terça-feira, 16 de setembro de 2008

Tabernas Já Não Existem Mais...

Tabernas já não existem mais...

essas cavernas acolhedoras e sensuais

regadas de muito vinhos e desejos,

alardeados aos quatro cantos

ou confidenciais ao pé de ouvido

de quem já duvido que possa entender

a avalanche de palavras

que formam frases

já transtornadas pela inevitável embriaguês.

Confesso eu sou antigo freguês

que jamais conseguirá pagar pelo o que seu olhar me fez:

ele trouxe tantos sonhos

tanta paz em minha taça de cristal,

onde destilo a minha rara lucidez...

Tabernas já não existem mais...

porisso hoje durmo ao relento,

sentindo o frio em toda a sua rispidez

sem ter algo para me cobrir e me aquecer;

eu lembro de você,

quando, nas ruas, deixo verter

a lembrança da tua ardente nudez...
Tabernas já não existem mais..
.o clima medieval se evaporou no tempo...
a rolha da garrafa do gênio se desgarrou
e deixou escapar todo o encanto...
eu me lembro como se fôsse ontem,
quando entrei pela ultima vez
por uma delas com suas portas róseas...
Muita música...um frenético piano...
poetas declamando os seus versos dispersos,
vagabundos compartilhando seus ócios,
mulheres da vida...mulheres comportadas...
que desejaram fugir da afixiante rotina...
Jarras e jarras de vinho sobre as mesas
para celebrar o ritmo inebriante da vida...
circundadas de cadeiras que se esgueiram
para segurar a euforia ou a extrema melancolia
das pessoas, das vestes, disfarçes e trapos humanos
que nelas se sentam.
Tabernas já não existem mais...
e quanta falta ela nos faz!
Lá eu sempre encontrava os meus queridos amigos
e as minhas musas inspiradoras!
Encontrava Franz Kafka menos tímido e complexo
Dostoiévski com todas as suas cartas escondidas em suas mangas
e via em sua fronte a febre do jogo material e
sentimental,

escorrendo como uma inenterrupta fonte...
Via Toulosse Lautrec se embriangando em cores
para pintar os mistérios da Noite...
Eu via e ouvia Chet Baker, empunhando o seu trompete,
para interpretar a sua alma
-o lado romântico e o lado cafajeste-
o medo da vida e a coragem do suícidio...
Via também Bob Dylan sentar sobre a cadeira
e tirar delicadamente as botas empoeiradas
por um longo caminho e produtivo dia
que lhe renderam maravilhosos versos,
destilados em sua garganta e em sua gaita
que jamais se cansa de explorar os sons do Universo...
Tabernas já não existem mais...
e agora onde vou me recolher, me reconfortar...
Não vou poder mais ouvir Ana Cristina Cesar
declamar os seus versos suícidas...
Não vou mais poder ver a jovem Keidy
de cabelos e versos rebeldes,
de olhos virtuais,mas com um brilho tão nítido...
como eu vou fazer se tabernas já não existem mais...
se a Lei Seca foi reimplantada...
se da minha gang sobrou apenas a fama,
por onde passaram ,com seus surrados jeans e deslizantes tênis:
James Dean, Paulo Leminsky ,Ferreira Gullar
com os seus poemas sujos, mas sempre transparentes...
e tantos outros camaradas...
Tabernas já não existem mais...
só resta o gosto seco na boca...
a lâmina do punhal na garganta...
para nos devorar!

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Salve