sábado, 18 de julho de 2009

Escadas Quedas e Vertigens


A escada
em caracol
a preguiça
de subir
cada degrau
uma desculpa
para uma pausa
efeito e causa
falta o ar
o fôlego
o fogo súbito
de um incêndio
para obrigar
a fuga
o desespero
pular janelas
rasgar cortinas
fechar biombos
espumar extintores
fazer uma retrospectiva
uma rachadura
antes de virar escombro
dar os ombros
para o destino
esperar o assombro
do próximo segundo
duvidar de tudo
em cada degrau
mais me afundo
e em cada intervalo
sinto lacunas
olhar as colunas
as vigas-mestres
as vestes assustadas
com as labaredas
penduradas
em alquebrados cabides
ou jogadas ao chão
ou atiradas
sobre o espelho
que jamais
revida
e agride
apenas reflete
o que nele incide
atirar os vasos
as lembranças de pétalas
liberar aromas
incensos voláteis
na redoma concreta
da insuportável casa
olhar o lustre
o embuste de luzes
apagar os interruptores
ficar escuro
sonhar atravessar as paredes
e pular os muros
desafiar as ruas
os automóveis
os transeuntes
tudo que se ajunte
ou se disperse
o osso duro
que o cão lambe
deliciosamente
a poça translúcida
que faz recordar
a recente chuva
e refrescar
o pássaro longíquo
a atitude de tentar
a plenitude
desprezar as quedas
e não temer vertigens
a atitude
a virtude
de não sucumbir
à decadência
à falência dos sentidos
o beijo espremido
num guardanapo retorcido
a lágrima
que rola escondida
sobre uma face
que procura o disfarçe
de um lenço
sofrer a sua influência
a sua ausência
saber que a sua aderência
é eterna!

Um comentário:

Desirée Gomes disse...

Figuras, imagens e cenários. Gostei bastante da nova escrita, tudo bem mais visível. Muito bom!

Salve