sábado, 29 de dezembro de 2007

Fernanda Rodante qUeB rAnDo o Pé Do VeR sO

Há tempos admiro a obra de Fernanda Rodante, uma jovem pintora que adquiriu, no transcorrer dos anos, uma sólida maturidade, sem perder, entretanto, a marca da ingenuidade que nos remete à infância, aos sonhos que sempre nos renovam . Suas telas são camadas sobrepostas de sensibilidade.Vejam o seu site www,fernandarodante.com ou espie a sua comunidade, nela há uma releitura de Guernica de Picasso, que adquiriu cor e contemporâneidade.

Abandono


CONVITE

Se você está desconsolada
parada sem saber o que fazer
Venha comigo!
e vamos ser amigos do prazer
Vamos flanar pelo boulevard
Quatro pés no chão
levando duas cabeças suspensas nas nuvens
contra a ferrugem dos ossos dos pensamentos
contra os nossos tormentos
Vamos brincar!vamos brincar!
Dançarinhar
voltar aos velhos tempos
Hoje John Lennon me confessou
que foi brincadeira quando ele falou
que o sonho acabou!
o sonho não acabou
o sonho jamais se acaba
às vezes apenas desaba
num pesadelo
Vamos
ao sabor da emoção
aos quatro cantos
aos quatro ventos
catavento
ventarola
cantarolar a velha canção na vitrola
Give me love! Give me love!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

METROPÓLIS

Metro a metro
te persigo...sigo...sigo...
te exploro...choro...choro...imploro...
no caminho reto
das tuas ruas sinuosas
nos feixes de luzes
cantos escuros
badaladas de sinos
cruzes de asfalto
ladeiras de memórias escorregadias
brechas perigosas
frestas tentadoras
janelas viçosas
cortinas assombradas
pessoas encolhidas
aspirinas engolidas
sonhos dúvidas dívidas tenebrosas
nas esquinas do medo
Segundo a segundo
te consulto
horóscopos mapas astrais
calendários jornais
ciganos profanos
cartas linhas fatais
Passo a passo
tento no ritmo lento
mudar
a feia face febril
da cidade fabril e feroz
o semblante triste e doente
de alguém perdido vadio e servil
Metro a metro
te procuro
e te encontro
nos painéis iluminados estonteantes
nos faróis dos veículos alucinantes
nos muros
fosforescentemente violados
nos bares
cabarés
arrasta-pés
nos corpos fatigados
nos copos mal lavados
nas xícaras condenadas
no café intragável
no whisky falsificado
nos olhos opacos
nas pálpebras cinzas
castigadas
pelo avanço das horas
pela fuga do sono
pelos sons gritos
estardalhaços
da metrópole
seus aspectos e espectros
que
metro a metro
vou seguindo
ou me levando
pela magia que irradia o áspero concreto
pelo mistério que suaviza o desesperador deserto
Pedra a pedra
vou montando
o mosaico da metrópole
prosaico projeto
de um desastrado arquiteto
que jamais dispõe de uma trena
pois os sonhos não são medidos
os sonhos...os sonhos...os sonhos...
são apenas interrompidos...
os sonhos..os sonh...os son...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Barco Explodindo no Mar


Quebrando o pé do verso

Este ano trabalhei como supervisor para o IBGE no censo 2007, mais precisamente numa cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes e com muitos prédios históricos preservados: Bocaina, cidade onde a minha falecida mãe nasceu. È um lugar tranquilo até demais para quem é tão inquieto, por dentro, como eu. O melhor, porém, foi conhecer o distrito de Pedro Alexandrino, um vilarejo encravado na zona rural de Bocaina, com pouco mais de 300 habitantes. Eu me senti protagonista da antiga série televisiva "O Túnel do Tempo". Parece um lugar onde literalmente o tempo parou, com sua antiga estação ferroviária e suas casas antigas, algumas estranhas. Preendo voltar, mas, dessa vez, compartilhar.

No centenário do grande arquiteto Oscar Niemayer, senhor das curvas, da arquitetura sensual, relembro a construção perfeita da letra da música "Construção" de Chico Buarque: ela é mais do que uma sequencia feliz de versos, ela é um roteiro perfeito para filmar e revelar a angústia humana.

CONFRONTO


Fruto do Instante

A compreensão que persigo amigo
não está aqui
definitivamente não irmão
Procurar em vão
também faz parte
dos caminhos que eu tenho
para seguir

Se trair o próprio tempo
é colher o fruto do lamento
também é uma forma de prosseguir

Reconstituir o caminho
pedra por pedra
tropeço por tropeço
em meio
as folhas flores espinhos e gravetos
parece ser à primeira vista
tarefa árdua extenuante
fastidiosa
todavia
num relance tudo eestá ao alcance
dos olhos vivos
pupílas brilhantes
da memória
sempre instigante
todo o pó acumulado
escorre
filtra-se
sobre os dedos
desconcertantes
de nossas mãos
que se abrem
para acolher
o fruto do instante.


dedicado ao maior intérprete da alma feminina
Chico Buarque de Holanda

domingo, 23 de dezembro de 2007

FLORESTA ENCANTADA


Jogador

Tens um lado doce
e outro selvagem
Duas relíquias incrustradas
numa única carta
Sei que contigo
feminino abrigo
não levarei nenhuma vantagem.
mas eu não me importo
e, aceito o teu jogo de sedução:
a chantagem do teu olhar,
o mistério do teu traje negro
e o blefe do teu desejado coração
mais difícil de conquistar
que um Royal Full Flash.
Tu sabes e brincas
docemente perversa
trancas e trincas
que eu sou um obstinado jogador
acostumado
entre trancos e trincos
a te perder
mais do que um obstinado, compulsivo
que insiste em te querer,
que joga até a última moeda
e, no derradeiro lance,
tenta...tenta,,,realizar contigo
um súblime romance.

Investigação de uma Paixão Fulminante



QUEBRANDO O PÉ DO VERSO

Eu adoro o disco Clube da Esquina, principalmente o primeiro, ele me acompanha há muito tempo pelas ruas, pelos becos, pelas esquinas da minha vida. Clube da esquina tem a magia de reunir toda a turma que se dispersou no tempo. È sempre reconfortante ouvi-lo do príncipio ao fim. Preste atenção em todas as letras, em todos os sons e burburinhos e você jamais se sentirá sozinho. O encanto de ter uma turma, um grupo, a profunda exaltação do coletivo."Para quem quer me seguir, eu quero mais, tenho o caminho do que sempre quis, invento o cais e sei a vez de me lançar"( um trecho da letra da música Cais de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos.

Acho que um blog não deve ser necessariamente chato, como muitos possam apregoar, Estou gostando de elaborar, mais pela expectativa de encontrar novos amigos do que por mera satisfação pessoal. O blog também está sendo muito útil para perpetuar os meus rabiscos e esboços, já que os papéis, os suportes estão em evidente deterioração.

ALEGRIA DE VIVER (Releitura de Matisse)


Passeio Inesperado

Parece tão normal que eu fique em casa
Afinal o tempo lá fora está tão desagradável
É natural que eu aproveite
me deleite sobre o calor familiar
Vestido com o casaco tão intímo
sentado à luz do velho abajur
ao lado da mesa
de um passatempo
aguardando o sono sem certeza de chegar
Contudo
apesar da porta trancada
das ameaças metereológicas
da calma aparente
começo a sentir-me irriquieto
como se ouvisse um grito
de um amigo em apuros
e abruptamente
troco o casaco
abro e bato a porta
com a exata violência
da irritação que julgo ter deixado para trás
com a devida urgência
que o momento é capaz de me ordenar
Caminho a passos largos
Conquisto as calçadas
Venço Dobro as trágicas esquinas
Atravesso as ruas
Me liberto a cada passo
a cada passo aberto
que não escolhe lugar para caminhar
enquanto que
gradualmente
uma neblina invade a minha mente
dela desvanecendo
as figuras as imagens queridas assíduas
e por vezes aborrecidas e incoerentes
Daí percebo
me vejo um vulto negro
firme e intrépido
batendo as mãos nas coxas
adquirindo minha verdadeira envergadura.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Sonho e Pesadelo


DÓCIL ESCORPIÃO

Se dos cantos escuros eu sei
Se de tantos apuros eu escapei
Se da solidão eu emprestei
toda a consciência de viver e morrer
de estar só e mesmo assim me querer
por que hei de temer
o que minha lúcida loucura não teme?
Quem bebeu do meu veneno
sabe que eu preciso
correr todos os perigos
desafiar as pedras da razão
para poder extravasar
a força dos meus sentidos
E agora mais do que nunca
mais do que uma paixão violenta
o meu coração experimenta
a rara emoção do pleno amor
(depois de tanta ausência)
Seja onde for
como for
o meu desejo não mais se aguenta
explode e arrebenta
ensanguenta
todos os obstáculos que nos atormentam
Mais do que uma cruel vingança
o meu ser se lança
com toda fúria contra a simples esperança
e avança
seja onde for
como for
por amor eu morro
só por amor me peço socorro
para viver
Eu não consigo ser amigo da mentira
a verdade é a minha vingança
e a sua dor é a ira
que provoca a minha lembrança
Dócil escorpião(eu sou)
que apesar de tudo
alcança o perdão (e dou)
e lhe espera
e entrega sua vida
por uma passageira união.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

ENCONTRO


Mosaico

Nossos pedaços
virgens
puros
dispersos
nos caminhos
de pedras
pálidas
cálidas
cascalhos
em nossas vidas
desertas praias
imersos
num mar
de pecados
onde um desejo
se afogou


Nossos restos
ternos
de amor
que ondas
o levaram
em que terra
aportaram?


Pedras rolando
cada qual uma estrada
Pedras clandestinas
frágeis muralhas
que um dia
o tempo juntou

Vida Rural


Auto Retrato

Do expresso ao abstrato
fiz meu auto-retrato
`sua semelhança
trêmulo esboço
carvão, esfuminho
linhas interrompidas
riscos ferindo o papel
vincos profundos de dor
contra a suavidade do aveludado pastel
alguma curva ainda sensual
algum traço ainda sereno e feliz
descoberto pelo giz Bisnagas de tintas
paleta de cores mórbidas e vivas
o branco chumbo oposto
ao vermelho carmim
Espátula e pincel
carrossel de cerdas
camadas sobrepostas
pastosas
pingos de tinta e sangue
que escorrem em profusão
num alvoroço pictórico
Do expresso ao abstrato
fiz meu resto-retrato
uma retrospectiva de fracassos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Brisaudades

Atravessar o tempo
às vezes lento
às vezes veloz
Veluz
Suportar o vento feroz
Furacão furaluz
em brandas recordações
Brisaudades
Domar as horas
Viajar viajar viajar
sem passagens
Rasgar o véu de virgens paisagens
de faces e frontes
medo e coragem
Rasgar o anil turbante do céu
agarrar estrelas
unir passado presente futuro
ser uma luz no escuro
do túnel do tempo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

CARROSSEL

Cavalos
cavalinhos
de todas as cores
de tantos meninos
Cavalgam
em círculos
unidos
num súblime tropel
Gira gira
o carrossel
sobre os meus olhos
ainda tão crianças
rasga o véu
da minha perdida infância
É como se eu estivesse
sobre o dorso de um corcel alado
É como se eu fôsse levado
pelo futuro sem rédeas
num tempo selvagem
indomável
Cavalos
Cavalinhos
estalidos mecânicos
de todos os sons
menos de um galope enfurecido
Cavalgam
pela mente
de um homem
sem destino
Cavalgam cavalgam
a frente de um olhar panorâmico
e virtualmente
clandestino

Tecer a Vida

Tecer a vida
com sedas de sonhos
com sedas que excedam
as cenas mais belas
já vistas
dos mirantes, das portas e das janelas
despidas cruelmente nuas
ou irrepreensivelmente
vestidas
camufladas
Tecer a vida
e apetecer os desejos
da alma e do corpo
do líquido e do cálice
derramar
o vinho gratificante
vermelho e errante
rubi e delirante
sobre a mesa sempre muda e brilhante
não sucumbir
aos ataques de nervos
aos desígnios da paixão
ser o amo e o servo
Tecer a vida
fio a fio
com emoção
fiapos, trapos, novelos
costura-se a vida

Intolerância

Pinga pinga
insistentemente
todas as torneiras
choram sobre as frias pias
gota a gota
sobre o mármore
sobre o aço inoxidável
pinga o som
sobre os meus ouvidos torturados
e entram penetram
esses intervalos de gritos
entre os silêncios aflitos
não consigo dormir
pingam pensamentos
lembranças planos
mirabolantes e medíocres
pingam pingam
escorrem sobre o meu corpo indefeso
pingam pingam
gotas de suor
despejam-se lamentos
e me afogo em tormentos
pinga pinga pingam
líquidas turbulências
chuvas tempestades
granizos que entopem a mente
não consigo sonhar
a vida tem sido um bueiro de pesadelos

Jogo de Cores

Na paleta dos meus devaneios
Sonho uma paisagem lilás
e tento conquistar o exato vermelho
um vermelho audaz
que seja espelho
de uma avassaladora paixão
o exato vermelho
vivo fogo sangue desejo
dos teus lábios da cor de cereja
do encanto de rubis
do frescor de romãs
Tento também no negro
encontrar o exato brilho dos teus sedosos cabelos
um fio de luz no novelo das sombras
e no marron avelã
dos teus olhos plenos de mistérios
a aurora da manhã grená
e o fascínio da madrugada madrepérola
Tento colher o mais puro amarelo
ouro valioso e singelo
do girassol mais belo
e do canário mais livre
que possamm existir
florir, voar e cantar
puras pétalas douradas
um sol em flor
prá te ofertar e afastar
todo o cinza que resiste entre nós
cinza-chumbo de silêncio atroz
cinza melancolia que nos deixa tão sós
e fazer florescer entre muitos verdes
musgos esmeraldas
mares malvas
uma relação tranquila e azul
turqueza sob o céu anil ou cobalto
com o brilho de prata
que resgata o branco sereno do amor
o branco da espuma do mar
da casa aconchegante revestida de branco da cal
do teu traje de princeza
misturado ao violeta
que inspira o nosso amor
Certo que a paixão mistura todas as cores
embaça todas as paisagens
forja miragens
improváveis arcos-íris
soluções mirabolantes
mas a tua imagem será para mim
sempre rosa
Rosa perpetuamente
perfumada.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Poesia sempre

Muitas coisas passam sobre nossas vidas
coisas boas coisas más
todos temos que nos precaver
e nos preparar
pois nenhuma delas vem nos avisar
quando vai passar
Porém, se quando a Poesia
passar sobre a sua vida
sob os seus olhos
entre as feridas
dentro das veias
fora dos eixos
não deixe ela escapar
porque os versos
sempre serão os melhores instrumentos
para suportar as coisas más
e prolongar as coisas boas
os versos...sempre os versos...
brancos,curtos, densos,
longos,absurdos,abstratos,
concretos
os versos...sempre os versos...
controversos,controlados,perversos,
desesperados,dispersos,
os versos...sempre os versos.

Salve