sábado, 2 de julho de 2011

Meninos da Rua Paulo ou de qualquer terreno baldio

quartos sem ar
abafados
janelas tristes
sem paisagens
vidros embaçados
ensebados
em todos os dias
úteis fúteis sábados
domingos e feriados
móveis escuros
guarda-roupa mofado
camisas fora de moda
dormindo em cabides cansados
jeans desajustados
que não mais desbotam
e perderam o contacto
com dias azuis e claros
camisetas espremidas
bordados descolados
frases sem efeitos
no tempo presente
figuras pálidas
um James Dean
que perdeu o brilho
do seu invejado cabelo
o ímpeto a sua velocidade
a melhor idade
um Che Guevara
com a face amarrada
com sequelas das amordaças
e os olhos desgastados
um Ferenc Moldar
e os meninos da rua Paulo
dentro de uma negra camiseta
que imita
o terreno baldio
o grund 
o que já foi reino  uma planície
o estepe
o espaço de uma infinita liberdade
aquela vontade de sentir sempre na boca
o gosto dos doces húngaros
o terreno baldio
hoje rodeado pela promiscuidade urbana
a cidade cigana
com suas silenciosas ciladas
e os seus gritos metálicos
o esmerilhar da guitarra de Edgar Scandurra
o metabolismo da metrópole
atmosfera asfixiante
e o tempo feliz tão distante
por isso eu lhe procuro
em todos os instantes
quem sabe você aceite o meu convite
para irmos ao cinema
e sonharmos juntos um paraíso
eu lhe procuro
dentro do redoma de cristal
de um antigo relógio
ou dentro de uma vitrina
de uma loja atraente
repleta de brinquedos antigos
que sugam os olhos gulosos
dos meninos da rua Paulo
ou de qualquer um terreno baldio
Eu lhe procuro...
dentro mesmo do que já foi um terreno baldio
um improvisado campo de futebol
ou um forte com todo o arsenal 
cheio de canhões
relevantes mirantes
que alimentaram sonhos vadios
errantes...por isso...entenda
eu lhe procuro no fundo de um cantil
para matar toda essa sede




Carlos Gutierrez

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Salve