terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Alfabeto em Asas de Borboletas




































Borboletas
em suas frágeis asas
levam letras
para compor poemas no ar
borbulham letras
no céu
da imaginação de quem sabe sonhar
fotos de Kjel Sandved









sábado, 26 de janeiro de 2008

Fernanda Rodante a Pintora de Sonhos


Discoteca Packard

mais um escorregão em Santiago do Chile


Quando eu passo pelo cruzamento da Suécia e Providência
o meu coração rejuvenesce
e, quando eu olho para a réplica do Packard,
explodindo da marquise
o meu corpo todo se estremece
em gestos puros de emoção.

Trata-se de um pub dançante
dividido entre ambientes
rosas chocantes
que estabelecem os contrastes
ternamente conflitantes.

As mesas repletas
de copos, garrafas, cinzeiros,
guardanapos e delicados porta-fósforos
para incediar momentos lisonjeiros.

Mimosas garçonetes
se integram ao ritmo extasiante
e mantém o clima.

Acima da pista
sobre os anjos rebeldes
há outras mesas
outros planos
outras musas para traduzir.

A Discoteca Packard tem a magia
de restabelecer a juventude
e estimular a desenvoltura
de todos os membros e sentidos.

Hoje eu presto muita atenção
no som emitido pelos pratos da bateria
eles são os verdadeiros guias
do ritmo alucinante
que ora nos contagia.

Nas paredes rosas iluminadas
há um opaco retrato em branco e preto
de um sólido Packard
tão sólido como o passado
que se desmancha no instante presente.

Eu mesmo jamais me esqueço
que um, vários dias foram diferentes:
duros, ásperos e delinqüentes.

Agora eu posso e rejuvenesço
Pobre daquele que cedo envelhece
e não obedece os desígnios do coração
e o encanto dos sentimentos em profusão.

Sutis pigmentos rosas florescem do teto
da Discoteca Packard
Pequenas transgressões ocorrem dentro dos banheiros.
Tudo é válido
deixo girar
como os ouvidos giram quando ouvem Chet Backer
e o seu sentimental trompete.

Hoje eu sou o centro
e amanhã...quem sabe possa ser
o alvo de um doce tormento.
















sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ESTIMA

Você é e sempre será o meu melhor verso
a minha mais perfeita rima
a minha eterna inspiração
Em sua terna presença
ou em sua ausência
face e reverso
sempre nascerá um poema
dentro do meu coração.
Um sonho quando se realiza não tem preço,
apenas posso pagar com o apreço e a minha devoção.
Um reencontro é mais que um encontro
é um acúmulo de emoções!
Como externar tudo isso numa palavra que seja a justa rima?
Encontrei e para você que não desprezou os meus puros sentimentos
eu digo:
estima...tima...rima...e...sublima.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PASSEIO


Charleston

Posso entrar amigo Franz Kafka?
Vim lhe fazer um convite!
Largue um pouco os seus escritos, os seus livros lidos, relidos ou interrompidos
Vamos passear, você precisa espairecer um pouco e esquecer os seus conflitos internos e externos
Vamos ao clube noturno!
Está muito frio aqui em Praga
e dentro do clube noturno há o calor que necessitamos
para descongelar nossos frágeis corpos
e nossas vulneráveis almas.
Vamos! não hesite!
Você precisa conhecer a nova dança que está tornando-se uma febre
É o charleston, cujos movimentos rápidos e esfuziantes competem com a mais rápida das lebres
O seu ritmo contagia! é uma verdadeira magia que envolve e ludibria todos os presentes!
Convenci! vamos! não temos nada mais a perder
porisso somos perigosos aos olhos daqueles que só sabem vencer
e, hipócritas ao extremo,que consideram apenas os donos do poder.
Viu! não lhe falei como é fascinante!
E Franz respondeu: você tinha toda a razão!
Olha só aquela moça! de lábios vermelhos como frescas cerejas,
de cabelo negro cortado em perfeito chanel
Ela é linda! nem precisa falar!
seus olhos dizem tudo que um homem carente de amor quer ouvir
E eu lhe respondi: Essa moça que você aponta ela realmente nem precisaria falar,
Ela é para a dança como Teda Bara é para um película do cinema mudo
Sua presença por si só diz tudo
mas amigo ela fala e como fala bem fundo à alma de quem lhe pede guarida
Ela se chama Ana e também Cristina
às sextas e sábados empresta o seu charme e fulgor ao clube noturno
e aos domingos vai aos recitais de poesias e externa, em viva voz, o seu eu profundo!
Pena que a noite acabou, o clube noturno fechou
e nós, dois cães vadios, voltamos às velhas ruas.

PÉTALAS RUBRAS


Pétalas rubras
ninguém há de furtar
ou prender o teu encanto!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ana Cristina Souto = Poetiza que hipnotiza e seduz


Areia Movediça de Ana Cristina Souto

Tentar debater-me - sair de ti -
Afundaria mais e mais

Assim -
Prefiro a inércia
a morrer soterrada,
sem o teu ar...


http://nasescuridoes.blogspot.com/

Estranhos

Malgrado
sermos estranhos
parece que eu já te conheço há tantos anos
acontece que tu estivestes sempre em meus planos
Teu sorriso é o mesmo que imaginei
e os teus olhos meigos
leigos do rancor
são aqueles que pelas estradas tortuosas da vida
eu me guiei
faróis amigos
estrelas reluzentes
porto seguro
para atracar um grande amor
e nele acreditar


Malgrado
sermos estranhos
eu te esperei em todos os momentos
até que o tempo tivesse tempo
até que o vento virasse brisa
até que a flor desabrochasse no jardim da minha vida


E o tempo teve tempo
e o vento virou brisa
e a flor desabrochou
em pétalas rubras
quando tu cruzastes
qual flexíveis hastes
o meus caminho
e mudastes
o meu destino
antes entulhos
trastes e
espinhos.

domingo, 20 de janeiro de 2008

FÚRIA DO MAR


Patty a Vida Prossegue

Bem amigo Dylan, voltamos à realidade
pés no chão, temos que prosseguir,
cumprir nossos destinos.
Estamos vivos não?
Gostou da exposição?
Se eu pudesse entraria numa das belas telas
profundas de Fernanda Rodante
e não mais retornaria
ao sujo, chato e hipócrita cotidiano.
Vivo por viver...e vão passando os anos...
Se eu estivesse perdido, agora, nas profundezas
de uma tela de Fernanda Rodante
eu encontraria, com certeza, o mundo que eu gostaria de viver.
E se desse mais sorte ainda encontraria a doce Patty que eu não quero nunca esquecer.
E consumado o encontro eu seria corajoso pelo menos uma vez na vida
para declarar todo o amor que eu sinto por ela.
Dylan, meu amigo porque demorei a lhe encontrar e ser como você é; sem papas na língua, sem medo de expor e fazer jorrar todos os sentimentos.
Minha vida seria bem diferente, amigo,
tendo o abrigo do doce olhar de Patty.
Eu seria mais aplicado nos estudos,
mais consequente na minha conduta e atitudes e
mais tolerante só para não perder Patty em nenhum instante.
Mas a vida não é como a gente quer.
A vida é uma luta desigual contra o tempo,
é um adaptação constante às circunstâncias e distâncias
nem sempre complacentes.
Dylan, só temos a imaginação a nos defender.
O saguão da exposicão tem o seu horário de abrir e fechar
fui abruptamente arrancado da tela,
mas esqueci lá o meu coração chorando lágrimas vermelhas.
A vida prossegue...

sábado, 19 de janeiro de 2008

O ENCANTO DO TANGO


Noites de Chuva

ouvindo Speak Low com Camilla Ines


O calor dos metais
Um convite sensual
a dois corpos fatais
desertos
iguais na carência de afeto

Fracas luzes
Penumbra que deslumbra
Fragéis taças
Palavras esparssas
sussurradas em tom de segredo.

A música solta no ar
em seu ritmo inebriante
leva e afasta os nossos medos constantes
hipnotiza nossos corpos distantes
aliviando-os do peso
da solidão incômoda.

É noite
aconchegante sombra
delirante sonho
que assombra
dois seres antes tão ausentes.

Noites de chuva...
o som de uma gaita distante murmura...
e apura o momento.


poesia em som http://www.myspace.com/camillaines

poesia em cores www.fernandarodante.com
www.fernanda.da.ru

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Bicicleta de Fernanda Rodante


Pedalando sobre as cores de Fernanda Rodante

BICICLETA

pedalando em palavras
Bicicleta
simples e ao mesmo tempo eclética
surge de forma discreta
ora sobre o terreno plano de uma arrojada estrada
ora sobre o terreno íngreme
de uma pacata rua quase deserta
Surge se desenvolve
pelos mágicos aros móveis
apoteose estética
num exercício solidário com o ciclista
que determina o ritmo
impõe as marchas
e define a pista
Bicicleta
a simplicidade em comunhão
com um complexo de peripécias
mecânica atleta
com seu esguio garfo
imponente quadro
intrépidos pedais
responde com graça e leveza
a aderência do tapete de asfalto
e a aspereza concreta das pedras
e abstrata dos buracos
cavidades densas de perigos
saliências do fascínio do Destino
Bicicleta
leva sobre seu selim
sempre um menino
não importa a idade
juventude sem fim
e sobre ele leva
sempre um sonho
não importa a realidade
e deixa atrás de si marcado
um estreito rastro paralelo
um caminho livre
para quem sabe em um outro sonho
ainda mais belo
encontrar o seu elo
e possa dentro da realidade
singelo
prosseguir

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Bailarina de Fernanda Rodante


BAILARINA -poematização da tela de Fernanda Rodante acima

Tento acompanhar os teus movimentos
mas não consigo
luzes e sombras que se alternam em teu vestido
pelos suaves flancos do teu corpo mágico
O brilho falso atalho
deste labirinto feminino
me cega e esfrega meus olhos em químeras
entorpecidos
Fernanda empreste-me teus olhos rodantes
para que eu possa captar todos os mistérios desta dança
deste corpo adulto puro vulto de criança
alegre leve
breve brisa
romântico vendaval

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Garoa

poematização da tela abaixo de Fernanda Rodante
Gotículas brilhantes
caem do céu
sobre cabeças e chapéus
formam poças d'água transparentes
sobre as ruas deslizantes
e renovam paisagens embaçadas
enquanto os punhos ocupados dos transeuntes
pelos cabos dos guarda-chuvas
com suas varetas poéticas
fecham-se contra a violência
e acenam carinhos.

GAROA de Fernanda Rodante


domingo, 13 de janeiro de 2008

CHAMA

De algum lugar eu te conheço
Não sei o teu nome mas um te ofereço:
Chama
Fulgurante inflama os meus olhos viajantes
Chama
quanta luz derrama
sobre o meu sómbrio caminho
quanta luz seduz
a minha própria sombra.

De algum lugar eu te conheço
de um castelo abandonado
de um navio fantasma
de um lago encantado
sei lá!
De algum lugar eu te conheço
Não sei o teu nome mas um te ofereço:
Chama
Fulgurante estrela que flutua no céu
Risca a lua
Vermelho véu.

Chama
quanta luz derrama
quanto brilho espalha
Réstia de sol que na noite esparrama
um clarão
Estrela no chão que me chama Chama
Não sei se este é o teu nome
mas a ele obedeço
me entrego de corpo e alma me ofereço às tuas labaredas.
Do teu calor eu preciso
corpo celeste incandescente
quanto da tua luz
chama derradeira

E chamo Chama
Clamo luz
Fogo eterno
Estrela guia
Farol da minha vida
me conduz
ao porto
que é o teu corpo
à porta
que é a tua alma
Reluz Chama Reluz
no céu da minha vida.

sábado, 12 de janeiro de 2008

ENCONTRO NO BAR


Cão Vadio

Procuro um canto
prá me abrigar
Chove a cântaros
não vou suportar

A rua está deserta e tão fria
Não há nenhuma alma bondosa
ou mesmo sequer frondosa árvore
prá me proteger

Longa e deserta rua
palco do meu sofrer
nenhum consolo insinua
como é difícil viver!

Viver de migalhas
perdido e humilhado
com a sensação de ser
sempre algo que atrapalha
Estorvo no caminho
dos automóveis alucinantes
com seus faróis implacáveis

Longa e deserta vida
resistente ferida
que não se dá por vencida
atravessando às cegas
as ruas tortuosas do tempo
espalhando gritos
aflitos e
solitários.

Fuga e Desespero


Perdidos na Noite

Perdidos na noite estamos...
perdidos no seu fascínio
Perdidos na noite somos
incorrigíveis corujas
estrelas sujas tentando brilhar
no palco das ruas
Perdidos na noite vamos
movidos pela sedução
de um novo caminho
possível amanhecer
Perdidos na noite
sonhando de olhos abertos
No escuro todos os passos são incertos
(há um certo encanto nisso)
e é porisso que mantemos firme
o compromisso com a noite
onde a lua é o único refletor
e o orvalho é a lágrima que o dia
-frustrado ator- derramou .

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Devoção


DESEJO

Eu desejo que cada palavra deste poema, baby
quando você ler deixasse de ser apenas palavra
jogada ao vento para se converter em carinho
que cada palavra tivesse o poder de penetrar na pele
como espinho que não fere
mas apenas deixa a marca do amor que eu sempre lhe dediquei
com devoção
Tá certo! muitos vão dizer com suas vozes maliciosas:
você a desejou porque ela era a mais bonita, talvez a mais cobiçada
porque se você andasse de mãos dadas entrelaçadas com as suaves mãos dela todos iriam morrer de inveja!
É verdade isso! eu não posso negar
havia a atração o desejo de conquistar e sentir pela primeira vez
o lado perverso do ciúme
e o temor da provável perca
mas por trás disso eu soube sempre
mesmo na minha ingenuidade e inexperiência
qual era o meu lugar nessa estória
porisso eu fiquei ausente
porisso eu sempre fui um cão vadio em sua frente
o que você não conseguiu evitar, baby
foi segurar a minha imaginação
você foi a minha princeza
a minha fada
a minha Patty Duke
a minha amada
a minha mulher ideal
que eu nunca tive no plano real
mas que nos meus sonhos
esteve sempre presente
grudada no meu travesseiro
como uma obsessão
que me trouxe mais paz do que ansiedade
Eu tive o privilégio de lhe conhecer baby
e isto não acontece todo dia
é uma verdadeira loteria um golpe de sorte eu me apaixonei desde o primeiro olhar
como explicar essa encantada insensatez
como sair desse envolvente carreTEL MAravilhoso de linhas que se convertem em versos.










quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Santiago

Há uma cidade estranha
onde habito
uma cidade linda
formosa
povoada por árvores frondosas
casas e edifícios imponentes
linhas arquitetônicas arrojadas
talhadas pelo tempo
uma linda cidade
salpicada de encantos
porém estranha...
todavia
intrusa e difusa me acompanha
concreta musa
de alma aparentemente deserta

Há uma cidade estranha
onde habito
e nela tento conservar
o hábito de silenciar-me
quando dentro de mim
se avulta o grito
a materializar
a angústia
o pavor infinito

Há um clima seco
na cidade estranha
onde habito
sinto na garganta
na pele nas mais profundas entranhas
a secura
que a fissura do tempo provoca

Há um apartamento estranho
onde habito
um lindo apartamento
localizado estrategicamente
em frente à cordilheira
um apartamento lindo
onde habito
repleto de comodidades
poderia até chamá-lo de lar
mas claro que não é
mas claro que é apenas
uma passageira morada
um efêmero repouso
para uma alma conturbada

Há uma nova situação
assimilação de novos hábitos
e perversas ausências
o choque do contraste
entre as aparências e transparências

É como se o tempo
aprisionasse no mesmo momento
o sofrimento de um feto
arrancado do útero abruptamente
e o encantamento de um ser
ao nascer lentamente

Há uma paisagem interior
dominando as janelas
seduzindo os meus olhos
sentinelas
vence-se o sono
mas jamais o sonho
que submitamente nos apodera
São outras árvores
outras flores
otras calles
otras personas
nuevas personagens

E há uma paisagem interior
desenhando-se
vagamente
dentro do meu peito
são linhas longas e ondulantes
atravessando
os becos sem saída
pulando os muros
desvendando os labirintos de Santiago
seu frio afago
congelando a minha memória
embaçando as minhas retinas
forjando o lago.


morei 6 meses em Santiago e senti o frio de verdade!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Caminhada


Morena Bossa Nova

Chico Buarque à nossa amiga em comum

Sua imagem
jamais se desgasta
nunca será arranhada
sempre alguém irá se apaixonar
pelas suas sensuais curvas
pela sua pele morena
pelo seu doce balanço gilbertiano
que a cada instante se renova

Seja na praia de Copacabana
ou no alto do Cristo Redentor
sempre será vinicius musa
de um sonhador

Morena Bossa Nova
um nacional clamor
sua imagem não se enferruja
mesmo que a praia esteja imprópria
esteja suja
eu sempre serei fiel coruja
o tempo passa
e eu vou lhe amar cada vez mais

Morena Bossa Nova
sua imagem se perpetua
nos calçadões avenidas e ruas
por onde você passar
sempre há de causar
congestionamentos de sentimentos
porque sabe como nenhuma outra
usar o charme do Tom Maior.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

VeLeJaR


PASTILHA DE HORTELÃ

Quem viver verá!
Eu disse ao meu amigo:
um dia...não sei quando ...eu vou me declarar
e ele dizia não faça isso
você vai se machucar muito
porque ela nem sabe que você existe.
Ele tinha razão ,baby - que aperto no coração concordar.
Eu era apenas um admirador
daquela garota linda em forma de flor
dona de dentes perfeitos e um sorriso sedutor
que todas as manhãs, na hora do recreio,
em meio a tanta gente e algazarra,
comprava , na cantina, pastilhas de hortelã,
enquanto eu, meio escondido, era apenas um garoto bobo, baby
que no afã de demonstrar o meu amor
sonhava pelo menos ser uma pastilha e provar os teus lábios, baby
Quem viver verá!
Eu disse, confidenciei a alguns amigos:
Um dia.. não sei quando...eu vou me declarar...
Passaram muitos anos...
muitos passos...caminhos...atalhos...labirintos...
e ficou o nó na garganta
na garganta seca desprovida de qualquer pastilha de hortelã
para refrescar como a brisa da manhã
até que eu lhe encontrasse, baby, da forma mais inusitada
numa tela de computador
numa página com poucas pistas
e difícil acesso,
mas dessa vez, não teve jeito, baby
você que eu conheci aparência e moldura,
mas que deve abrigar também denso e lindo conteúdo
agora sabe que eu fiz de tudo
para um dia me declarar.

EXALTAÇÃO


Minha Vida é a Rua onde eu ando

poematização de uma frase de Bob Dylan


Se me perguntam por que estou aqui
Eu simplesmente respondo
Porque aqui é o único lugar no momento que disponho
Amanhã pode ser diferente
como pode ser também que não seja amanhã
Minha vida é a rua onde eu ando
o cruzamento de pessoas estranhas
os tropeços sobre as latas de lixo
a ansiedade de encontrar alguma coisa de valor
e a necessidade de valorizar o que ainda não temNão amigo, definitivamente, não
nesses tempos difíceis de múltiplas crises
não convém desprezar nada
Ninguém sabe do amanhã
que só existe para quem sabe superar hoje
Minha vida é a rua onde eu ando
e o meu amor por ela resistirá até quando
eu sentir prazer em caminhar
Hoje mesmo encontrei alguém que estava garimpando uma lata de lixo
Ele comentou comigo que o lixo era rico
quase sem nenhuma impureza
e para minha surpresa
me convidou para provar o banquete
eu estava sem fome
todavia com necessidade de conversar
de encontrar um amigo
Não lhe perguntei por que estava aqui
Certamente é mais um como eu
que caminha cumpre o seu papel
explora o seu destino
Minha vida é a rua onde eu ando.

domingo, 6 de janeiro de 2008

SEDUÇÂO


O Vaso e a Flor

Há um caso
entre um vaso
e uma flor
Um estranho caso de amor
No seu corpo de argila
recheado de terra
o vaso envolve a flor
como se fôsse apenas sua
Mudo tolo nem consegue ver
a abelha que constantemente
suga a amada flor
absorvendo seu saboroso néctar
Mas a flor não tem culpa do seu encanto
e plantada se desculpa
no núcleo dessa minúscula ilha
O vaso segura enraiza
mas não sabe que nem tudo se escraviza
O beija-flor ama a liberdade
estático no ar
desafia a fidelidade
das flores com ou sem vasos
dos casos sem fim.
Há um caso
entre eu e o jardim
Estranho caso
de amor sem fim
Os meus olhos
procuram brancas margaridas
mas a vida é repleta de caprichos
então
procuro a rosa
e encontro a dor em seus espinhos
Sonho acácias
alvos cachos
luz da ternura
e desperto
em tensos crisântemos
Entre tantas flores que temos
e podemos ter
na verdade procuro uma
que exale o seu exato perfume
O aroma da saudade envolve o meu ser
Na áspera cidade procuro colher
qual um paciente jardineiro
essa flor do campo que é você.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Casa Noturna


Sem Você

Eu sem você
sou qual uma estante sem livros
livros sem lombadas
sem orelhas
sem páginas
sem letras
sem conteúdo
sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas página virada
uma frase interrompida
uma emoção contida
um desejo frustrado
um ponto perdido
num parágrafo desviado
Sem você
sem você eu não sou nada
sou apenas uma tentativa de romance
uma personagem abortada
uma novela sem trama
um conto sem surpresa
um poema sem sentido
um ensaio sobre o fracasso
nada mais
sem você.

.

São Luis

São Luis
que eu quis
fazer de ti minha morada
derradeira pousada
convergência de árduos caminhos
penosa jornada
sedutora cilada.

São Luis
e suas líricas ladeiras
e seus convidativos gradis rendilhados
-atrativos marcos presentes do passado-
que, muitas vezes,
neles eu quis debruçar-me
e deixar que o tempo
-senhor das horas, penhor dos momentos-
resolvesse os meus problemas
revolvesse os meus sentimentos e dilemas
e, devolvesse a serenidade
com a mesma perícia
que a vela investe, aberta,
contra os ventos

São Luis
sutil sentido de existência
que nos sublima acima
ladeira ladeira
abaixo

São Luis
que eu quis
fazer de ti minha morada
para ouvir
o som das chuvas
acariciando as vidraças
para ouvir
o galo nas madrugadas
e polir os azulejos
de uma existência pálida
e restituir
qual um lampejo em noite cálida
os contornos misteriosos
dos caminhos
-arabescos adormecidos
imantados
de pedras, pétalas e espinhos.

São Luis
sutil sentido de existência
que nos sublima
acima
ladeira ladeira
abaixo

São Luis
com suas ruínas e rastros
que tão bem Arlete Machado descreveu
em Litânea da Velha
com os olhos de sábia mendinga
que não pede nada além
do que respeito ao passado.

São Luis
de Gonçalves Dias
Bandeira Tribuzzi
Josué Montelo
e Ferreira Gullar
que eu quis explorar
e, procurar em ti
a minha identidade sem ser ludovicence
e que me acolheste
com plena solidariedade
como se fôsse seu próprio e até pródigo filho,
dando-me calor, tranquilidade
e todo seu intenso e fulgurante brilho

São Luis
é mais do que uma ilha
é uma trilha de sonhos
onde brilha
em suas praias, largos, terreiros , arraiais e casarões
o encanto de viver
que não se dissipa jamais.


dedicado a Ferreira Gullar


Morei dois anos em São Luis do Maranhão e senti a sensação de morar em um casarão repleto de lembranças.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

FESTA


Composição

para Zilia

Desejo
suor e carvão
sobre uma folha de papel
a fiel transposição
de toda a emoção
e a pressa de viver
em pacto
do impacto
de um sincero coração
Sombras
espaços vazios - lacunas
intervalos - colunas
planos em relevo
linhas ocultas
que se revezam
e se revelam
em carretéis de sonhos
em contraposição
manchas porosidade
rostos ásperos
semblantes de pedras
mosaicos talhados
pela força do desejo
pelas gotas de suor
despejadas pela resignação
e retidas pelo linho
na combustão do carvão.

LIVRE PARA VOAR


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Cartografia Intíma do Ser

Camadas de lembranças
Superpostas
Expostas ao arrependimento
A sete palmos da terra
por medos ou constrangimentos
por camadas espêssas de aço
dos nervos à flor da pele
ou cimento dos olhos espavoridos
ou qualquer outro componente
corrente dormente
Cartografia intíma do ser
Como traçar um mapa memorialista
num só plano concreto?
Como mapear todos os caminhos seguidos
todos os passos pedras percalços e abismos
sob o vento implacável do tempo
sobre o deserto e a aglomeração
de um ser complexo
Cartografia intíma do ser
relevos de memórias
montanhas solitárias
vales de lágrimas
represas de desejos
latitudes e longitudes de um ser
Geografia de uma vida
seus cursos e recursos
materiais e abstratos
naturais e artificiais
suas circunstâncias
seus rios lagos mares oceanos
suas pontes
fixas e suspensas
suas protuberâncias
suas fontes de inspiração
Cartografia intíma do ser
veias músculos correntes sanghíneaas
pulsando correndo vazando
cachoeira de sangue lágrimas fezes mangue
revelando a complexidade da vida
com suas sementes de amor e de ódio
com suas flores do bem e do mal
com suas pétalas e seus espinhos
Cansaço Fadiga
crepúsculo dos músculos
contorcidas muralhas
Fim dos movimentos
Esgotamento dos nervos
Abismo de ânimos
Aniquilamento
gradual lento
perversamente solitário
Sonhos arruínados
Fantasmas desesperados do próprio ser
buracos cavidades cavernas estalactites
marcas invisíveis sombras involuntárias
na utopia de ser transparente
translúcido e transcendente.

Salve