Jamais me sinto só
levanto e limpo o pó
da capa de um dicionário
e, procuro, aleatório, uma palavra
com a sua correta grafia
e o seu real significado.
Eu namoro as palavras
até convertê-las em versos
e, quanto mais as venero,
capricho na caligrafia
e, estica-se, então, o rabicho
de cada uma delas na memória.
Eu namoro as palavras
até convertê-las em versos,
mesmo que algumas delas
não combinam com a estética poética,
mesmo que elas evoquem
sensações abjetas.
Às vezes, dou folga ao dicionário,
e as procuros em letreiros
ou muros pichados da metrópole!
Em jornais, em panfletos efêmeros
espalhados sobre a cidade,
sobre o chão!
Cada palavra tem a sua pretensão:
cada palavra é uma gráfica migalha
que um poeta sorve com gratidão!
Eu namoro as palavras
e também, às vezes,
eu procuro em você!
Já encontrei o fascínio,
o delírio, a vontade indômita,
a tola posse, a obssessão,
o sarcasmo
todo o orgasmo verbal!
Delas surgiram outras:
bem amadas,
traídas,
mau-amadas
rejeitadas:
encontro, dor, prisão...
partilhas, segredos,
ilusões...
sonhos...insônias e pesadelos
Eu namoro as palavras!
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