quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Namoro as Palavras

Jamais me sinto só


levanto e limpo o pó


da capa de um dicionário


e, procuro, aleatório, uma palavra


com a sua correta grafia


e o seu real significado.


Eu namoro as palavras


até convertê-las em versos


e, quanto mais as venero,


capricho na caligrafia


e, estica-se, então, o rabicho


de cada uma delas na memória.


Eu namoro as palavras


até convertê-las em versos,


mesmo que algumas delas


não combinam com a estética poética,


mesmo que elas evoquem


sensações abjetas.



Às vezes, dou folga ao dicionário,

e as procuros em letreiros

ou muros pichados da metrópole!

Em jornais, em panfletos efêmeros

espalhados sobre a cidade,

sobre o chão!

Cada palavra tem a sua pretensão:

cada palavra é uma gráfica migalha

que um poeta sorve com gratidão!

Eu namoro as palavras
e também, às vezes,
eu procuro em você!
Já encontrei o fascínio,
o delírio, a vontade indômita,
a tola posse, a obssessão,
o sarcasmo
todo o orgasmo verbal!
Delas surgiram outras:
bem amadas,
traídas,
mau-amadas
rejeitadas:
encontro, dor, prisão...
partilhas, segredos,
ilusões...
sonhos...insônias e pesadelos
Eu namoro as palavras!

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Salve