Imaginário
O que pode o imaginário
tocar uma imagem projetada
ouvir segredos de alguém que não fala
mas só escreve e prepara
situações e cenários?
O que pode o imaginário
formar um mosaico
com pedras gasosas
cacos incendiários
sem pesos aparentes
arremessados por uma tela plana
sem elásticos
em um céu de mentiras nublado
em um pisca-pisca de estrelas?
O que pode o imaginário
revirar os pensamentos
e fazer manifestarmos os nossos inconscientes
e de repente forçar o espatifar
de um copo de cólera
ou revirar um lençol impregnado
de prazeres adormecidos
o que pode o imaginário
transformar um dia ordinário
em algo extraordinário
capaz de competir com um sonho?
O que pode o imaginário
sentir a seda da pele
com a lembrança de um sabor
escondido no baú da infância?
O que pode...pode...pode...
o que sacode a caixa de surpresas
dos nossos pensamentos
o achado por um feliz acaso
ou pela florada de antigas sementes
entrar no fole de um acordeão
e fugir para uma gare de trens
eternos de Londres?
O que pode o imaginário
concentrar a fumaça que devassa
os nossos recônditos desejos
pode trazer os paradoxos
como o longe para perto
o absurdo para o compreenssível
ou fazer do próximo
o deserto de ontem
o teto reversível de um sonho
que foge pelas janelas?
O que pode o imaginário
se não apenas ser mais um passageiro
clandestino do tempo
que não recusa
fuligens e ventos
folhas secas
e pétalas desmanchadas?
O que pode o imaginário
ser enfim um imenso jardim
de probabilidades!
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