quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Radiografia Intíma

Quem sou eu agora?
Eu já não mais me reconheço
Cresço! Envelheço!
caío do berço
destruo o terço
rolo a sarjeta
atravesso às cegas
desligado
hipnotizado
por um recente romance
ou impaciente
displicente
para fugir da dor da solidão
e ainda vejo a baixa infância:
as ladeiras e ruas sinuosas
com as suas calçadas supersticiosas
a inocência sempre posta à prova
as divertidas brincadeiras:
pula pula
pega pega
bate bafo
bola e pião
E agora vem o tempo
sem remorsos
- senhor invisível -
a esfregar esse mundo sujo
em meus olhos cobertos
de ramelas de químeras
Um mundo infestado
de traições e guerras
de intrigas sem tréguas
Quem sou eu agora?
e quem eu era
além da espera?
Eu já não mais me reconheço
Estou tão fora dos planos de outrora
Fora de foco
das órbitas encantadas
de olhos infantis
e ao mesmo tempo
dentro de um tempo que eu sei
mas reluto em admitir
que não pode mais existir!
Quem sou eu agora?
A memória que explora
que cava e maquia
o passado
nem sempre
passado a limpo

Juventude transviada!
energia mal dosada!
O limbo nos muros presentes
denunciam o embuste
que arrogante enruste
a verdade nua dos fatos

Quem sou eu agora?
a dúvida atroz
o meu próprio algoz
o arsenal maquiavélico
para se enganar a si próprio
Um James Dean fora de hora
veloz
ou um monge lesma que chateia
a minha aldeia
um resto de esperança
um rastro de amor
uma chama que vacila
quando a minha mão treme
e o meu coração oscila
entre o desejo que o escraviza
ou entre a renúncia que o sublima

ainda vejo alto
a compreensão da vida
mesmo ferida
mesmo retalhada


Carlos Gutierrez

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Salve