sábado, 8 de outubro de 2011

Cildo

Cildo
instala
instaura
contemporaneidade
percebe lugares
atravessa paisagens
contrói catedrais
com hóstias ossos e moedas
Espalha o seu sangue poeta
em seu desvio vermelho
tinge de rubro
os móveis
os aparelhos domésticos
a linha branca
os bens duráveis e descartáveis
os aparelho que brincamos
e os que nos provocam medos
Tinge de vermelho
Infringe escarlate
pálidos conceitos
Tinge de vermelho
todos os ambientes
nem     os espelhos escapam
e das torneiras emotivas
jorra o líquido vermelho
tão vermelho como um Campari
ou a capa de um toureiro
em seu particular e cruel safari
Cildo despeja sal
sem carne
despeja o cal
que calcifica a alma
Cildo instala redes
protege as suas novas amigas:
bolas de borracha mudas
mas saltitantes e elásticas
que se espalham aleatórias
sobre os mais diferentes pisos
ora no mármore de Carrara
destinado aos pés da rainha
ora no frio cimento da garagem
ou da calçada
que sepultou algumas moedas
e declarações quase sempre inúteis
ora no piso de madeira
ensebado de cera
que um dia já foi uma pista de boliche
e hoje se entrega ao fetiche
de ver as dançarinas
com as suas suaves sapatilhas
escorregarem
ora na grama
ou no capim rebelde
que um dia sonhou ser
um campo de golfe
ora na cabeça de uma formiga
que não teve a menor chance
Cildo
capta o momento
o barbante instante
para ser um malabarista do tempo
esquecer que está esfomeado
atolado de tolos compromissos
submissos aos trabalhos
que não lhe proporcionam nenhum prazer
para nutrir os seus pensamentos
com as suas doces lembranças
e não perceber
quando lhe ver e ser hipnotizado
o futuro o presente e o passado
ser o esmalte nas unhas dos seus dedos
ser o batom na superfície húmida dos seus lábios
ser uma gota de sangue
que rolou sobre a sua face
após um descuidado fecho 
em seu brinco delicado




Carlos Gutierrez


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