terça-feira, 27 de julho de 2010

Quarto do Zozó

Entre e arrebente a porta do meu quarto sem dó
no meu quarto que compete com o do Zozó
pura bagunça pafúncia que rola mais que o barril do Chaves
Isso me lembra que eu não tenho chaves para não esquecê-las
Isso! Isso! Isso!
Os meus planos mais furados do que queijo suiço
Não tenho chaves
Não sou submisso
só tento dar sumiço na solidão
para deixar entrar todos os insetos e afetos
de pessoas próximas ou estranhas
de todos os fantasmas que se soltaram das frias paredes
Entre não repare
na bagunça nos objetos espalhados
cds deslizam sobre o tapete e folhas soltas envoltas de poeira
livros brigam dentro da estante
Saramago procura o seu imponente óculos
Fernando Pessoa procura o seu chapéu e o seu maço de cigarros
além dos seus heterônimos
Kafka procura o seu casaco e uma forma de esconder as suas orelhas
Hilda Hilst procura novos sinônimos e vozes do além
para compor novos poemas
Entre os livros um saco de plástico ordinário
esconde um lanche esquecido esverdeado
não reclame estante desse objeto indesejado
há muitas que não guardam um livro sequer
Entre sem bater ou faça o maior estardalhaço
adoro mágicos malabaristas e palhaços
a vida é mesmo um circo
e o meu quarto é uma extensão
roupas pelo chão meias amarradas ao pé da cama
tênis envoltos nas nuvens do talco que espanta o chulé
junto com um estúpido avião de plástico que tem medo de voar
veja a minha manta escocesa
que não me pinica e quanta mais velha fica mais aconchegante
e sabe esconder os meus sonhos docemente eróticos
Cadê a velha pick up
vamoa ouvir um velho vinil de Dylan
Que tal Empire Burlesque
Achei uma nota de cinquenta empoeirada na calçada apertada e movimentada
podemos degustar uma pizza daquelas
que a muzzarella estica mais que o elástico do estilingue anti-pássaros
regarmos sobre ela muito azeite
aceite esta taça de vinho! olhe a cor rubi
sinta o gosto de frutas silvestres
me olhe com ternura
assim o sonho dura e desmancha as nossas pedras
Entre não repare a bagunça
depois alguém arruma...
deixe assim mesmo
asim eu não me sinto tão só!
eu e o meu quarto mais bagunçado
do que o quarto do Zozó!


Carlos Gutierrez

Charleston

Charleston

Desejos não se proíbem
apenas exaltam-se
e embaralham todos os sentidos
como um charleston frenético
que dançam nos olhos de um soldado
que se desespera em enfrentar a primeira
e talvez a ultima guerra...
um desejo não se encerra
pode ser inibido
espremido diluído no gangster whisky
ouro líquido que evapora nos dias e noites
de Lei Seca de confrontos e traições...
Um desejo só um desejo não traí a si mesmo...
e o charleston eufórico perdoa todos os abstémios...
O charleston termina no salão
mas em quantos cérebros ainda gira
suspira e inspira
pálpebras cinzentas das bailarinas
dançarinas da noite que Degas não pode retratar
saem exaustas segurando uma nas outras...
misturando perfumes brincos tiaras piteiras e
toda sorte de presentes oferecidos por homens
que já nem lembra mais...
assim é o charleston
um salto sempre a frente
como se o futuro só o futuro poderia trazer o melhor presente...
subir as escadarias
como se subisse nas nuvens
morder a maçã com a fome de Eva
tudo que leva aos extremos
o fogo de um ardente beijo
ou a neve que escorre de um gelado olhar...
assim é o charleston
que faz girar copos solitários
e vulneráveis candelabros
que fazem gritar mudas cadeiras...
O charleston faz esquecer...esquecer...
todas as depressões o impiedoso 29
e famigerados macartismos
o charleston faz delirar e
desequilibrar todos os sentidos
como um brinquedo insólito nas mãos de um menino
que não conhece as suas engrenagens
e o trata como se fosse um passarinho
voando tão livremente
O charleston é isso o preservar da juventude
ter ciência da ridicularidade e
tentando a transformar em virtude...

Carlos Gutierrez

sábado, 24 de julho de 2010

Para Meus Maiores Medos

Sinto o mundo desabar,
Não sobre mim,
Estou apenas a observar.

Onde estou, nada alcança,
Deixei as conseqüências ao material,
Carrego minha mente a outro espaço,
Longe daqui, longe de mim.

Não quero estar ou ser,
Não quero crer que pude errar,
Ordeno que cegue-me.

Quebra de comportamento,
Desvio de conduta,
Às vezes significativo, às vezes demolidor.

Como escolher às cegas?
Como prever?
Saída da linha.. saí.
Arrisquei.. e aqui não quero estar.

Por favor, leve-me,
Para onde não há tempo que alcance,
Onde choro virava sorriso,
Leve-me onde haja sombra,
Fim da linha.

O medo em mim procria
Medo de perda, falha,
Medo dos medos se tornarem reais.

Meus pavores,
Meu desejo de livrar-me do sofrimento,
Apenas afundou-me mais.

E agora? Para onde vou?
Deixo minha mente distante,
Rezo por paciência
E aqui não quero estar.
Se não houver solução,
De meu exílio não voltarei..

Mariah Boratto;

Old Tmes News Emotions

I'm still that envy jeans
long ago
arriving starched and clumsy
cutting and traditional model
basic five-pocket
and gold rivets
beyond the push-button
the jeans ... the jeans ...
that the more one uses and washes
in the rain on the rocks
or tank rough house
become more comfortable
dress and look
I'm still the blue hue
indigo blue
that the more it fades
dispute and legs
to hide the boots
paths ending
Adventures desolate or rewarding
becomes more attractive and regenerator
pain after a fall
or smile after a jump out of my mind
what a hot bath
in the chambers of a Saloom
even outside of a hot tub
apparatus with a rustic bush soft
still loaded with black seeds
lint in their dense interiors
that eliminate all the toxins and
impurities from the skin of recent long trails
and permeate into our skins
perfumes landscape we leave behind
I am yet to air cafeteria with rebels
noisy and effervescent
the mozzarella stretching into the snack
enticing the palate and teeth
in contrast to the gum delusional
inside your mouth irreverent
which makes source
the stone of my greatest desire
I am in too much pepper in their eyes innocent
Tipping in your ears
desires more ulterior and pressing
I'm still the straw that sucks the milk shake
to satisfy the greed that strangles
a desire unresolved
'm Spreading gooseberry
on ice
and mimics the blood of a poet
which freezes
when it comes face to face with his beloved muse
and just screams with his hazel eyes
the hot plate that is on your side
steamy
challenging the hands of lunchboxes and the bartender
I'm the napkin absorbs the grease
the kiss of yellow mustard
the salivas lewd headquarters hungers and desires
mingling of the red lipstick
you wear your lips
I am the paradox of youth
the unbeliever and the orthodox
attitudes and antics
all greed and try to live every second
the desire to be free
while passionate
Break away or be grasped
I'm the plug when I have no money
clips the culprit who deceives Junk Box
and offers the most romantic song!




Carlos Gutierrez

domingo, 18 de julho de 2010

Debra Killings - Love

EsperanzaSpalding.AVI -"Jazz Ain't Nothin' but Soul"

LARGADO

LARGADO
DE UM LADO PARA OUTRO ODAL
LADOS DE UM QUADRADO
E DE UMA FIGURA OVAL
COMO UM LAGO
LARGADO
ALAGADO DE AFAGOS
DE PEDRAS DE DESEJOS
E SÚBITOS SUÍCIDIOS
LARGADO
RODEADO DE ESPINHOS
NO JARDIM DA SOLIDÃO
LARGADO
NOS LAPSOS DO TEMPO
NOS COLAPSOS DOS TORMENTOS
NOS LEITOS DAS RUAS
NAS SARJETAS
NAS BOCAS DE LOBOS ENTUPIDAS
LARGADO ENTRE RESÍDUOS
LAR...GA...DO
FAMIGERADO DESÍGNIO
DE UM OSSO SEM DESTINO
NA BOCA DE UM CÃO VADIO
LARGADO
SEM COLEIRA
SEM EIRA NEM BEIRA
NO RELENTO
SOFRENDO O FRIO E O VENTO
QUE DESARRUMA AS SUAS ORELHAS

Carlos Gutierrez

sábado, 17 de julho de 2010

SAMPA

Sampa
que destampa
uma garoa boa
que escoa
uma inédita emoção
na velha e desequilibrada São João
que acolhe beldades e barangas
raridades e bujigangas
e abraça a Ipiranga
sem nenhum pudor
Sampa
percorro suas ruas e rampas
lembro versos de Bárbara
e o meu coração dispara
quando os meus olhos reparam
as esquinas do passado
Sampa que arranca
do meu peito
 um coração machucado
esfolado pelo automóvel tresloucado
que ousou desafiar o seu trânsito
Sampa
que destampa
em cada boteco
uma garrafa de líquidos versos
acompanhadas de petiscos
que preenchem
os interstícios
das nossas vidas
com aromas
de jovens flores
e recentes amores
Sampa
que no seu jardim concreto
consegue realizar
os meus sonhos mais secretos
os meus desejos mais indiscretos
e refresca a minha cuca
pois nela só se ocupa
da minha inocente imaginação


Carlos Gutierrez

Arnaldo Antunes: ÁTOMO DIVISÍVEL

Arnaldo Antunes: ÁTOMO DIVISÍVEL

The Byrds - It's All Over Now, Baby Blue (1969 version)

Sangue Suor e Lágrimas

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Segredo de Jardim

Queria falar sobre flores;
Mas suas pétalas se foram, e com o vento toda sua essência.


Queria falar de alegrias;
Mas essas seguiram a essência de seu jardim.


Queria falar sobre amores;
Porém estes em seu jardim se secaram
Se foram mais ligeiro do que chegaram
E deles sobrou menos que as flores.
A essência se foi com os amores
E com ela as pétalas voaram
Lembranças e sofrimento
Foram as marcas que ficaram
Era mais que um desalento
Mais uma dessas coisas, que não saram.

Queria falar sobre o quê?
O jardim traduzia com o tempo
O que ela não sabia dizer.
Mesmo depois desse vento
Aquela ânsia de viver.
Sem essência, sem pétalas e sem medo,
Seu jardim lhe contava um segredo:
Está em todos a força do Renascer.

Laura Reis

Old Times New Emotions

Sou ainda aquele jeans invejado
de tempos atrás
que chegava engomado e desajeitado
de corte e modelo tradicionais
cinco bolsos básicos
e rebites dourados
além do botão de pressão
do jeans...do jeans...
que quanto mais se usa e se lava
na chuva nas pedras
ou no tanque áspero da casa
se torna mais confortável
de vestir e olhar
Eu ainda sou a tonalidade azul
índigo blue
que quanto mais se desbota
e disputa nas pernas
com o couro cru das botas
os caminhos sem fim
as aventuras desoladas ou gratificantes
mais se torna atraente e regenerador
depois da dor de uma queda
ou após o sorriso num salto sem juízo
qual um banho quente 
nos aposentos de um saloom
mesmo fora de um ofurô
com o aparato rústico de uma bucha macia
ainda carregada de sementes negras 
em seus densos fiapos interiores
que eliminam todas as toxinas  e
impurezas da pele recente de longas trilhas
e impregnam em nossas epidermes
perfumes de paisagem que deixamos para trás
Sou ainda aquela lanchonete com ares rebeldes
barulhenta e efervescente
a muzzarela esticando-se dentro do lanche
seduzindo o paladar e os dentes
em contraste com o chicletes delirante
dentro da sua boca irreverente
que se faz fonte
da pedra do meu maior desejo
Sou a pimenta em excesso em seus olhos inocentes
que derruba em seus ouvidos
os desejos mais inconfessos e prementes
Sou ainda o canudo que sorve o milk shake
para saciar a gula que estrangula
um desejo mal resolvido
Sou a groselha  que se espalha 
sobre o sorvete
e imita o sangue de um poeta
que se congela
quando fica frente a frente com a sua musa amada
e apenas grita com os seus olhos embaçados
pela chapa quente que está ao seu lado
fumegante
desafiando as mãos do lancheiro e da garçonete
Sou o guardanapo que absorve a gordura
o beijo amarelo da mostarda
as salivas lascivas  de sedes fomes e vontades
de misturarem-se  ao batom vermelho
que veste os seus lábios
Sou o paradoxo da juventude
o descrente e o ortodoxo
as atitudes e as extravagâncias
toda a ganância de viver e provar cada segundo
o desejo de ser livre
e ao mesmo tempo apaixonado
Desgarrar-se ou ser agarrado
Sou a ficha ou quando não tenho grana
o clips culpado que engana o Junk Box
e lhe oferece a mais romântica canção!




Carlos Gutierrez




 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Melancolia

A chuva fria
intermitente
a rua vazia
a pele cinza dos paralelepípedos
as poças d'água
espelhos líquidos
o meu quarto sombrio
apenas iluminado
por uma luz amarela vadia
gerada por uma lâmpada
quase esgotada
Saudades do que eu jamais fui
e poderia ser
tento ler...mas as lentes estão vencidas...
enquanto a chuva fria
não deixa as telhas em paz
tudo traz melancolia...
a ducha fria
sobre os pensamentos quentes
e desejos ainda ardentes...
dormir ...dormir...
bem que essa noite poderia ser diferente...
sem a sombra de um aborrecido despertar!


Carlos Gutierrez

Paulo Moura - Doce De Côco - Kaiser Bock Winter Festival - SP - 1997

Paulo Moura

Paulo Moura (1932–2010)

Uma forte rajada sobre a cidade do Rio de Janeiro anunciava à noite o desfecho de uma lenta agonia...

No sábado, dia 10 de julho, Paulo Moura ainda conseguiu reunir forças para tocar uma última música – "Doce de Côco", de Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho – com seu parceiro de longa data Wagner Tiso, ao lado de sua mulher Halina, o filho Domingos, o sobrinho Gabriel, amigos e admiradores, e alguns pacientes da Clínica São Vicente, maravilhados com aquela inusitada e comovente celebração musical, organizada pelos músicos Cliff Korman e Humberto Araújo.

Uma réstia de sol fazia da exuberante folhagem de jaqueiras um cintilante cenário para a varanda do hospital. O maestro, sereno e sorridente, vestia uma camisa azul e cobria as pernas inchadas e inertes com um manto púpura.
Lembrei-me da última estrofe de um poema que lhe dediquei alguns anos atrás, homenagem diminuta e insuficiente frente à imensa alegria que sua música me proporcionara e ao doce convívio que tive o privilégio de gozar:

mistura e manda
o maestro
pra lá
das bandas
do rio
preto:
aéreo conduz
e sopra
por onde zoar
o pássaro azul
púrpura

Ele se foi na calada da noite, sua memória, no entanto, não há de se calar jamais em nossos corações e ouvidos. Paulo Moura não passou, não passará: virou pássaro alvissareiro... para todos e para sempre.

André Vallias
Rio, 13 de julho de 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Revisão e Releitura

Cada vez que eu lhe vejo
lhe percebo mais
Cada revisão
Cada releitura
captura um encanto a mais
como esse colete lilás
ou esse jeans maravilhoso
que veste de azul
como uma afável segunda pele
e traz segredos em forma de ilhós
e outros apetrechos mais
Cada vez que eu lhe vejo
mais me convenço do seu rosto perfeito
do seu sorriso que me deixa sem jeito
que me deixa de queixo caído
entre as brilhantes madeixas
dos seus cabelos compridos...
Cada vez que eu lhe vejo
parece que uma aventura começa
Cada vez que eu leio os seus olhos
esqueço de toda pressa
e sempre retorno na página inicial
na folha de rosto do seu livro
que conquistou a cabeceira...
quando se abre me esclarece...
quando se fecha...
abre-se em sonhos !
a noite inteira


Carlos Gutierrez

domingo, 11 de julho de 2010

ESTAR

ESTAR
SEM ESTAR
MAL ESTAR
BEM ESTAR
MOLESTAR
BEM FICAR
ESTAR
COM O RESTO
RESTAR
ARRASTAR
APARAR AS ARESTAS
ESTAR SEM ESTAR
EM OUTRO LUGAR
DEVAGAR
DIVAGAR
SEM PRESSA
ENTRAR
ENXERTAR
COMPRESSA
ESTAR SEM SER NOTADO
CAMUFLADO
LATENTE
INDIFERENTE
ESTAR AO SEU LADO
SEM QUE EU ENTRE
FORA DE MIM
FORA DA LEI
ASSIM...ASSIM...
INESPERADO...
COMO ALGUÉM
QUE FICA APAIXONADO
ESTAR LIVRE
APRISIONADO NUM DESEJO
ESTAR...ESTAR...
NO ENSEJO
ENTRE A PAREDE E O AZULEJO


Carlos Gutierrez

Sol ouço - Arnaldo Antunes (DVD Nome, 1993)

Arnaldo Antunes: Sol ouço - Arnaldo Antunes (DVD Nome, 1993)

Arnaldo Antunes: Sol ouço - Arnaldo Antunes (DVD Nome, 1993)

Arnaldo Antunes: GERA

Arnaldo Antunes: GERA

sábado, 10 de julho de 2010

Nando Reis - All Star

VISIT

I came to visit him
My timid finger hesitates
to ring the bell
maybe you're still sleeping
within a dream ...
I think I arrived too early
or too late ...
but in a delirious outburst
my other hand turns the doorknob
unexpected as a thief ...
I came to visit him
without any pretext without some cardboard
no flowers in my hands ...
just my legs trembling
and my verses scattered
I came to visit him
be hanged by his scarf
or find redemption in her violet scarf
came to admireher beautiful face 
your good taste
 your smiletheir accessories 
because nothing in you 
superfluous and passenger or provisional


Carlos Gutierrez

Socorro - Arnaldo Antunes

LAGARTIXA

LAGARTIXA

Um corpo que são dois
um antes outro depois
Lagartixa
se encolhe e se espicha
e nem se lixa
com os sarcasmos alheios
não se lixa
se já não sabe onde é cauda ou cabeça
se avança ou recua
degenerada regeneração
caminha sempre prá frente
emendada
remendada
quase sempre rente
encostada em guias definidas e indefinidas
como se essa postura a protegesse
Lagartixa
um corpo que são dois
sempre quentes
que queimam sempre
como se previssem
o momento premente da fusão
Atração e repulsão
dois ímãs em permanente colisão
Cortes profundos
incisão
Marcas Feridas em profusão
Cortamos quantos planos e impulsos?
e quantas vezes lagartixeamos tudo?
Recortamos lembranças
Colamos em nossas retinas lindas paisagens
e em nossos lábios beijos sábios de desejos
Juntamos os nossos cacos
e petrificamos o que não há mais como aderir
sem ferir o que somos...
e lagar...tixeamos de vez


Carlos Gutierrez

Salgado

contanto que me traga
de volta
aquele Abril
maio
quantas raposas famintas
deixou?
"todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo..."
azulejos azuis
colocou em minha sala
vasta
vazia...
foi embora com dias
calorosos
serenos e cheios de
brutas mãos
vá-te embora então
saia antes que minhas mãos
queimem tua alma
sadia, santa.
cala minha boca com
flores, então.
já que tua boca não vive mais aqui
pra calar-me.

Bruna Moraes

FOLHA

FOLHA

FOLHA
FALHA
SEM ESCOLHA
FARFALHA
E ESPALHA
UM SILENCIO
QUE ATRAPALHA
FOLHA
FOGO DE PALHA
QUE NÃO FOI FLOR
E NEM SERÁ SEMENTE
SOMENTE
UMA CEGA NAVALHA
LUTANDO CONTRA O VENTO
FOLHA
SEM ESCOLHA
QUE CAÍ
DESCE DA ÁRVORE
ENCOSTA NO SOLO
DEITA NA TERRA
E JAZ NA SERRA
DE UMA FORMIGA
FOLHA
QUE FOLHEIA
ALHEIA
O INVISÍVEL ESPAÇO
FOLHA
DESFOLHA
SALTA COMO ROLHA
DE UMA CHAMPANHA
QUE APANHA
A EMOÇÃO DE UM EUFÓRICO MOMENTO
FOLHA AO SABOR DO VENTO
FENECE RESSECADA
PISOTEADA
NA TERRA OU NA CALÇADA
OU AINDA NO ASFALTO QUENTE
NO RASTRO DE UM PNEU AUSENTE


Carlos Gutierrez

Salve