terça-feira, 27 de julho de 2010

Charleston

Desejos não se proíbem
apenas exaltam-se
e embaralham todos os sentidos
como um charleston frenético
que dançam nos olhos de um soldado
que se desespera em enfrentar a primeira
e talvez a ultima guerra...
um desejo não se encerra
pode ser inibido
espremido diluído no gangster whisky
ouro líquido que evapora nos dias e noites
de Lei Seca de confrontos e traições...
Um desejo só um desejo não traí a si mesmo...
e o charleston eufórico perdoa todos os abstémios...
O charleston termina no salão
mas em quantos cérebros ainda gira
suspira e inspira
pálpebras cinzentas das bailarinas
dançarinas da noite que Degas não pode retratar
saem exaustas segurando uma nas outras...
misturando perfumes brincos tiaras piteiras e
toda sorte de presentes oferecidos por homens
que já nem lembra mais...
assim é o charleston
um salto sempre a frente
como se o futuro só o futuro poderia trazer o melhor presente...
subir as escadarias
como se subisse nas nuvens
morder a maçã com a fome de Eva
tudo que leva aos extremos
o fogo de um ardente beijo
ou a neve que escorre de um gelado olhar...
assim é o charleston
que faz girar copos solitários
e vulneráveis candelabros
que fazem gritar mudas cadeiras...
O charleston faz esquecer...esquecer...
todas as depressões o impiedoso 29
e famigerados macartismos
o charleston faz delirar e
desequilibrar todos os sentidos
como um brinquedo insólito nas mãos de um menino
que não conhece as suas engrenagens
e o trata como se fosse um passarinho
voando tão livremente
O charleston é isso o preservar da juventude
ter ciência da ridicularidade e
tentando a transformar em virtude...

Carlos Gutierrez

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