quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Santiago

Há uma cidade estranha
onde habito
uma cidade linda
formosa
povoada por árvores frondosas
casas e edifícios imponentes
linhas arquitetônicas arrojadas
talhadas pelo tempo
uma linda cidade
salpicada de encantos
porém estranha...
todavia
intrusa e difusa me acompanha
concreta musa
de alma aparentemente deserta

Há uma cidade estranha
onde habito
e nela tento conservar
o hábito de silenciar-me
quando dentro de mim
se avulta o grito
a materializar
a angústia
o pavor infinito

Há um clima seco
na cidade estranha
onde habito
sinto na garganta
na pele nas mais profundas entranhas
a secura
que a fissura do tempo provoca

Há um apartamento estranho
onde habito
um lindo apartamento
localizado estrategicamente
em frente à cordilheira
um apartamento lindo
onde habito
repleto de comodidades
poderia até chamá-lo de lar
mas claro que não é
mas claro que é apenas
uma passageira morada
um efêmero repouso
para uma alma conturbada

Há uma nova situação
assimilação de novos hábitos
e perversas ausências
o choque do contraste
entre as aparências e transparências

É como se o tempo
aprisionasse no mesmo momento
o sofrimento de um feto
arrancado do útero abruptamente
e o encantamento de um ser
ao nascer lentamente

Há uma paisagem interior
dominando as janelas
seduzindo os meus olhos
sentinelas
vence-se o sono
mas jamais o sonho
que submitamente nos apodera
São outras árvores
outras flores
otras calles
otras personas
nuevas personagens

E há uma paisagem interior
desenhando-se
vagamente
dentro do meu peito
são linhas longas e ondulantes
atravessando
os becos sem saída
pulando os muros
desvendando os labirintos de Santiago
seu frio afago
congelando a minha memória
embaçando as minhas retinas
forjando o lago.


morei 6 meses em Santiago e senti o frio de verdade!

Um comentário:

Criação disse...

Adorei Carlos!!! Parabéns, muito bom gosto, te desejo muito sucesso.

Bjão

Salve