terça-feira, 6 de abril de 2010

Renovo

Não repara baby!
na minha cara assustada
Acordei confuso
difuso
Em que lugar eu guardei as minhas chaves
pela última vez?
Deu um branco em meu cérebro!
uma camada de neve
na massa cinzenta
travou a minha memória
preciso fortalecer as conexões sinápticas
Talvez um café bem forte e aromático
me jogue novamente para a realidade
e um pão com manteiga
ostensivamente amarela
iguais as penas de um canário belga
faça eu querer me dissolver
na aquarela de um novo dia
Quando eu mesmo senti prazer
de fazer a barba
moldar nuvens de espuma
deslizar a lâmina feito pluma
e borrifar de água velva 
o meu rosto
e ter a vontade de sentir uma  pele
que me oferecesse carinhos 
e esticasse feliz a minha epiderme?
Ah! faz tempo!
e aquele beijo silvestre
com gosto de morango
aquele longo beijo que suga
todos os desejos inconfessos
aqueles decotes
em triângulos e losangos
aquelas janelas perfumadas 
que eu procuro em seu corpo
há quanto tempo se fecharam
e filtram apenas luzes de lembranças
pelas frestas entre arestas de sonhos extras
Não repara baby!
na minha cara amarrada
de poucos amigos
e nenhuma namorada
Acordei com a roupa amarrotada
e o corpo ainda indolente
que ainda sente o cansaço de ontem
Em que lugar eu deixei os meus passos
Estava de tênis ou de mocassim
em alguma rua alternativa
que eu escolhi para escapar 
do itinerário da rotina
ou dentro de um shopping
repleto de vitrines convidativas
Hum...lembro vagamente
que flertei tolamente
com a fria manequim de cera
Eu ou quem estava à minha frente!
Depois desolado
entrei no cinema
e joguei os meus olhos
marejados de dilemas
sobre a tela para viver uma cena de amor
mas o filme era de guerra
Só violência e estampidos  de tiros
sobre os meus ouvidos
e eu saí  mais estilhaçado...
do que já era...
mas se você me espera!
eu faço a barba de novo
e sorrio com amor prá você!


Carlos Gutierrez

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