quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Djavan - 60 Anos


Viver de amor é a sua sina
em cada palavra
em cada som
que ele tira
trata e burila
no escuro dos becos
ou na claridade da amplitude das esquinas.
È a sua sina
é o seu afã
da madrugada ao amanhã
a procura samurai incessante
do amor que salva e alucina
que mostra todas forças e fraquezas
todas as humanas sutilezas
em cada letra concluída
derretida nas mais ardentes e lilazes
fogueiras de versos
em cada música pronta
que confronta todos os barulhos e ecos do Universo
e engravidaa poesia com mais rimas
que o ventre da inspiração
pode comportar
Ele saber extrair
de cada som um burburinho
um segredo
e de cada palavra
o diamante do desejo!
O amor não tem idade
não tem límites
basta o ensejo
a mínima fresta
o interstício
microscópico orifício
para se manifestar
um raro olhar
de um puro voyeur.
Viver de amor é a sua sina
e seu alíbi
em cada canção
repleta de pétalas
ele sempre guarda uma nota
uma esquecida palavra
uma semente prá vingar em outra música
que logo vai brotar.
Viver de amor é puro êxtase
que faz a gente sempre brilhar!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Delicatesse

Delicatesse
suspiros
tortas de morangos
sonhos
esparramando cremes
crepes
tudo tão doce
o mel que cresce
dentro da colméia da tua boca
o açúcar desafiando diabéticos
o chá das cinco
a chuva fina
o fog
a lembrança londrina
o rosto de porcelana
Doze numeros romanos
do Big Ben
lembrando-nos
que existe o tempo
o tempo e seus límites.
Você está tão bem
com seu novo corte Chanel
e as suas novas vestes
onde o negro prevalece
com sutis toques vermelhos
Delicatesse
só falta declamar
um poema
repleto de confissões!
Delicatesse
esse lindo dia lhe merece
como a alegria em toda kermese!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

REVOLDYLAN


Te lembro mais na madrugada!

Revoada de sonhos!

Paris em chamas!

Luzes trêmulas da insônia!

Procuro no alto da igreja

a confidente coruja

Não fuja dos meus segredos!

Procuro em seus olhos enormes e arregalados

dissolver os meu olhos fatigados

e entorpecidos de medo

molhados de lágrimas

que se congelam em orvalhos.

Abro a cortina vermelha

como quem rápido rasga uma carta de adeus

Cortina vermelha!

que já foi ferro e ideal

sonho de Oscar e saramagos

hoje é apenas o embrulhode um dilema.

Só resta ouvir Dylan

sua voz fanhosa e Dylancerante

só Dylan pode poetizar a revolta!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Pele


Não repeles
a minha pele
que se estica toda
e perseguea tua suave
epiderme
Não repeles
a minha pele
que expele carinhos
por todos os poros
e somente seca
e se apetece
quando todo o meu amor
se destila
e no clímax da paixão
evapora todo o meu desejo!
Não repeles
a minha pele
e vele
o que ela dentro
esconde.

Procura

Eu ando procurando versos...
procurando rimas...
procurando dias de Vinicius sem fim..
e noites de amores eternos...
as vezes resvalo em sonhos
e outros por sorte
encontro-os colados em minha pele...
então basta transferí-los
com todo o esmero de um calígrafo
e afinco do esmerilho de palavras brutas
para o peito aberto e amigo
de um carente caderno...
eu ando...ando..desando..
mas sempre amando...
procurando o brilho da vida
dentro dos olhos de alguém
onde flutuam estrelas!

UM POEMA E A SUA META

UM POEMA
IMPLORA PALAVRAS
OU PELO MENOS
FRAGMENTOS VERBAIS
PALAVRAS EXPLORAM
O QUE TODOS OS SENTIDOS
NÃO PODEM MAIS
UM POEMA REBUSCA
VOCÁBULOS
DISPERSOS
OU ENTALADOS
UM POEMA
PROCURA PALAVRAS ESQUECIDAS
PARA TORNA-LAS BRILHANTES
OU PALAVRAS FRÁGEIS
PARA REVIGORÁ-LAS EM UM INSTANTE
UM POEMA
POR MAIS QUE O ESPREMA
SENTE VONTADE
DE SER AMPLO
MESMO QUE DISPONHA
DE ESCASSOS VOCÁBULOS
DE HESITANTES TEMAS
UM POEMA
ESCORRE VERSOS
MESMO QUE NÃO HAJA
MAIS PAPEL SUFICIENTE
PARA APARECER

Chuva


As gotas de chuva

são mais do que pérolas líquidas:

são versos molhados

caídos do céu

que abastecem rios,

formam poças e reflexos,

embaçam vidros,

despertam janelas,

refrescam pensamentos

e escorrem sobre os olhos

inundados de saudade!

Chuva!

abençoada chuva

lave o meu corpo e limpe a minha alma!

para que eu livre da sujeira das ruas

e do rancor de almas impuras

possa Gene Kelly feliz

dançar na chuva!

protegido apenas pelo guarda-chuva

aberto da sua doce lembrança!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Pele a Pele

PELE A PELE
Eu quero a aderência de todos os meus sentimentos
em tua pele!
Eu quero que seja mais do que aderência!
Eu quero ser cicatriz,
enquanto inédito contato
e, depois, tatuagem,quando ela, voluntária, viajar
na verdade transpirante do meu tato.
Eu quero o toque mágico dos teus dedos,
percorrendo a superfície de todo o meu corpo
arrepiado de medo em não te agradar.
Eu quero o desafio do teu gelo
para que o calor do meu desejo possa evaporar.
Eu quero o teu domínio para a minha total entrega
Todo o teu fascínio em minha mais pura
e translúcida janela da contemplação!
Eu quero o teu perfume,
entorpecendo todo o meu cérebro.
Eu quero as tuas dúvidas e mistérios
para que eu possa descobrir ou inventar
todas as armas para te conquistar
e para me virar de avêsso
e, finalmente, próprio me encontrar!

domingo, 11 de janeiro de 2009

Barbara II


Um poema só não te define


um poema só não te interpreta


minha poetiza predileta


preciso pelo menos de dois


um antes


outro depois


para ter a sensação do constante


do durante


do eterno gás


jamais fulgás deste refrigerante


pelo menos dois poemas


um que seja abelha


outro que seja néctar


um que seja flor


outro que seja borboleta


um que seja estático


para lhe contemplar


outro que tenha o efeito bambolê


prá seguir todas as voltas


dos seus versos


e dos seus encantos


tão bárbaros


e porisso


raros


caros


caramelizados!

Gato e Sapato


Gato e Sapato
Me faz de gato e sapato
Miau Miau Plac Plac
sou teu percevejo
teu carrapato
e se eu te pernilongo chatear
Bzzziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
sou apenas janela indiscreta
James Stewart
luneta atrevida
ataque de pássaros
que atravessa a treliça
do biombo onde o teu corpo
em nudez se espreguiça
me faz de gato e sapato
Miau Miau Plac Plac
de gato o teu carinho
de sapato o teu caminho
de gato o teu pulo de alegria
todo o pêlo que arrepia
de sapato o meu tombo de encanto
que escorrega na tua alquimia
me faz de gato e sapato
de tonto e zonzo
me engana com Bonzo
dizendo que é Friskie
e eu te dou as minhas sete vidas
e calço os sapatos em minhas patas
e não pulo mais o s telhados vizinhos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Consciência

Eu não tenho absolutamente nada!
e ando pelas ruas
e calçadas
pensando ter o domínio de tudo!
pensando estar imune aos acidentes
aos passos tresloucados dos transeuntes
não me perguntes
por que sou assim
tão desligado!
e, ao mesmo tempo, concentrado
em querer desvendar o mistério do viver!
e afinal por que correr atrás do vil metal
da paixão fatal do amor puro
do virgem muro para ser pichado
Temos tanto tempo!
jogamos tantas horas fora!
quantos segundos mesmo sentimos
que fôssemos felizes por inteiro?

Fonte da Antiguidade


Barbara Leite


Uive cão maldito!
Pois a noite não redimiu o dia
e as asas continuam enfermas
e em coma
Continue uivando,
que acentuo a dúvida em Deus
nesta noite isenta da música
da chuva
Hoje é como se fosse oitenta e seis anos
sem baile da saudade
sem unhas feitas
sem necessidade
Insisto no diagnóstico de Alzheimer pelo menos
agora
Passeio no Parkinson de meus toques
Esboçando-me um sorriso fingido
E tudo isto é porque é sábado
e eu não sei me despir
de minhas muralhas

Fonte Seca

E é tão pálido o dia lá fora!
e é tão cálido o cálice do desejo
que nem seduz os teus lábios
nem revigoram as tuas asas
já não uivas
sussurras passados temporais
sem poças para refletir tristes semblantes
sem estilhaços d'água
para quebrar vidraças
e a noite passa tão seca
igual a garganta
que não pode gritar o teu desejo
e tudo isto é porque acontece
num dia repleto de tolos compromissos
cercados de muros
pichados por disconexas frases
e velhos cartazes de uma festa
num sábado que já se foi.



Resposta ao poema " Fonte da Antiguidade" de Bárbara Leite

Salve