domingo, 4 de abril de 2010

Mexe meche comigo

Você mexe meche comigo
qual uma colher mexe meche dentro de uma xícara de café
oferecida a Pessoa em algum lugar aconchegante de Lisboa.

e então ele obedece o ritual de todas as tardes:
tira o chapéu, arranca do bolso uma folha de papel e uma caneta
e começa a escrever sobre a mesa improvisada
que sonha um dia ser uma cativa escrivaninha.
Entre goles e goles de café e baforadas de cigarros
ele escreve e exercita o ofício de criar personagens,
mais e mais do que personagens: pessoas em sua Pessoa
- anônimos heterônimos- que preenchem a sua rotineira vida -
qual um vestido sonha em preencher uma bela dama
e forjar as chamas nos olhos dos homens seduzidos pelos seus recortes ...
Você mexe meche remexe remeche os meus sentidos
O vermelho dos seus lábios
e o vinho dos seus mistérios
inebria e esclarece as noitea compridas
nas tabernas divertidas e descomprometidas do tempo
Licorizadas
Ouço jazz e charleston
Burlo a Lei Seca
Tiro o paletá riscado de giz
e abraço a taça do vinho rubi
que devassa os versos vermelhos
Vermelhos os meus olhos estão assim agora!
Lágrimas de sangue
soluços de saudade

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Salve