quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

METROPÓLIS

Metro a metro
te persigo...sigo...sigo...
te exploro...choro...choro...imploro...
no caminho reto
das tuas ruas sinuosas
nos feixes de luzes
cantos escuros
badaladas de sinos
cruzes de asfalto
ladeiras de memórias escorregadias
brechas perigosas
frestas tentadoras
janelas viçosas
cortinas assombradas
pessoas encolhidas
aspirinas engolidas
sonhos dúvidas dívidas tenebrosas
nas esquinas do medo
Segundo a segundo
te consulto
horóscopos mapas astrais
calendários jornais
ciganos profanos
cartas linhas fatais
Passo a passo
tento no ritmo lento
mudar
a feia face febril
da cidade fabril e feroz
o semblante triste e doente
de alguém perdido vadio e servil
Metro a metro
te procuro
e te encontro
nos painéis iluminados estonteantes
nos faróis dos veículos alucinantes
nos muros
fosforescentemente violados
nos bares
cabarés
arrasta-pés
nos corpos fatigados
nos copos mal lavados
nas xícaras condenadas
no café intragável
no whisky falsificado
nos olhos opacos
nas pálpebras cinzas
castigadas
pelo avanço das horas
pela fuga do sono
pelos sons gritos
estardalhaços
da metrópole
seus aspectos e espectros
que
metro a metro
vou seguindo
ou me levando
pela magia que irradia o áspero concreto
pelo mistério que suaviza o desesperador deserto
Pedra a pedra
vou montando
o mosaico da metrópole
prosaico projeto
de um desastrado arquiteto
que jamais dispõe de uma trena
pois os sonhos não são medidos
os sonhos...os sonhos...os sonhos...
são apenas interrompidos...
os sonhos..os sonh...os son...

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Salve