sábado, 10 de dezembro de 2011

Fogueiras

Fogueiras
como fazê-las
torná-las toleráveis
e até mesmo aconchegantes
fagueiras
como se fôssem lareiras
Fazê-las
com folhas novas recentes verdes
junto com folhas velhas ressecadas
e misturadas em madeiras várias
novas e antigas
polidas e estragadas
que foram adoradas
por mãos e espanadores
lustras-móveis
poliflores
ou sofreram machadadas
ou invasões de insetos
formigas cupins e outros afins
madeiras
de afetos e fétidas
maciças compensadas ou em lascas
ripas
raízes troncos galhos
tripas das árvores
lisas rugosas
gravetos forquilhas
pedaços que já foram mobílias
encaixes depósitos
baús rústicos cofres
cavalinhos de pau
ou rodos vassouras cabos de enxada
e rastelos
feixes mastros paus de sebo
varetas de pipas
Fogueiras
como fazê-las  aromáticas
com papéis de todas as espécies
caros ou baratos
de pão de jornal de embrulho
de sulfite de linho de seda
papéis em branco virgens
papéis riscados rasgados
amassados
manchados de tintas
suores noturnos
lágrimas de sonhos
borrões respingos
gotas de perfumes
pistas de orvalhos
lascas de esmaltes vencidos
Fogueiras
como uma intrépida
Maria Fumaça
o fazê-las fagueiras
como fagulhas
que lembrem espetáculos
passagens de anos novos
e circos místicos
que lembrem
lampejos pirotécnicos
fumaça branca de papa
fumaça densa e alegre de uma intrépida 
Maria Fumaça
Combustão aromática
defumagens de paisagens
lascas de árvores perfumadas
sândalos vândalos na floresta
pedaços de metais
de vidros
de porcelanas chinesas
ind evidos
mas que estavam por algum motivo
retidos no chão da terra
assim como pregos e parafusos solitários
arruelas perdidas
pedaços de arame contorcidos
que fugiram das cercas
talvez pela própria ferrugem
Ação do tempo
fuligens
Fogueiras
como fazê-las
sem as tornarem agressivas
abrasivas de intrigas
com madeiras papéis
vencidos esquecidos
nem lidos
jogados
revirados
papéis rapidamente tragados pelo fogo
pelo jogo e jugo impiedoso das labaredas
Queima de arquivos
mortos e móveis
Papéis carbonizados
agonizados em chamas
que viram cinzas
e depois se resfriam
dissolvidas
em córregos rios poças d'água
que as levam sem mágoas
sem saber jamais
o que estava e o que não estava
escrito
tão pouco as suas entrelinhas
Fogueira como fazê-las
acrescentar aos papéis e madeiras
penas dispersas de aves
lembranças de voo
penas de pássaros
pedaços de ninhos
asas de cigarrras
que já não cantam mais
varetas de bambu
metais
ferro alumínio
folhas de flandres
caixas Tetrapak
pedaços de canela
alguns cravos
de temperos e lapelas
pétalas e pólem
beijos doces de abelhas
para tornar
a fogueira mais aromática
e impregnar a roupa
e a pele do corpo
com o seu perfume mágico
Fogueiras
para fazê-las tudo é válido
papéis madeiras penas
carvões tecidos
e cascas de frutas
longas de laranjas
doces e ácidas
c urtas de bananas
cascas moles ou duras
de castanhas ou cerejas
caroços e sementes
pó de café
ervas
aditivos extras
fortes e suaves
querosene alcool
gasolina
latex de elásticos cansados
c lipes abertos enferrujados
que não precisam segurar mais nada
grampos que sonharam ser grilos
tabaco
E para atiçar mais o fogo
e manter as brasas mais vivas
vermelhas
carismáticas aos sentidos
revirar acariciar a fogueira
com uma pá ou outro objeto
que improvise
e mantenha os aromas suspensos no ar
contra o espêsso e negro gás carbônico
Fogueiras
difícil mantê-las
difìcil extirpá-las
ainda mais quando elas crepitam
as nossas vaidades


Carlos Gutierrez 

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