sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

São Luis

São Luis
que eu quis
fazer de ti minha morada
derradeira pousada
convergência de árduos caminhos
penosa jornada
sedutora cilada.

São Luis
e suas líricas ladeiras
e seus convidativos gradis rendilhados
-atrativos marcos presentes do passado-
que, muitas vezes,
neles eu quis debruçar-me
e deixar que o tempo
-senhor das horas, penhor dos momentos-
resolvesse os meus problemas
revolvesse os meus sentimentos e dilemas
e, devolvesse a serenidade
com a mesma perícia
que a vela investe, aberta,
contra os ventos

São Luis
sutil sentido de existência
que nos sublima acima
ladeira ladeira
abaixo

São Luis
que eu quis
fazer de ti minha morada
para ouvir
o som das chuvas
acariciando as vidraças
para ouvir
o galo nas madrugadas
e polir os azulejos
de uma existência pálida
e restituir
qual um lampejo em noite cálida
os contornos misteriosos
dos caminhos
-arabescos adormecidos
imantados
de pedras, pétalas e espinhos.

São Luis
sutil sentido de existência
que nos sublima
acima
ladeira ladeira
abaixo

São Luis
com suas ruínas e rastros
que tão bem Arlete Machado descreveu
em Litânea da Velha
com os olhos de sábia mendinga
que não pede nada além
do que respeito ao passado.

São Luis
de Gonçalves Dias
Bandeira Tribuzzi
Josué Montelo
e Ferreira Gullar
que eu quis explorar
e, procurar em ti
a minha identidade sem ser ludovicence
e que me acolheste
com plena solidariedade
como se fôsse seu próprio e até pródigo filho,
dando-me calor, tranquilidade
e todo seu intenso e fulgurante brilho

São Luis
é mais do que uma ilha
é uma trilha de sonhos
onde brilha
em suas praias, largos, terreiros , arraiais e casarões
o encanto de viver
que não se dissipa jamais.


dedicado a Ferreira Gullar


Morei dois anos em São Luis do Maranhão e senti a sensação de morar em um casarão repleto de lembranças.

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Salve