáculo prá agarrar a oportunidade
de declarar a minha paixão
à garota que veio em minha contra-mão
e sigo a minha intuição:Tem que ser você!
Tem que ser você!
prá ordenar a minha multidão!


Carlos Gutierrez

Trajeto


E foram dias,
meses,
rasgando lembranças
e guardando
meticulosamente
o anseio pelo regresso!
sã, reencontro, reencantamento.
Esperava até o momento crítico,
o mais efusivo de todos
para lhe remeter afeições,
seriam poemas, contos, prosa, cartas,
um livro quem sabe feito de papel reciclado
todo escrito em vermelho,
dizendo até onde caminhei passos tétricos,
com trechos de canções censuráveis,
um retrato em branco e preto,
uma gota d'água da última chuva,
um olhar de Dylan.
Livre! Se queres ir,
nada farei,
sem esse silêncio trovador buscarei seu sol,
direi que senti a sua saudade.
Que já não seja tarde demais!


Desirée Gomes

domingo, 6 de dezembro de 2009

Hey Você!


As Sombras

AS SOMBRAS
QUE ASSOMBRAM
AS NUAS LUZES
OS CENÁRIOS DA CIDADE
QUE RECORTAM AO CHÃO
PESSOAS ANIMAIS E ARVORES
AS SOMBRAS
QUE NOS PERSEGUEM
POR TODOS OS LADOS
AS SOMBRAS
QUE PERMANECEM DO PASSADO
E QUE NOS SEGUEM INSISTENTES
NO PRESENTE
E SE PROJETAM NO FUTURO
AS SOMBRAS
ESSES CORREDORES ESCUROS
A SOMBRA DE NÓS MESMOS
A SOMBRA DOS OUTROS
QUE ADORAMOS
QUE ODIAMOS
OU NEM MESMO VEMOS
AS SOMBRAS DOS NOSSOS MEDOS
AS SOMBRAS DA MORTE INEVITÁVEL
QUE NÃO QUEREMOS
MAS TEMOS
QUE NELA NOS RECOLHER
AS SOMBRAS
AS SOBRAS DO QUE PODEMOS AINDA SER
VASCULHO NO BARULHO A SUA VOZ
O TIMBRE CLARO
DISPARO NO ESCURO
OS MEUS OLHOS FALHOS
ME VALHO DAS POUCAS LUZES
QUE ESCAPAM DO BARALHO DAS SOMBRAS
E BLEFO COM O MEU PRÓPRIO DESTINO


Carlos Gutierrez

PERFIL


Perfil
que emerge do rio
ou do lago
como um doce afago
ou uma proposta de suícidio
Perfil
humano chamariz
no espelho d'água
faz refletir
sobre a vida
e a morte!
Nós estamos sempre por um triz
entre elas
debruçados sobre as janelas
líquidas e sólidas!


Carlos Gutierrez

CorrreDOR



Talvez você nunca me veja
nunca me perceba
jamais me cogite
eu serei uma folha ao vento
ou um guardanapo arremessado
sobre o corredor
que um dia os seus passos apressados
por ele hão de passar
sem notar que nele está gravado

um poema já borrado
fragmentado
nas mãos carentes de alguém
talvez...talvez...
o corredor sente horror
de bruscas paradas...


Carlos Gutierrez

Doce Fuga

Há uma possibilidade...
mesmo com toda a velocidade do tempo...
há uma possibilidade...
de lhe encontrar...
mesmo contra toda a fúria do vento...
vou lhe encontrar de algum jeito!
no amargor de um lamento...
na insensatez de um tormento,,,
não importa!
é um encontro...
ou a mais doce fuga!


Carlos Gutierrez

GRITO

GRITO
IRRITO AS CORDAS VOCAIS
MISTURO CONSOANTES
E VOGAIS
PALAVRAS
GRUNHIDOS
GEMIDOS
RUÍDOS
GRITO
O PRAZER
E O AFLITO
O CAOS DA METRÓPOLE
E OS BICHOS RURAIS
GRITO
ATÉ ENCONTRAR
O PERFEITO
SILENCIO
AQUELE QUE PERMITE
QUE A ALMA MEDITE
E DEIXE O CORAÇÃO
BATER EM PAZ!


Carlos Gutierrez

domingo, 29 de novembro de 2009

Metrópole Multifacetada


Na metrópole
contar passos e compassos
salto alto em equilibrio no beco escuro
esperar o enlace na cintura
pisar no impisável.
A ausência tem efeito contrário
não dorme!
olha da janela os ventos altos
mastigando silêncios
costura rajadas de lembranças
ao delírio de quem conta carneiros
Trânsito com contagem regressiva
lastimando um alfabeto esquecido
contudo, organizado ao som de tamancos
e badalos vorazes
estopim marcando a letra da construção
luzes de automóveis riscam a paisagem
e buzinas em repouso
Na varanda um tilintar total que seduz,
um jazz que não é mudez
apresentada com açúcar e morangos
a face descoberta ao anoitecer
recua da trama passional
tomando a cidade as duas mãos,
contrafluxo.
Cortinas fechadas,
o assobio cantarola:
amo a ti em tantas outras faces!


Desirée Gomes

O POEMA

O POEMA...STIGA AS PALAVRAS
O POEMA...STURBA VERSOS
O POEMA...RTELA O CÉREBRO
O POEMA...CHUCA O CORAÇÃO
O POEMA...NIVELA O PROJETOR DE NOSSOS FILMES
O POEMA...NIFESTA NOSSOS MEDOS E CIÚMES
O POEMA...NIPULA OS NOSSOS DESEJOS
O POEMA...SSACRA AS PALAVRAS NA BIGORNA DA SÍNTESE
O POEMA...LEÓVOLO
O POEMA...CIO DA TERRA
O POEMA...LEÁVEL
O POEMA...PÕE...E...TIRA
POETIZA


Carlos Gutierrez

Raízes

Raizes
sólidas cicatrizes
encravadas na terra
Raizes
sempre resignadas
sobre a terra seca ou molhada
cumprem silenciosas a sua nobre missão
sustentar uma árvore
fazê-la crescer
florecer
frutificar
primeiro o tronco
o caule
depois as folhas que flutuam nos galhos
para beijá-las após ventos e tempestades
depois os frutos
saborosos e prestimosos
por fim a paisagem
e a coragem de pedir emprestado
os olhos de quem eventualmente a contempla


Carlos Gutierrez

Poetas Cegos

Poetas Cegos
E eram cegos os poetas John Milton e Homero
Poetas cegos!desprovidos
do convencional sentido da visão
Mas mesmo assim fizeram jorrar versos das trevas
Eles só podiam olhar para dentro
na luminosidade de suas almas
Não podiam ver paisagens
árvores flores montanhas riachos
só podiam sentir o vento
o farfalhar das folhas
a pele delicada das pétalas
as protuberâncias das pedras
a água sobre o corpo
ou entornada na garganta para matar a sede
Poetas cegos!
Eles não podiam ver as letras
a caligrafia refinada que oscila
e alivia o peso da alma sobre o papel
Eles desprovidos desse prazer
e do outro consecutivoo produtivo e emotivo ato de ler
podiam apenas deter na memória
o som e o impacto das palavras
que cada frase devora
Eram cegos os poetas John Milton e Homero!
Uma Ilíada conquistada às cegas
na saga de encontrar a luminosidade
nas trevas

Carlos Gutierrez

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nuvem Mórbida


Presságio


Lanna Erthal





Daqui a 10 minutos talvez eu enlouqueça
enquanto isso não se esqueça
guarde na sua distraída cabeça
a recente lembrança!
Maldito sinal vermelho!
o teatro está longe
o porteiro é obediente
não é como o ator e a atriz
que improvisa o texto
quando dele se esquece
ou mente que esqueceu
como pretexto quando a personagem
não a convenceu
subverte o roteiro
reage ao autor!
daqui a menos de 10 minutos talvez eu enlouqueça
misture todas as coisas em minha cabeça
e perca o sentido das palavras
e passe a achar que a rua é calçada
que a calçada é um poço
e o poço uma fonte de desejos
talvez eu perca a crença
no amor e suas afinidades
e creia piamente que as diferenças
sejam as verdadeiras evidências de fidelidade
mas antes que isto aconteça
apareça no palco Lanna Erthal
com seu poder teatral
com a sua máscara derretida
com sua lágrimas verbais
com os seus risos sarcasticamente naturais
e deixe boquiaberto de queixo caído
esse cara aqui de ar concentrado
de olhar encantado
porque daqui a menos de 10 minutos pode ser que ele enlouqueça
e esqueça que você é uma atriz
e pule cadeiras e cabeças
e lhe ofereça rosas vermelhas
que ele furtou de um jardim...
antes que ele não mais saiba a diferença
entre uma pétala e um espinho...
e pense que o caminho seja um sofá macio
onde possa trafegar os seus pensamentos...
daqui a menos de um minuto você vai se esquecer
enquanto ele estará para sempre na rede
da sua máscara tão sincera!

Carlos Gutierrez

Urbanóides Cruzam o Meu Caminho

Ideia central : Desirée Gomes

Urbanóides cruzam o meu caminho
A cidade cresce
obedece os desígnios da métropole
Abre-se mais uma rua
Quatro esquinas inéditas
a serem disputadas
por prostitutas mendingos
camelôs e pontos de venda de drogas
A cidade cresce
desenfreadamente
e paradoxalmente
o espaço diminui
e mais nos aborrece
com as suas areias movediças
ferros retorcidos
grades vulneráveis
cercas eletricas
cães turbinados
Mais uma rua...nasce já espúria
na fúria do trânsito...
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Eu que sonhava lhe encontrar o mais rápido possível
vejo consternado
que o banco do jardim não mais existe
nem o próprio jardim
nenhuma pétala de lembrança sequer!
Mais uma rua
que se percebe turva
na reta ou na curva
na chuva de lágrimas...
a cidade que prevejo violenta
pelo estampido dos tiros
em seu escuro labirinto
que pressinto agitada
nos acertos de contas
nos desprezos e afrontas
Eu saí de casa há pouco tempo
prá não ficar louco e entediado
só para olhar o teto azul da noite
e contemplar o efeito discreto da opaca lua
e embaralhar as órbitas dos meus olhos
em estrelas
Eu saí de casa...transtornado
nem me lembro se fechei as janelas e as portas
Onde estão as minhas chaves?
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Aguns se vestem sóbrios
com engomados pulsos e colarinhos
outros aparecem maltrapilhos
mostrando os seus rasgos e feridas
Uma pasta negra executiva passa mais depressa
que o seu dono
Um boné renelde foge da cabeça do office boy
um pedaço de lingerie abraça desengonçado uma lata de lixo
um cão cobiça galinhas nuas na máquina de assar frangos
um recorte de notícias superadas
cobrem o corpo de um pedintes
policiais estouram um bingo clandestino
Urbanóides cortam o meu caminho!
Eu saí de casa
calçei o velho tênis
de cadarços largados
línguas de lona seca
estrelas desbotadas
sola quase sem pele de silicone
Onde amor você está?
me responde
Urbanóides cortam o meu caminho!
camuflei o tubo de spray
e procurei o muro possível
mas há tiras por todos os lados
assim como extorsões
de emoções e bens materiais
Bico calado! bico calado!
quero ao menos pichar o seu nome
Estou com fome!
vou entrar aqui mesmo
nesse bar ordinário
Será que há algo para comer
para forrar o estomâgo?
se não tiver
recorro ao meu âmago
amargo e experimento
o fermento cruel do fel do tormento
da selva de pedra
com os seus urbanóides!

Carlos Gutierrez


Tema Original
Urbanóides Cortam Sempre o Meu Caminho
da poetiza Desirée Gomes

sábado, 21 de novembro de 2009

Nuvem


O seu cheiro na minha carne...
Como é grande.
De longe, és menor,
Mas de perto,
És uma nuvem.
É belo, a escala de cinza
No enorme azul.
O movimento das palavras
Parece céu;
Muito claro
Nosso amor inventado...
Remoer as frases soltas
No sofá vermelho.
A clave de sol na janela.
A sinfonia da chuva,
A orquestra da rua
E seus carros, suas ondas.
E você, o maestro majestoso.
Detalhar seu rosto, seus ossos.
Nosso horror, nossos risos.
És uma fonte infinita.
Uma nuvem.


Bruna Moraes

Depois da Tempestade

Galhos destroçados
folhas recortadas
dispersas
flores amarrotadas
gotas sólidas de pólen espalhadas
do que foram árvores
línguas de sapatos
separados de suas solas
asas descoladas de borboletas e pássaros
pêlos de cães flutuando no ar...
silencio de cigarras
consternadas pelos ventos insensíveis
Depois do temporal
da tempestade
todos os detritos
e gritos de pânico
e os aparelhos elétricos e eletrônicos
comprometidos
e a lembrança dos raios e trovões
ainda gritando em meus ouvidos...

Depois da tempestade
as ruas após lavarem as suas almas
estão prontas novamente
para receber mais detritos
toda sorte de fumaça
gases de veículos apressados
outras folhas outras pétalas
que se perderam das flores
se desgarraram das árvores
depois da tempestade
o tempo volta á normalidade
morno e sem remorsos na claridade
e a cidade quase seca
enxuga as últimas lágrimas
depois da tempestade!


Carlos Gutierrez

Menina Cinderela

Poemosaico de Patty e Lilian

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

BEIJOSEMÂNTICOS


Sejam brandos ou efusivos,
beijos apenas
aportoados em seus lábios,
cereja ou azeviche?
No asfalto macio correm os segredos
à soprarem aos ouvidos
os temores tentadores
arrematando fusíveis noturnos
Liberta os olhos do aro e lentes escuras,
a imagem nitidamente embaçada
ofusca as matizes da corrente inebriante,
choque, rosa-choque
Mais um drink e cinzeiro!
Restam palavras a serem digeridas.
A noite continua a balbuciar
vermelho a cada passo
um Old Fashion se expõe
ao rastro postulado por dizeres
De fato! De modo!
De forma ao corpo transceder
a moldura repreensora
supondo infiltrar muros cativos.
Não precisa de muito para rir,
junto a bagagem
estão também os beijos efusivos
O andarilho guarda-os ao lado
dos segredos apressados,
caminha no asfalto sórdido,
tão longe em sua saudade
ancora em seus lábios multi-tonalizados
e deleita
brando ou efusivo,
beijo apenas
entre todos beijosemânticos!


Desirée Gomes

Desencontro

Eu não posso ser seu
você não pode ser minha
mas e esse frio na espinha
que nos acometeu
e que adivinha o que nos faz tremer?
Cruel é saber
que não podemos viver
o mesmo tempo
e que nossos pensamentos
apesar de serem os mesmos
flutuam em ventos diferentes
eu não posso ser seu
você não pode ser minha
entre a pipa e o carretel
existe a linha partida
o cerol de sol
que corta as nossas noites
de vigílias.
Eu não posso ser seu
você não pode ser minha
quando eu sou verso
você já é poesia!


Carlos Gutierrez

Prego Parafuso

A saudade é prego parafuso
Estou confuso!
com essa engrenagem do tempo!
O tumulto das horas pacientes e inquietas
Eu giro o parafuso no sentido horário
para caminhar ao lado do seu presente
depois giro ao contrário
para saber o que restou do passado
Eu prego a sua imagem na parede
vermelha gelatinosa do meu coração
Eu prego com o martelo e esfacelo os meus dedos
amassados pelo medo de não cometerem
os devidos carinhos
A saudade é prego parafuso
Finca!Corrói!
e se torna infusão
regeneração
platina nos ossos
paixão no sangue
ternura que se expande
por todos sentidos
que respondem
aos apelos de vida
lá fora!


Carlos Gutierrez

O OUTRO

Eu sou o outro
o inesperado
o tapa-buraco
posso ser chamado de acaso
de atraso
o outro
com mínimo prazo de validade
o outro...o outro...o que não é verdade
doce mentira
porre preparado
nas horas sóbrias
nas sobras de loucos desejos
eu sou o outro...o outro...o outro...
o que não foi líquido beijo
apenas gasoso desejo
que evaporou na solidez do seu desprezo!


Carlos Gutierrez

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ADAPTÁVEIS

ESTOU CANSADO HOJE
VAMOS NOS SENTAR
NESSA CADEIRA SEM PERNAS
NESSA ALMOFADA DE PEDRA
NESSE TAPETE REPLETO DE ALFINETES
AFINAL SOMOS ADAPTÁVEIS
MAIS DO QUE A PILHA DE COPOS DESCARTÁVEIS
DO COPO DE TRISTES IGUAIS COTONETES
VAMOS ROLAR NO TOBOGÃ CRAVADO DE GILETES
VAMOS DEIXAR QUE O DESTINO
ESCOLHA AS NOSSAS TATUAGENS
UM TRABALHO A MENOS
PARA FAZERMOS MAIS BOBAGENS
ESTOU CANSADO HOJE
ENTÃO TROQUE A MAQUIAGEM
VIRE O DISCO !
SOPRE O CISCO DO MEU OLHO
PRÁ EU LHE VER MELHOR!


Carlos Gutierrez

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

VICITUDES

Gosto dos seus vícios
e virtudes
Tudo que até hoje
eu pude
absorver de você
Seu jeito natural de ser
seu jeito Pagu e pagão
frenesi e paixão de viver
Seu cabelo solto e revolto
ou preso num chapéu coco
O seu coração de maçã
e todas as nuances do seu humor
nem sempre rude
nem sempre sarcástico
nem sempre ácido
às vezes pateta
às vezes singelo
às vezes plácido
humor com rumor
de lágrima infantil
hostil
a quem tem pressa
de apagar as velas
e devorar o bolo da festa
Gosto de você
de qualquer forma
com ou sem norma
sem bulas
e com todos os efeitos
colaterais
Gosto porque gosto de você
fora ou dentro da moda
com gim ou com soda
simples ou excêntrica
fugitiva ou excessiva
você não peca
por ser única
você é múltipla
muitas
todas
intelecta
sapeca
sofisticada
fada
bruxinha
sensível
poetiza
profeta
sonhadora
cientista
estrela
roteirista
mágica
trapezista
anarquista
domadora de feras
partner corajosa
protagonista
sem arrogâncias
Gosto da sua pele
que se viciou em um perfume
escondido no bistrô
Gosto dos seus lábios
dominados
pelo licor de framboezas
e pelo turco tabaco
Gosto dos seus olhos!
neles eu estou viciado
Gosto de acordar assustado
com o empurrão
na claraboia do sonho
que eu tive ao seu lado!


Carlos Gutierrez

domingo, 15 de novembro de 2009

Hipótese


Lágrimas de Crocodilo





Giorgio De Chirico



Arrigo Barnabé



Ouvi Arrigo hoje amor
ele dissecou a metrópole
as ruas nuas
as ruas repletas
as ruas
que são as veias cinzas de cidade
Ele libertou feras
empurrou sarjetas
contemplou bebâdos
respeitou prostitutas
olhou com carinho
os olhos vermelhos da cidade
em chamas de desejos
e enxugou as lágrimas de crocodilo
Eu estava só
com medo
e de repente
me senti com toda a coragem do mundo
e saí tresloucadamente
à sua procura
só você é capaz de entender a minha lucidez
e a minha loucura
é porisso que eu lhe amo tanto
nas ruas claras
ou nos becos escuros
então um pardal
abandona o seu grupo
e sonha rouxinol
e a cidade já não é mais oculta!
como é bom lhe reencontrar
cortar quarteirões
pular os muros
e chegar mais rápido
em seus braços!

Carlos Gutierrez

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Roteiro poético


Evelyn ( "Penny")
Acorda de manhã
Procura o que vestir
Já sabe aonde ir
(aonde eu nunca quis te levar)

O inverno está aí
Ele vem te buscar
Ele te faz sorrir
Mas veste algo quente que o frio vai chegar

Desligue o rádio e a TV
Porque em teu Domingo eu vou aparecer
Vai ser melhor  assim
o seu poder sobre mim

Ostenta ser feliz
Tudo que eu sempre quis
Mas melhor se cuidar
Com toda a tristeza que eu posso te levar

E é só pra te devolver
Lembres que é caro me esquecer
Barato pra ti
Não tente me esquecer, porque eu não vou deixar

Volte pra casa, vai chover
Porque eu fiz teu Domingo desaparecer
E, nem querendo,  vais viver longe de mim

Se eu te disser que eu não vou mais voltar
(Você irá me procurar?)
Se eu te disser que eu não vou acordar
(Com quem tu irás sonhar?)
Se eu te disser que eu não vou mais mentir
Não vá acreditar...
Decore o roteiro poético
mas se não conseguir
improvise um beijo apaixonado!

Evelyn ("Penny")

Contemplo o Tempo





Fátima Queiroz


Contemplo o tempo!
tenho todo o tempo
para isto e nisto
insisto sinistro
em deixar passar as horas
Olhar o amplo relógio
feito de luzes e sombras
o relógio que devora todas as cores
o relógio onde fogem amores impossíveis
o relógio que explora a paciência
que desperta com carícias ou gestos rudes
que fica obediente no criado mudo
ou se revolta estridente
e é arremessado sem piedade em uma parede
Contemplo o tempo
Esqueço a minha idade
indiferente à minha pressa
e aos meus lamentos...
O tempo...o tempo...
o vento suícida do momento!
tic tac tic tac tic tac tic tac
até o fatal ataque dos nervos
tic tac tic tac tic tac toc tac
ataque cardíaco
atac tic tac tic tac tic tac tic


Carlos Gutierrez

sábado, 7 de novembro de 2009

Enxertos


Marc Chagall


As suas impressões digitais
estão espalhadas em todos os cômodos
em toda mobília
em todas as janelas que flertam
a sua imagem
As suas impressões virtuais
estão impregnadas sobre toda a tela
com as suas múltiplas janelas azuis
As suas impressões estão disseminadas
dentro de mim
em visões sem fim
que percorrem a minha alma
estão enxertadas enfim
cada gota de tinta que respinga
da minha caneta forma a sua imagem
cada gota de sangue
no desleixo de atos simples
como descascar uma fruta
ou fazer a barba
forma a sua imagem
Não é loucura
Não é bobagem
É procura
É viagem
E encontro!
É um enxerto de encantos!



Carlos Gutierrez
´

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

HILDA HILST


Paulistana de Jaú, nascida no dia 21 de abril de 1930 e falecida a 4 de fevereiro de 2004, Hilda Hilst é reconhecida, quase pela unanimidade da crítica brasileira, como uma das nossas principais autoras, sendo consideradas uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa do século XX. Segundo o crítico Anatol Rosenfeld, “Hilda pertence ao raro grupo de artistas que conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários que se propôs - poesia, teatro e ficção”.

Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.


I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.


II

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade


III

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer


IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.



DA NOITE

III

Vem dos vales a voz. Do poço.
Dos penhascos. Vem funda e fria
Amolecida e terna, anêmonas que vi:
Corfu. No mar Egeu. Em Creta.
Vem revestida às vezes de aspereza
Vem com brilhos de dor e madrepérola
Mas ressoa cruel e abjeta
Se me proponho ouvir. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.



IV

Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.


V

Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.


VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.

O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.

Hilda Hilst

sábado, 31 de outubro de 2009

Olhos de Biombo

Acordei
de um sonho extraordinário
você estava
ao meu lado
em trajes sumários
provocando o meu imaginário!
Meu sangue alternado
quente e gelado
procurava
circular
despreocupado
nas ruas azuis do meu corpo
mas não conseguia
porque a sua presença
a sua alquimia
injetava os perfumes mais intensos
e os venenos mais letais...
lhe vi em trajes sumários
com mil olhos de biombo!


Carlos Gutierrez

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cinzas das Horas

Estou com sono...muito sono...
mas insisto em ficar acordado...
eu quero
o que eu não mais recupero...
fico com o imponderável!
o factuóide
o improvável
penso que será a ultima noite
o derradeiro sonho
por isso estou de vigília
olhando a fria e maciça mobília do meu quarto
então me reparto em fugas paredes e espelhos
eu tinha tanto ainda prá dizer...
mas esse bocejo das horas...
essas pálpebras que exploram as cinzas das horas...



Carlos Gutierrez

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Arrasto Uma Asa

Arrasto uma asa
a cauda inteira de um cometa
a ponta da mais longíqua estrela
o planeta ainda não descoberto
Arrasto o sofá e as cadeiras inquietas da sala
para podermos dançar a música que resvala
o silencio que compactuamos
Arrasto todas as nuvens
para o céu ficar totalmente claro
aí eu me declaro como o sol
que perde a lua
mas flutua em raios
num sonho qualquer
Arrasto uma asa
ou mais
quantas eu puder
por você anjo mulher
arrasto arrasto me arrasto
ao próprios pés do meu carrasco
que às vezes se chama amor, outras vezes paixão
mas sempre traidor e cadafalso
cada vez mais falso...
mas é a única corda que eu tenho de verdade!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ILUMINADA

Bastaria você e mais nada
para iluminar o ambiente
mas ainda há no fundo
pedras irregulares
e no ar envolvente
lembranças de orquídeas recentes
violetamente belas
lilazes capazes
de desvendar mistérios!



Carlos Gutierrez

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Olhar de Peixe Morto


Lendo displicente um gibi
comendo com toda gula
ula! ula!
uma barra crocante de chocolate
ouvindo uma balada romântica
onde as baquetas acariciam tambores e pratos
que ecoam sinos de estações ferroviárias
igrejas e saudades
enquanto fora de casa na rua Rex late!
tamborilar os dedos na garrafa de whisky
quase pela metade
pula essa parte
tentando trancar a porta do ateliê
da minha verdade
Não dás tempo e você me invade
me visita e nada há o que evita
o seu alarde
a sua presença que eu desejo e me irrita
porque eu preciso lhe esquecer
tirar da fita
expulsar você da minha tira
embrulhar o seu corpo no papel alumínio
rxcluí-la da minha lista de reprodução
esmagar com as mãos cerradas
e os cacos recentes
da garrafa atirada com raiva contra a parede
preciso lhe esquecer
mas como se só você acaba com a minha sede
se o meu olhar de peixe morto
apenas vê a sua rede
como o Sol da Meia Noite



Carlos Gutierrez

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Amor é Par

Rapidamente desenho a giz
a superfície da vida em quadrinhos
A renúncia intuída de um beijo estréia a rebeldia
e num tropeço o chapéu ao chão indaga as respostas
Surdamente decola a usada Bossa Nova, chave a delicadeza
molhando os ouvidos de ausência frequentada
e versos demitidos
Rapidamente faço ecoar a vitrola
um mundo real, empoeirado pelos furacões têmperos
Abro a caixa de memórias, nem grande nem pequena
as arestas das lembranças suavizadas por aromas comtemplados
espio como se o passado fosse só nosso.
Rapidamente falo
e o sabor da conversa se localiza na grafia
freneticamente barganho o silêncio alto
Piano sórdido, vozes e janelas
as emoções correm não sei para onde
sob o viaduto sintetizado constroi a ameaça, um pouco sentimental
Devagar fito e meço
ângulos oblíquos extremos dessa longitude
sem mistério e fatídico
o amor é par!


Desirée Gomes

sábado, 17 de outubro de 2009

Carrapicho


Eu desejei cruzar o seu caminho
não como um pedra
tão pouco como espinho
talvez como um esguicho
para abastecer de agua-fonte
a fronte do seu jardim
Eu quis cruzar o seu caminho
com rastros de luzes
e alergias de sombras
emprestar o amarelo das margaridas
e afastar o verde incõmodo das urtigas
Eu me espicho todo
feito bicho tolo sem preguiça
que cobiça os mistérios da floresta
mas percebi que eu não posso ser pétala
e desprovidos das asas de colibri
eu assustado joão-de-barro voltei para o meu domicílio
e na argila em meu bico dissolvi o capricho
de voos mais altos e vi você lá embaixo
retirando indiferente o simples e intruso carrapicho
que eu fui para o seu jeans!


Carlos Gutierrez

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Preliminares

Como eu posso despertar o seu interesse
talvez um "punch line" eu recorresse
bem do jeito Woody Allen
ou algo mais ameno
o divã de Lacan
o olhar paciente de Freud
uma reminiscência
sem consequência
um sonho mal acordado
ou elogiar simplesmente a sua rosa lingerie
que caí do seu corpo sutilmente
e faz o meu derreter
como maria mole mergulhada
n'um caldo de cerejas
ou colocar na vitrola
um vinil que ficou refém do silencio
por longo tempo
e quer novamente cantar
mesmo com a voz embargada?
Como eu posso despertar o seu interesse
forjar a queda do copo de conhaque
em seu corpo
e enfim usar o inédito lenço de seda
com um timoneiro ainda sem rumo
nele gravado
para enxugar o encosto protuberante
dos meus sonhos delirantes
Medo crônico!
Irônico nem conhecer mais
os meus próprios dedos
Sentir que eles têm tanto medo de tocá-la
como se fôsse um vaso de porcelana chinesa?
Bem mas vamos às preliminares
e que não sejam as previsíveis
e sim as mais impossíveis e insólitas
algo que jamais possa se esquecer
Trocar os meus lábios pelos meus olhos
mesclar os sentidos
Amar o próprio vestido
estatelado no chão
Recuperar o batom da sua boca
Reacender a lanterna perdida da infância
Tirar o seu espartilho
mais rápido que o gatilho de Django
tal qual uma criança que abre um presente
e se esfarela feito biju de tão contente
Seguir a trilha das suas pintas e sardas
- cartografia intíma da sua pele -
e o rumor do tambor do seu coração
- renovada canção que jamais esquece e trapaceia a sua letra -
Microscopiar todas as suas sutilezas
para enfim escorpionizar as suas profundezas!


Carlos Gutierrez

terça-feira, 13 de outubro de 2009

DEMASIA

A noite está fria!
enxerte carvões na lareira
relembre fogueiras de infância
balões banidos
estalidos de biribas
cortando o silencio
Encha até transbordar
a taça de vinho
até sangrar a toalha de linho
encoste o seu rosto no meu
e os seus cabelos
soltos em desalinho
acenda a fogueira do seu olhar
desenrole o pergaminho
sorria em demasia
até que as paredes lisas
adquiram estrias
acenda um cigarro e divida comigo
vamos cruzar as lufadas de fumaças
ver despencar do teto todas as traças
e esperarmos o pouso de uma estrela
que nos resgate!
em demasia
num só engate
você me parte me faz mosaico

Carlos Gutierrez

MICO


Não sou pro seu bico
mas não abdico
do sonho de ter você
Pago qualquer mico
dedico mais travessuras
que um macaco agitado possa fazer
prá você perceber
o quanto eu lhe quero
o quanTo eu lhe espero
em cima dos galhos
das árvores
enroscado em cipós
ou preso em nós cegos
Eu grito o seu nome
mais forte do que a voz de Tarzan
faço ecoar a floresta inteira
Pago todos os micos
depois eu me explico
só sei que o desejo de lhe encontrar
cOça mais que pó de mico
depois eu me modifico
enquanto isso...
eu pago o mico!



Carlos Gutierrez

domingo, 11 de outubro de 2009

Cola

Algo descola
dos meus pensamentos
Solta-se da sacola
dos meus mantimentos
como um alto salto
de um sapato cansado
já vencido pelo tempo!


Cola em minhas retinas
retorcidas e distorcidas
pelas cortinas das sombras
mal divididas apenas fragmentos
de imagens opacas
embaçadas pelo pó acumulado
no tempo


Cola
gruda na semente
e não deixa germinar
frustra a muda
e desnuda
sem resinas ou pudores
a inútil paisagem
que desejou entrar
na viagem dos meus sonhos!

Cola e cala
Lacra e chora
respingos de goma arábica
do lado de fora!
lágrimas esquecidas
sólidas
só...lidas


Carlos Gutierrez

MATISSE

    
Exposição - Matisse                                                        O Quarto Vermelho
De 05/09 à 1!11 - Pinacoteca de SP - Não percam essas luzes...essas cores...


Aos que estão cercados de cinza por todos os lados.
Aos que estão rodeados de computadores, esverdeando dentro de escritórios.
Aos que estão parados, ladeados por carros num trânsito dos infernos.
Aos que estão encaixotados dentro de elevadores.
Aos que estão isolados por paredes, curando-se de gripe suína.
Aos que estão esprimidos dentro de conduções.
Aos que estão cercados de carteiras, focados numa grande lousa.
Aos que estão desaparecendo dentro de uma fina garoa.
Aos que estão sendo consumidos por sofás,
Aos que estão completamente cercados pela pressa.
Aos que estão totalmente possuídos por multiplicar dinheiro .
Aos que estão rodeados por santos e rezas .
Aos que estão absorvidos pelo desejo de vingança .
Aos que estão cercados por recém- nascidos berrando em suas pequenas camas de acrílico .
Aos que estão no meio de uma confusão que não lhes diz respeito.
Aos que estão cercados por comprimidos .
Aos que estão rodeados por assombros .
Aos que estão dominados pela fúria .
Aos que estão rodeados de enormes vitrais com um rodinho e sabão;
Aos que estão comprando a ideia de uma sociedade de consumo .
Aos que estão observando os fumantes consumindo suas ampolas fora de estabelecimentos .
Aos que estão tensos numa pequena sala que antecede a entrevista de emprego .
Aos que estão cercados de tristezas e de entes queridos num cemitério .
Aos que estão rodeados de madames mal-educadas numa lavanderia ,
Aos que estão em seus casulos, porotegidos por enormes grades e cercas elétricas .
Aos que estão com a cabeça em parafuso .
Aos que estão prestes a fazer um pedido de casamento .
Aos que estão rodeados por advogados numa audiência de separação .
Aos que estão cobertos por jornais, dormindo em bancos .
Aos que estão no centro de uma roda de contas a pagar .
Aos que estão tendo seus pulmões consumidos por gases de alcool e gasolina nos postos das esquinas .
Aos que estão desistindo de convívio humano e se cercando de animais de estimação .
Aos que vivem rodeados do prazer de dizer que estão faltando alguns documentos.
Aos que estão cobertos de medo e pânico.
Aos que estão querendo trocar de sexo
Aos que estãotomados por tristes lembranças da infância,
Aos que estão sobrecarregados pelo esforço de puxar carroças pelas ruas.
Aos que estão rodeados de enormes labaredas, tentando contê-las com mangueiras.
Aos que estão cercados e sendo consumidos por um cotidiano tolo,
Aos que estão cercados de segredos.
Aos que estão cercados pelo sentimento de culpa,
Aos que estão no centro de uma importante questão.Aos que estão cobertos de graxa embaixo dos eixos de veículos.
Aos que estão cercados de tapinhas nas costas.
Aos que estão acabrunhados porque levaram um pé na bunda.
Aos que estão acobertados por um disfarce.
Aos que estão cercados de teorias.
Aos que estão envoltos em mentiras,
Aos que estão cercados de bisturis, sendo abertos em mesas cirúrgicas.
Aos que estão atarefados com afazeres domésticos.
Aos que estão cercados por gerúndios em telefones.
Aos que estão rodeados por máquinas barulhentas, perdendo a audição.
Aos que estão sedentos por sentir algo.
Aos que estão cercados por familiares, lutando contra um vício.
Aos que estão certos de não crer em nada.
Aos que estão construindo um corpo escultural e esquecendo da mente.
Aos que estão cheios de não me toques,
Aos que estão perdendo a razão.
Aos que estão cercados por um império, perdendo a noção de valores.
Aos que estão aqui somente pra criticar.
Aos que estão consumidos pelo desejo de voar.
Aos que estão sucumbindo à corrupção.
Aos que estão corroídos pela depressão.

Anuncio publicado na Folha de São Paulo
autor: não sei
.

Paixão


Como se pode fazer arte sem paixão?                             Odalisque



O artista pode dominar a arte


mais ou menos, mas é a paixão


que motiva sua obra.


Dizem que toda a minha arte


provém da inteligência.


Não é verdade:


tudo que fiz foi por paixão."







Henri Matisse

O PROCESSO

TODO PROCESSO
REQUER TEMPO E ESPERA
TODO PROCESSO
TEM OS SEUS PROGRESSOS
E RETROCESSOS
PREJUÍZOS E SUCESSOS
NEM TODOS PROCESSOS
SÃO POSSESSOS
NEM TODOS TEM ACESSOS
PROCESSOS SÃO PROCESSOS
MENTAIS OU PRÁTICOS
VISÍVEIS OU CAMUFLADOS
PROCESSOS SÃO PROCESSOS
DECLARADOS OU INCONFESSOS
MAS TODOS MEXEM
NO LABORATÓRIO DA MENTE
NA SEMENTE DOS PENSAMENTOS


Carlos Gutierrez

EXPERIMENTO

Experimento
o momento
livre
do tormento
do tempo
o momento presente
ausente
dos ponteiros enferrujados
do passado
e que não pressente futuros
Experimento o momento
por mais vazio e absurdo
que ele possa ser
por mais duro de roer
esse ôsso no fôsso
que o meu cão vadio e arredio
farejou e encontrou
essa lasca esse lapso de tempo

Carlos Gutierrez

sábado, 10 de outubro de 2009

Mãos de Abrir Nuvens

MÃOS DE ABRIR NUVENS
Ter mãos de abrir nuvens
Romper o velcro de baunilha
E espiar
Dentro a catedral
Dos sonhos
Um rito de encanto
Crianças e lagos
E mapas emaranhados
A Sexta Avenida
Deságua no Eufrates
E as barcas cruzam
De Bagdad ao Mojave
As mãos se enlaçam
Negras brancas
Amarelas azuis.


Ter mãos de abrir nuvens
Descobrir a alma de neve
E perfume
Que se fazem
Pássaros
Camelos
Bailarinas.



Quem possui mãos de abrir nuvens?
Quem rega pedras
E pesca pássaros
Em tempestades
E ancora no alto
Da montanha mais alta
Suas caravelas.



Quiçá Penélope,
Sem manto, grilhões e espera.
A abrir nuvens
Além da torre de concreto
Em pleno azul
Entre a brancura espumada.
Mãos de mulher livre
A abrir o velcro
Da humanidade encantada.

BÁRBARA LIA
(O sorriso de Leonardo - Kafka ed. 2.004)

Salve